Publicado 13/07/2024 16:05
As exportações brasileiras para a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do País, caíram 37,6% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2023. Só no mês de junho, os embarques para o país vizinho encolheram 50,6%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O menor apetite argentino por produtos nacionais, porém, não impediu que o valor exportado pelo Brasil no primeiro semestre deste ano fosse o maior da série histórica. As receitas neste ano somaram US$ 167,6 bilhões até agora, superando o recorde da balança em igual período de 2023, de US$ 165,2 bilhões.
Em entrevista, o diretor de Planejamento e Inteligência Comercial do MDIC, Herlon Brandão, reconheceu que o mau momento econômico argentino prejudicou as exportações brasileiras, mas salientou que houve surpresas positivas com os embarques de outros itens e para outros destinos. Ele enumerou, por exemplo, o crescimento das exportações de petróleo, minério de ferro, açúcar e melaço e de celulose, que sustentaram as vendas recordes ao longo dos primeiros seis meses deste ano.
Parte significativa das perdas veio de setores ligados à indústria de transformação, segundo o MDIC. A exportação de peças e acessórios para veículos, por exemplo, caiu 26% em relação ao ano passado. No segmento de automóveis de passeio, a queda foi de 14%. Também houve recuos importantes nas exportações de motores de pistão e suas partes (-24%), máquinas e aparelhos elétricos (-12%), calçados (-29%) e pneus (-36%).
O item que mais deixou de ser exportado na comparação com 2023, porém, foi a soja, cujos embarques recuaram 96%, uma perda de US$ 1,49 bilhão, segundo o MDIC. O movimento refletiu a normalização da produção da soja argentina, que sofreu com eventos climáticos adversos no ano passado, o que forçou o país a importar a commodity do Brasil.
‘FATOR MILEI’
PublicidadeO menor apetite argentino por produtos nacionais, porém, não impediu que o valor exportado pelo Brasil no primeiro semestre deste ano fosse o maior da série histórica. As receitas neste ano somaram US$ 167,6 bilhões até agora, superando o recorde da balança em igual período de 2023, de US$ 165,2 bilhões.
Em entrevista, o diretor de Planejamento e Inteligência Comercial do MDIC, Herlon Brandão, reconheceu que o mau momento econômico argentino prejudicou as exportações brasileiras, mas salientou que houve surpresas positivas com os embarques de outros itens e para outros destinos. Ele enumerou, por exemplo, o crescimento das exportações de petróleo, minério de ferro, açúcar e melaço e de celulose, que sustentaram as vendas recordes ao longo dos primeiros seis meses deste ano.
Parte significativa das perdas veio de setores ligados à indústria de transformação, segundo o MDIC. A exportação de peças e acessórios para veículos, por exemplo, caiu 26% em relação ao ano passado. No segmento de automóveis de passeio, a queda foi de 14%. Também houve recuos importantes nas exportações de motores de pistão e suas partes (-24%), máquinas e aparelhos elétricos (-12%), calçados (-29%) e pneus (-36%).
O item que mais deixou de ser exportado na comparação com 2023, porém, foi a soja, cujos embarques recuaram 96%, uma perda de US$ 1,49 bilhão, segundo o MDIC. O movimento refletiu a normalização da produção da soja argentina, que sofreu com eventos climáticos adversos no ano passado, o que forçou o país a importar a commodity do Brasil.
‘FATOR MILEI’
Embora a moderação dos embarques de produtos brasileiros para a Argentina seja uma tendência nos últimos anos, o cenário foi agravado pelas medidas econômicas do presidente Javier Milei, que desaqueceram a atividade econômica no país, avaliam especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast. No primeiro trimestre do ano, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) argentino recuou 5,1%.
"Quando você corta de maneira muito abrupta o gasto público, que é um componente importante do PIB, como fez Milei, você traz recessão", afirma o economista da CM Capital, Matheus Pizzani. "Uma recessão abrupta assim abala a confiança e atravanca também o comércio com o Brasil", emenda.
Além do desaquecimento da atividade, a Argentina também sofre há alguns anos com a escassez de dólares para realizar pagamentos, o que também prejudica o comércio bilateral com o Brasil, conforme afirma o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo. "Com menos liquidez internacional, a Argentina deve se limitar a importar aquilo que é primeira necessidade. E deixar de ter déficit comercial com países como o Brasil, para gerar superávits e ganhar dólares", diz o economista.
Para o presidente da Associação da Câmara de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, a expectativa para este ano é justamente que o Brasil volte a registrar déficit comercial com a Argentina, ou seja, importar mais produtos do país vizinho do que exportar. "Em condições normais, essa relação é superavitária para o Brasil", diz Castro.
Segundo o MDIC, as exportações brasileiras para a Argentina no primeiro semestre somaram US$ 5,882 bilhões, abaixo do valor total importado, de US$ 6,073 bilhões. A última vez que a relação anual com o país não foi superavitária para o Brasil foi em 2021, quando as importações superaram as exportações em US$ 70 milhões.
A Anfavea, associação que representa montadoras de veículos, por sua vez, reconhece que houve perda de poder da Argentina enquanto consumidora de automóveis produzidos no Brasil, mas considera que esse momento de "ajuste" e "aperto de cintos" em 2024 já era esperado, dado o impacto que as medidas de Milei produziram sobre o país. "A nossa preocupação maior hoje, nas exportações, vem de quedas ou perda de share de mercado em outros países, que vinham bem, como Colômbia, Chile e México", disse a entidade, em nota enviada ao Estadão/Broadcast.
A associação reforça ainda que a participação da Argentina na compra de veículos brasileiros já vem caindo há tempos. "O comércio com a Argentina já respondeu por 70% das nossas exportações; hoje, é algo entre 20% e 30%."
Para Galhardo, da Análise Econômica, o "choque" promovido pela administração Milei é bastante duro e, por isso, ele questiona por quanto tempo a Argentina poderá suportar uma atividade tão depreciada. Um alívio nas políticas de austeridade à frente, prevê, poderia contribuir para a retomada das exportações brasileiras para o vizinho.
"Quando você corta de maneira muito abrupta o gasto público, que é um componente importante do PIB, como fez Milei, você traz recessão", afirma o economista da CM Capital, Matheus Pizzani. "Uma recessão abrupta assim abala a confiança e atravanca também o comércio com o Brasil", emenda.
Além do desaquecimento da atividade, a Argentina também sofre há alguns anos com a escassez de dólares para realizar pagamentos, o que também prejudica o comércio bilateral com o Brasil, conforme afirma o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo. "Com menos liquidez internacional, a Argentina deve se limitar a importar aquilo que é primeira necessidade. E deixar de ter déficit comercial com países como o Brasil, para gerar superávits e ganhar dólares", diz o economista.
Para o presidente da Associação da Câmara de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, a expectativa para este ano é justamente que o Brasil volte a registrar déficit comercial com a Argentina, ou seja, importar mais produtos do país vizinho do que exportar. "Em condições normais, essa relação é superavitária para o Brasil", diz Castro.
Segundo o MDIC, as exportações brasileiras para a Argentina no primeiro semestre somaram US$ 5,882 bilhões, abaixo do valor total importado, de US$ 6,073 bilhões. A última vez que a relação anual com o país não foi superavitária para o Brasil foi em 2021, quando as importações superaram as exportações em US$ 70 milhões.
A Anfavea, associação que representa montadoras de veículos, por sua vez, reconhece que houve perda de poder da Argentina enquanto consumidora de automóveis produzidos no Brasil, mas considera que esse momento de "ajuste" e "aperto de cintos" em 2024 já era esperado, dado o impacto que as medidas de Milei produziram sobre o país. "A nossa preocupação maior hoje, nas exportações, vem de quedas ou perda de share de mercado em outros países, que vinham bem, como Colômbia, Chile e México", disse a entidade, em nota enviada ao Estadão/Broadcast.
A associação reforça ainda que a participação da Argentina na compra de veículos brasileiros já vem caindo há tempos. "O comércio com a Argentina já respondeu por 70% das nossas exportações; hoje, é algo entre 20% e 30%."
Para Galhardo, da Análise Econômica, o "choque" promovido pela administração Milei é bastante duro e, por isso, ele questiona por quanto tempo a Argentina poderá suportar uma atividade tão depreciada. Um alívio nas políticas de austeridade à frente, prevê, poderia contribuir para a retomada das exportações brasileiras para o vizinho.
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