Senador Robert MenéndezAFP
Publicado 16/07/2024 17:28
O senador democrata de origem cubana Bob Menéndez, um dos políticos mais poderosos de Washington, foi condenado nesta terça-feira (16) de corrupção, fraude e de trabalhar como agente para o governo do Egito.

Segundo a Promotoria, o senador de Nova Jersey, de 70 anos, foi declarado culpado pelo júri popular nas 16 acusações de suborno, fraude, extorsão, obstrução de justiça e de receber pagamentos para atuar como agente do governo do Egito e de ajudar um fundo do Catar.

Está previsto que o juiz do caso, Sidney H. Stein, anuncie a sentença em 29 de outubro.

O senador pode passar o resto de sua vida atrás das grades pois, combinadas, as condenações podem chegar a uma pena máxima de 222 anos, segundo o tribunal.

Ao sair da corte, o senador anunciou que vai recorrer da decisão. "Nunca violei meu juramento público. Nunca fui outra coisa além de um patriota do meu país e para o meu país", disse.

Durante uma busca à casa da família de Menéndez em 2022, a polícia encontrou cerca de 480 mil dólares (2,6 milhões de reais, na cotação atual) em dinheiro escondido em roupas, sapatos e em um cofre, bem como 13 barras de ouro avaliadas em 150 mil dólares (814 mil reais) e um carro Mercedes Benz.

Segundo a Promotoria, o senador usou seu poder e influência entre 2018 e 2022, quando era presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, para ajudar, junto com sua esposa Nadine Arslanian, os empresários Wael Hana, Fred Daibes e José Uribe, em troca de propina.

Os outros dois acusados, Hana e Daibes, também foram condenados por suborno.

'Renunciar'
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Para o procurador federal Damian Williams, a sentença mostrou que o que o senador fez "não era a política de sempre; era a política com fins lucrativos".

"Seus anos de vender seu cargo ao melhor licitante finalmente chegaram ao fim", disse Williams em comunicado.

Trata-se de uma queda em desgraça para este político influente, que renunciou à toda-poderosa presidência da Comissão de Relações Exteriores quando o caso veio à tona em outubro do ano passado, mas manteve sua cadeira no Senado.

Poucos minutos após o anúncio da decisão, o líder da maioria democrata no Senado, seu correligionário Chuck Schumer, lhe pediu que renunciasse ao cargo de senador.

"À luz do veredicto de culpabilidade, o senador Menéndez deve fazer o que é correto, com seus eleitores, o Senado e nosso país, e renunciar”, disse Schumer em uma breve declaração.

Confrontado pelos democratas, o senador anunciou que concorreria às eleições de novembro como independente.

O caso
A descoberta de dinheiro em espécie e das barras de ouro na casa do senador, que na realidade eram de sua esposa, com quem se casou em 2020, foi o cerne do julgamento em que o senador, Hana e Daibes, empresários de Nova Jersey, se sentaram no banco dos réus no tribunal do distrito sul de Manhattan durante dois meses.

Um terceiro acusado, José Uribe, declarou-se culpado de presentear o automóvel Mercedes, avaliado em 60 mil dólares (R$ 325 mil) antes do julgamento e colaborou com a acusação contra o senador e sua esposa, que, devido a um câncer da mama, não pôde ser julgada.

Mais de 30 testemunhas ouvidas no julgamento e dezenas de mensagens de texto foram algumas das provas apresentadas pela Promotoria sobre um "esquema de corrupção em larga escala" orquestrado pelo senador com seus amigos.

O senador foi acusado de 16 dos 18 crimes imputados aos integrantes do esquema de corrupção que foram a julgamento.

Além de ter tentado interceder perante a Justiça para paralisar os processos judiciais contra Daibes e Uribe, o senador também teria ajudado o primeiro, um velho amigo e promotor imobiliário de sucesso, a investir em um fundo ligado ao Catar.

Senador desde 2006 e ex-integrante da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos durante 14 anos, Menéndez foi um feroz opositor da normalização de relações com Cuba, inimigo ferrenho de Venezuela e China, e firme defensor de Israel.
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