Donald TrumpAFP
Publicado 18/07/2024 18:23
Donald Trump defenderá Taiwan no caso de uma invasão da China se vencer as eleições de novembro nos Estados Unidos? O candidato republicano semeia dúvidas, como também acontece com Ucrânia e Otan. O único que se sabe ao certo é que ele fará com que Taipé pague por sua defesa.

Os Estados Unidos mantêm há décadas o que chamam de "ambiguidade estratégica" em relação a Taiwan, mas o presidente democrata Joe Biden já deixou claro que, se for necessário, vai intervir em defesa da ilha.

A China reivindica sua soberania sobre essa ilha de 23 milhões de habitantes, governada por um regime rival desde 1949.

Quando Trump foi perguntado sobre o que faria em caso de ataque, o ex-presidente se esquivou do tema, mas afirmou que Taipé deveria pagar por sua defesa, fiel à sua visão mercantilista da política externa.

"Conheço muito bem essa gente, os respeito muito. Ficaram com quase 100% de nosso negócio de chips. E acho que Taiwan deveria nos pagar por sua defesa", declarou o republicano em entrevista à Bloomberg Businessweek, publicada na terça-feira.

"Não somos diferentes de uma companhia de seguros. Taiwan não nos dá nada", acrescentou.

Taiwan fabrica a maioria dos semicondutores necessários à economia mundial.

As declarações de Trump, nomeado oficialmente esta semana candidato a presidente do Partido Republicano nas eleições de 5 de novembro, causaram rebuliço, inclusive nos mercados financeiros.

O primeiro-ministro taiwanês, Cho Jung-tai, reagiu dizendo que Taipé aumentou seu orçamento de defesa nos últimos anos.

'Enfoque mercantilista'
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"Muitas das pessoas que assessoraram o presidente anterior durante o seu mandato e que provavelmente estão auxiliando sua campanha à reeleição acreditam que o principal objetivo geopolítico dos Estados Unidos é dissuadir a China de invadir Taiwan", observa Ali Wyne, pesquisador do International Crisis Group.

"Contudo, os comentários recentes de Donald Trump enfatizam seu enfoque mercantilista da política externa e correm o risco de incomodar Taipé, que está cada vez mais preocupado com o equilíbrio de poder militar no estreito de Taiwan e a intensificação da concorrência estratégica entre Washington e Pequim", acrescenta.

O especialista prevê que um segundo mandato de Trump seria muito mais "agressivo" em relação a Pequim.

Trump fez a divisão igualitária de custos um dos pilares de sua política externa, exigindo, por exemplo, durante seu mandato (2017-2021), que os europeus aumentassem suas despesas no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Mais recentemente, provocou polêmica ao afirmar que incentivaria o presidente russo, Vladimir Putin, a "fazer o que quisesse" se um país da Otan descumprisse com suas obrigações financeiras com a aliança militar.

Isso equivale a dizer que os Estados Unidos não necessariamente sairiam em seu resgate, apesar do artigo 5º do tratado, que estabelece que um ataque contra um membro da Otan é um ataque contra todos.

Curiosamente, o tema de Taiwan não aparece no programa republicano, adotado esta semana na convenção nacional do partido em Milwaukee (norte), que fala apenas de "conter a China".

'Taiwan paga'
Embora Washington reconheça Pequim em detrimento de Taipé como potência legítima desde 1979, continua sendo o aliado mais poderoso da ilha e seu principal fornecedor de armas.

Questionado na quarta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, não quis comentar diretamente as declarações de Trump, mas disse que "Taiwan paga por sua defesa".

"Taiwan compra equipamentos militares avaliados em bilhões de dólares e isso ajuda a economia americana", afirmou.

No entanto, em uma mudança significativa de 180 graus, os Estados Unidos decidiram este ano fornecer pela primeira vez assistência militar direta a Taiwan. Até agora, Washington tinha se limitado a vender armas.

Uma lei aprovada este ano prevê destinar 8 bilhões de dólares (R$ 44,3 bilhões) para investimento em submarinos e ajudar Taiwan.

Com o objetivo declarado de dissuadir a China de qualquer ambição expansionista, uma lei aprovada pelo Congresso americano obriga o fornecimento de armas defensivas a Taiwan.
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