Publicado 19/07/2024 20:37
Brasília - Post engana ao afirmar que Europa está "barrando importações do Brasil". A postagem distorce e tira de contexto a fala do embaixador brasileiro Pedro Miguel da Costa e Silva citada em reportagem do jornal britânico Financial Times. À publicação, o diplomata alegou que os dados da União Europeia (UE) identificaram erroneamente áreas de desmatamento no Brasil.
PublicidadeUma nova regulamentação da UE proíbe importação de produtos produzidos ilegalmente em terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020, mas ela só entrará em vigor a partir de 30 de dezembro de 2024.
Conteúdo investigado: Post afirma que a Europa está barrando importações do Brasil provenientes de áreas de desmatamento. O embaixador do Brasil na Europa, Pedro Miguel da Costa e Silva, teria respondido que "os dados de desmatamento estão errados". A publicação diz ainda que esses mesmos dados eram usados para acusar o governo Bolsonaro de desmatar a Amazônia.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: Não é verdade que a Europa "está barrando importações do Brasil". A nova regulamentação de produtos livres de desmatamento será aplicada a partir de 30 de dezembro deste ano. A publicação distorce matéria do Financial Times, publicada em 16 de julho de 2024, que relata o pedido de países como Brasil, Austrália e Colômbia para que o novo regime seja adiado. Os governos alegam que a União Europeia (UE) está utilizando dados imprecisos para identificar áreas desmatadas. Para eles, a decisão pode levar ao banimento injusto de produtos a partir do ano que vem.
O post cita que o governo brasileiro "mandou um: 'espera, os dados de desmatamento estão errados. Não foi desflorestado tanto assim, muita coisa que era identificado como floresta na verdade não era floresta'". Esse trecho distorce a fala de Pedro Miguel da Costa e Silva, embaixador do Brasil junto à União Europeia, publicada pelo Financial Times. A declaração do diplomata à UE diz que "o nosso setor privado tem documentado múltiplos casos de plantações de cacau e café, bem como de plantações de árvores cultivadas comercialmente, que são erradamente identificadas como florestas".
Diferente da fala original, o tuíte desinforma ao sugerir que o embaixador teria minimizado o desmatamento na Amazônia, a fim de contornar a possível proibição dos produtos. O trecho dá a entender que o governo brasileiro decidiu rever os próprios dados, quando, na realidade, contestou o compilado apresentado pela UE, assim como outros países. No caso da Austrália, a reportagem do Financial Times explica que há divergência na definição de área florestada adotada pelo país e pela UE, o que pode ser observado em dois mapas sobrepostos.
O tuíte também acusa o governo de usar “esses mesmos dados para afirmar que o governo Bolsonaro estava desmatando toda a Amazônia”. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), durante a gestão de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022, o desmatamento da Amazônia teve a pior marca já registrada e chegou aos 35.193 km² devastados – área que supera o tamanho de estados como Sergipe e Alagoas. Segundo o Instituto, o primeiro bimestre de 2024 fechou com a menor derrubada da floresta dos últimos seis anos, desde 2018.
O conflito com a UE gira em torno da definição do que é considerado área de desmatamento. Os países membros do bloco possuem diferentes critérios para definir essas áreas, o que dificulta a aplicação da lei. A UE adota a definição da Food and Agriculture Organization (FAO), uma agência da ONU que atua no combate à fome. Para ela, desmatamento é "a conversão de florestas em outro uso da terra, independentemente de ser induzida pelo homem ou não". Estão inclusas as áreas de floresta convertidas em agricultura, pastagem, reservatórios de água, mineração e áreas urbanas.
Já o Projeto Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (PRODES) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Imazon classificam o desmatamento como o processo de realização do "corte raso", que é a remoção completa da vegetação florestal. Ao Projeto Comprova, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, explicou que o governo usa dados do PRODES para monitorar o desmatamento. A pasta não soube informar, porém, a fonte dos dados do "setor privado", que o embaixador menciona.
O Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento da UE (EUDR) visa proibir a importação de produtos produzidos ilegalmente, em terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020 ou que não são rastreáveis. Países como Áustria, Grécia e Finlândia pediram para a UE reconsiderar o cronograma de aplicação da nova regulamentação. Brasil, Austrália e Colômbia se juntaram aos EUA para pedir à UE que adie a legislação. Outros três países, incluindo o Canadá, reclamaram dos mapas de desmatamento adotados.
Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte através do e-mail, mas não houve retorno até a conclusão deste conteúdo.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia (19), o post somava mais de 253 mil visualizações e cerca de 7 mil curtidas.
Fontes que consultamos: Procuramos a reportagem original do Financial Times, cujo print aparece no tuíte verificado aqui. Dados da União Europeia foram consultados no site Observatório da UE sobre desflorestação e degradação florestal. Dados do Brasil constam em reportagens do Imazon.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já publicou outras verificações relacionadas a desmatamento e Amazônia. Foi mostrado, por exemplo, que a retirada de gado de áreas rurais tem a ver com desmatamento ilegal, não com suposta venda da Amazônia, ao contrário do que acusava post. Em novembro do ano passado, também foram divulgados dados dos governos mais recentes apontando que o desmatamento na Amazônia cai, mas queimadas crescem.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: Não é verdade que a Europa "está barrando importações do Brasil". A nova regulamentação de produtos livres de desmatamento será aplicada a partir de 30 de dezembro deste ano. A publicação distorce matéria do Financial Times, publicada em 16 de julho de 2024, que relata o pedido de países como Brasil, Austrália e Colômbia para que o novo regime seja adiado. Os governos alegam que a União Europeia (UE) está utilizando dados imprecisos para identificar áreas desmatadas. Para eles, a decisão pode levar ao banimento injusto de produtos a partir do ano que vem.
O post cita que o governo brasileiro "mandou um: 'espera, os dados de desmatamento estão errados. Não foi desflorestado tanto assim, muita coisa que era identificado como floresta na verdade não era floresta'". Esse trecho distorce a fala de Pedro Miguel da Costa e Silva, embaixador do Brasil junto à União Europeia, publicada pelo Financial Times. A declaração do diplomata à UE diz que "o nosso setor privado tem documentado múltiplos casos de plantações de cacau e café, bem como de plantações de árvores cultivadas comercialmente, que são erradamente identificadas como florestas".
Diferente da fala original, o tuíte desinforma ao sugerir que o embaixador teria minimizado o desmatamento na Amazônia, a fim de contornar a possível proibição dos produtos. O trecho dá a entender que o governo brasileiro decidiu rever os próprios dados, quando, na realidade, contestou o compilado apresentado pela UE, assim como outros países. No caso da Austrália, a reportagem do Financial Times explica que há divergência na definição de área florestada adotada pelo país e pela UE, o que pode ser observado em dois mapas sobrepostos.
O tuíte também acusa o governo de usar “esses mesmos dados para afirmar que o governo Bolsonaro estava desmatando toda a Amazônia”. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), durante a gestão de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022, o desmatamento da Amazônia teve a pior marca já registrada e chegou aos 35.193 km² devastados – área que supera o tamanho de estados como Sergipe e Alagoas. Segundo o Instituto, o primeiro bimestre de 2024 fechou com a menor derrubada da floresta dos últimos seis anos, desde 2018.
O conflito com a UE gira em torno da definição do que é considerado área de desmatamento. Os países membros do bloco possuem diferentes critérios para definir essas áreas, o que dificulta a aplicação da lei. A UE adota a definição da Food and Agriculture Organization (FAO), uma agência da ONU que atua no combate à fome. Para ela, desmatamento é "a conversão de florestas em outro uso da terra, independentemente de ser induzida pelo homem ou não". Estão inclusas as áreas de floresta convertidas em agricultura, pastagem, reservatórios de água, mineração e áreas urbanas.
Já o Projeto Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (PRODES) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Imazon classificam o desmatamento como o processo de realização do "corte raso", que é a remoção completa da vegetação florestal. Ao Projeto Comprova, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, explicou que o governo usa dados do PRODES para monitorar o desmatamento. A pasta não soube informar, porém, a fonte dos dados do "setor privado", que o embaixador menciona.
O Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento da UE (EUDR) visa proibir a importação de produtos produzidos ilegalmente, em terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020 ou que não são rastreáveis. Países como Áustria, Grécia e Finlândia pediram para a UE reconsiderar o cronograma de aplicação da nova regulamentação. Brasil, Austrália e Colômbia se juntaram aos EUA para pedir à UE que adie a legislação. Outros três países, incluindo o Canadá, reclamaram dos mapas de desmatamento adotados.
Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte através do e-mail, mas não houve retorno até a conclusão deste conteúdo.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia (19), o post somava mais de 253 mil visualizações e cerca de 7 mil curtidas.
Fontes que consultamos: Procuramos a reportagem original do Financial Times, cujo print aparece no tuíte verificado aqui. Dados da União Europeia foram consultados no site Observatório da UE sobre desflorestação e degradação florestal. Dados do Brasil constam em reportagens do Imazon.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já publicou outras verificações relacionadas a desmatamento e Amazônia. Foi mostrado, por exemplo, que a retirada de gado de áreas rurais tem a ver com desmatamento ilegal, não com suposta venda da Amazônia, ao contrário do que acusava post. Em novembro do ano passado, também foram divulgados dados dos governos mais recentes apontando que o desmatamento na Amazônia cai, mas queimadas crescem.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.