Nicolás Maduro responsabiliza a oposição pelos distúrbiosAFP
Publicado 01/08/2024 07:36
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quarta-feira (31) a prisão da líder da oposição María Corina Machado e de seu candidato Edmundo González Urrutia, reconhecido pelos Estados Unidos como o vencedor nas eleições presidenciais do último domingo (28), em meio a denúncias de fraude. "Deveriam estar atrás das grades", afirmou.

Machado, que disse que González Urrutia venceu por ampla maioria, respondeu à ameaça de Maduro com uma convocação de mobilização.

"Oferecemos ao regime que aceitasse democraticamente sua derrota e avançasse em uma negociação para assegurar uma transição pacífica; no entanto, optaram pelo caminho da repressão, violência e da mentira", escreveu Machado na rede social X. "Agora corresponde a TODOS nós afirmar a verdade TODOS conhecemos. Vamos nos mobilizar. CONSEGUIREMOS", acrescentou, sem especificar detalhes.

Três dias após as eleições, Maduro prometeu apresentar todas as atas das votações questionadas, ao comparecer ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para pedir que se pronuncie sobre o tema.

A opositora María Corina Machado e seu candidato presidencial, Edmundo González Urrutia, asseguram que venceram as eleições e denunciam uma escalada da repressão que deixou desde segunda-feira pelo menos 11 civis mortos e dezenas de feridos, além de mais de mil detidos, segundo o governo.

"Disse, como chefe político, filho do comandante [Hugo] Chávez, que o Grande Polo Patriótico e o Partido Socialista Unido da Venezuela estão prontos para apresentar 100% das atas", disse Maduro a jornalistas na sede do Tribunal Supremo de Justiça.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) o proclamou presidente eleito para um terceiro mandato de seis anos, com 51% dos votos, contra 44% de González Urrutia. A oposição afirma que possui cópias de mais de 80% das atas e que o seu candidato recebeu 67% dos votos.

"Está claro que Edmundo González Urrutia derrotou Nicolás Maduro por milhões de votos (...). O CNE de Maduro precisa de tempo para preparar resultados falsificados", afirmou o subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols.

A autoridade eleitoral não publicou os resultados em seu site, alegando que foi alvo de uma grande ação de "hackers".

'Mãos manchadas de sangue'
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Após a proclamação da vitória de Maduro, os protestos explodiram na segunda-feira em Caracas e outras cidades.

Machado denunciou uma "escalada cruel e repressiva" e afirmou que o número de mortes nas manifestações subiu para 16, enquanto Maduro culpou González Urrutia e Machado pela violência e disse que "nunca" chegarão ao poder.

"Vocês têm as mãos manchadas de sangue", disse o presidente. "Deveriam estar atrás das grades", completou.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, anunciou na quarta-feira que apresentará acusações ao Tribunal Penal Internacional de "imputação e mandado de prisão" contra Maduro pelo "banho de sangue" na Venezuela.

"Maduro prometeu um banho de sangue (...) e está fazendo isso", escreveu Almagro na rede social X.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que "as ameaças" contra Machado e González Urrutia são "inaceitáveis".

Segundo o procurador-geral, Tarek William Saab, um soldado também morreu nos protestos, 77 funcionários públicos ficaram feridos e mais de mil pessoas foram detidas.

Um grupo de organizações internacionais, incluindo a Anistia Internacional e a Freedom House, condenou "o uso desproporcional da força" e exigiu "respeito e garantia do direito à liberdade de expressão, reunião e protesto pacífico".

Pressão internacional 
A pressão para uma recontagem de votos e o fim da repressão não cessa. "Nossa paciência, e a da comunidade internacional, está se esgotando, aguardando que as autoridades eleitorais venezuelanas digam a verdade", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, antes das declarações de Nichols.

"Vocês parecem ter perdido a paciência com a Venezuela. Então, posso dizer que perdi a paciência com vocês", respondeu Maduro.

O Centro Carter, convidado pelo CNE para observar as eleições, afirmou que as presidenciais não se adequaram a "parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral, e não podem ser consideradas democráticas".

Centenas de seguidores de Maduro se reuniram na quarta-feira no centro de Caracas. "Todo o que a oposição está dizendo é para descredibilizar. Eles estão vandalizando, fazendo coisas ruins. Aceitem sua derrota", disse na marcha Yuli Jiménez, 44 anos, do partido Tupamaro.

Desde que começaram os protestos contra a recontagem dos votos, Caracas permanece parcialmente paralisada, com empresas fechadas e poucos transportes públicos.

'Acordo de convivência'
O Conselho Permanente da OEA rejeitou uma resolução para exigir transparência sobre o processo eleitoral venezuelano, por falta de maioria.

O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, país que optou pela abstenção na sessão da OEA, anunciou em um comunicado "contatos permanentes com os governos do Brasil e do México para criar as condições necessárias" em busca de "um acordo de convivência" na Venezuela.

O Brasil também optou pela abstenção e o México se recusou a participar na sessão. O documento destaca ainda que "conversações constantes" são mantidas com o governo Maduro e setores da oposição.

O presidente colombiano Gustavo Petro, um dos aliados regionais de Maduro, pediu na rede social X um "escrutínio transparente, com contagem de votos, atas e supervisão por todas as forças políticas do seu país e supervisão internacional profissional".

"O presidente Petro (é) um homem honrado, sério, o escuto muito, estou em diálogo com ele", respondeu Maduro.
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