O jornalista americano Evan Gershkovich (à esq) e seu compatriota e ex-fuzileiro naval Paul Whelan (à dir.)Divulgação / Governo dos EUA
Publicado 01/08/2024 14:04 | Atualizado 01/08/2024 14:06
O jornalista americano Evan Gershkovich e seu compatriota e ex-fuzileiro naval Paul Whelan foram libertados nesta quinta-feira (1º) em uma das maiores trocas de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria, anunciou a Turquia.

Um total de 26 prisioneiros dos Estados Unidos, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega, Belarus e Rússia se beneficiaram do intercâmbio realizado pela Agência de Inteligência Turca (MIT), conforme informado por Ancara.

Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal, de 32 anos, foi detido em março de 2023 e condenado em julho deste ano a 16 anos de prisão por acusações de "espionagem", em um julgamento rápido que foi denunciado por Washington.

Nos últimos dias, havia especulações sobre um possível acordo, especialmente depois que várias pessoas detidas na Rússia foram transferidas das instalações onde estavam reclusas, um fato incomum.

Além disso, um avião anteriormente utilizado para outra troca de prisioneiros partiu de Moscou nesta quinta pela manhã em direção ao enclave russo de Kaliningrado, retornando à Rússia no final da manhã, de acordo com o serviço de rastreamento de voos Flightradar24.

Segundo o governo turco, entre os prisioneiros que deveriam retornar à Rússia está Vadim Krasikov, um cidadão russo preso na Alemanha pelo assassinato de um ex-líder independentista checheno.

A troca de prisioneiros representa uma vitória para o presidente americano, Joe Biden, que o qualificou como "façanha da diplomacia" e cuja vice-presidente, Kamala Harris, enfrentará o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro.

O acordo também é um dos mais significativos desde a Guerra Fria e marca o primeiro intercâmbio de prisioneiros entre Moscou e o Ocidente desde a libertação, em dezembro de 2022, da jogadora de basquete americana Brittney Griner, detida na Rússia em um caso de drogas e trocada pelo famoso traficante de armas russo Viktor Bout, que estava preso nos Estados Unidos.

Em 2010, houve um intercâmbio anterior envolvendo 14 espiões, incluindo a russa Anna Chapman, condenada nos Estados Unidos, e Sergei Skripal, um agente duplo preso na Rússia.

Desde 1985 e 1986, durante o último período da Guerra Fria, não havia intercâmbios de prisioneiros de grande magnitude.

"Revoltante"
Publicidade
Os Estados Unidos pressionaram Moscou pela libertação de Gershkovich. Tanto o jornalista quanto sua família, amigos e a Casa Branca afirmaram que as acusações russas eram infundadas.

Com 32 anos, Gershkovich foi preso no final de março de 2023 enquanto trabalhava em Ecaterimburgo, nos Urais.

Após sua condenação, o presidente Joe Biden prometeu que Washington trabalharia "arduamente" para garantir sua libertação.

Gershkovich "foi perseguido pelas autoridades russas por ser jornalista e americano", denunciou o presidente na época.

Antes da confirmação do intercâmbio pela Turquia, a ONG Repórteres Sem Fronteiras declarou nesta quinta-feira estar "imensamente aliviada" com a libertação do jornalista.

"A política contínua do governo russo de fazer reféns é revoltante. Jornalistas não são espiões e nunca devem ser alvos de ataques por motivos políticos", acrescentou a organização em comunicado.

"Desaparecidos"
Washington também trabalhou nos bastidores para conseguir a libertação do ex-fuzileiro naval Paul Whelan, de 54 anos, que também tem nacionalidades britânica, irlandesa e canadense.

Whelan, preso em Moscou desde dezembro de 2018 por "espionagem", acusações que nega, é um dos detidos que recentemente "desapareceram" das prisões russas.

Entre os desaparecidos está também o jornalista e ativista Vladimir Kara-Murza, de 42 anos, que possui cidadania russa e britânica. Seus advogados afirmaram disseram na quarta-feira não saber de seu paradeiro e que foram negadas duas tentativas de acesso às instalações onde ele supostamente estava recluso.

Kara-Murza, crítico da invasão russa à Ucrânia, cumpre uma sentença de 25 anos na Sibéria por traição e outros crimes. Ele sofre de neuropatia e no início do mês ingressou em um hospital da própria prisão para realizar exames.

Em relação à Eslovênia, que também estava na lista fornecida por Ancara, um tribunal condenou dois russos a mais de um ano e meio de prisão por espionagem para Moscou, mas posteriormente ordenou sua expulsão do país.

As prisões de americanos na Rússia aumentaram nos últimos anos. Com essa tática, o Kremlin busca, segundo Washington, obter a libertação de russos condenados no exterior.
Leia mais