Cortejo fúnebre do falecido líder do Hamas, Ismail HaniyehAFP
Publicado 02/08/2024 09:12
O Catar organiza nesta sexta-feira (2) o enterro do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que morreu em um ataque em Teerã atribuído a Israel, em meio a temores de uma resposta do Irã e seus aliados que provocaria uma escalada regional do conflito em Gaza.

O corpo do líder político do movimento islamista palestino que governa Gaza chegou nesta sexta à mesquita Imam Muhammad bin Abdul Wahhab, a maior do Catar, na cidade de Doha.
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Haniyeh, que morava na capital do Catar ao lado de outros líderes do grupo, será enterrado em um cemitério em Lusail, ao norte de Doha, após a cerimônia fúnebre na mesquita.

O Hamas anunciou que "líderes árabes e islâmicos", assim como representantes de outras facções palestinas, comparecerão ao evento, aberto ao público.

Haniyeh e um de seus seguranças morreram na madrugada de quarta-feira em um ataque contra a residência em que estava em Teerã, informou a Guarda Revolucionária do Irã.

O dirigente, exilado entre Catar e Turquia, estava em Teerã para a cerimônia de posse do presidente iraniano, Masud Pezeshkian. A imprensa iraniana informou que ele morreu em um ataque executado com um "projétil aéreo".

O jornal americano New York Times, que mencionou cinco fonte de países do Oriente Médio que falaram sob a condição de anonimato, informou, no entanto, que Haniyeh morreu na explosão de uma bomba que estava escondida há dois meses na residência.

O grupo Hamas e o governo do Irã atribuíram o ataque a Israel, que não fez qualquer comentário direto sobre a morte. O país reivindicou algumas horas antes um bombardeio contra Beirute, capital do Líbano, que matou Fuad Shukr, comandante militar do movimento libanês Hezbollah, aliado do Hamas.

O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, afirmou na quinta-feira que o ataque no Líbano foi o único efetuado por seu país na madrugada de quarta-feira no Oriente Médio.

Mas os acontecimentos inflamaram as tensões em uma região onde a guerra na Faixa de Gaza aumentou consideravelmente as hostilidades entre Israel e os movimentos armados próximos ao Irã na Síria, Líbano, Iraque e Iêmen.

Resposta 'inevitável'
O corpo de Haniyeh, de 61 anos, foi transportado de um necrotério até a mesquita de Doha antes da grande oração de sexta-feira, o dia mais importante da semana na tradição islâmica.

O caixão estava protegido por um cordão de segurança significativo. Milhares de fiéis se reuniram no local com bandeiras palestinas.

Turquia e Paquistão decretaram um dia de luto nesta sexta-feira em memória de Haniyeh. O Hamas prometeu um "dia de raiva furiosa" para coincidir com o enterro.

O movimento palestino convocou "marchas furiosas (...) a partir de cada mesquita" após as orações de sexta-feira.

O enterro de Haniyeh acontece no momento em que o Irã e seus aliados preparam uma resposta coordenada contra Israel.

O líder do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, alertou na quinta-feira que é "inevitável" que o movimento responda ao bombardeio israelense de terça-feira em Beirute.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o país está preparado "para qualquer cenário, tanto defensivo como ofensivo".

Netanyahu prometeu destruir o Hamas em represália ao ataque de 7 de outubro contra o sul do país, que desencadeou a guerra em Gaza.

Os comandos islamistas mataram 1.197 pessoas, a maioria civis, no ataque de outubro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses, e sequestraram 251. O Exército israelense afirma que 111 permanecem em cativeiro em Gaza, mas que 39 estariam mortas.

A ofensiva militar de Israel contra Gaza deixou 39.480 mortos até o momento, segundo o Ministério da Saúde do território.

'Preço muito elevado'
Milhares de pessoas compareceram na quinta-feira ao funeral público em homenagem a Haniyeh em Teerã, uma cerimônia comandada pelo líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que prometeu um "castigo duro" para Israel.

Os rebeldes huthis do Iêmen, também aliados do Hamas, prometeram uma "resposta militar" à "perigosa escalada" provocada, segundo eles, por Israel.

O Catar abriga o gabinete político do Hamas com a aprovação dos Estados Unidos desde 2012, quando o grupo palestino fechou sua representação em Damasco.

Haniyeh tinha um papel crucial nas negociações para um possível acordo de trégua em Gaza, nas quais Catar, Egito e Estados Unidos atuam como mediadores.

Mas este processo permanece em dúvida após a morte. "Como uma mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador da outra parte?", questionou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman al Thani.

A comunidade internacional pediu calma e insistiu nos apelos por um cessar-fogo em Gaza que, segundo Haniyeh, Israel estava bloqueando.
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