Presidente Nicolás MaduroAFP
Publicado 06/08/2024 15:48
A Força Armada Nacional Bolivariana ratificou nesta terça-feira (6) sua "lealdade absoluta" ao presidente Nicolás Maduro e qualificou de "desesperados e sediciosos" os pedidos de apoio da oposição, em meio a denúncias de fraude nas eleições presidenciais de 28 de julho.

A líder opositora María Corina Machado, que denunciou uma "campanha de terror" no país, e seu candidato Edmundo González Urrutia, publicaram na segunda-feira uma carta aberta a militares e policiais na qual defendiam sua vitória nas eleições e pediam aos oficiais que se colocassem "ao lado do povo".

Nesta terça-feira, no entanto, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, classificou o documento de "panfleto" e os pedidos de apoio de "desesperados e sediciosos".

"Estes apelos ridículos e irracionais buscam desestabilizar nossa unidade e institucionalidade, mas nunca conseguirão", destacou Padrino, acompanhado do alto comando militar e policial.

"Ratificamos nossa absoluta lealdade ao cidadão Nicolás Maduro Moros (...), legitimamente reeleito pelo poder popular para o próximo período presidencial 2025-2031", acrescentou.

O Ministério Público abriu uma investigação criminal contra Machado e González Urrutia por "incitação à insurreição" e outros crimes como "conspiração".

Maduro disse na semana passada que ambos deveriam “estar atrás das grades”.

A União Europeia, que assim como os Estados Unidos e vários países da América Latina questiona a vitória do presidente chavista, pediu o fim do que considera uma "campanha de intimidação judicial".

"Corrente fascista"
Publicidade
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir ao chavismo, proclamou Maduro como presidente reeleito para um terceiro mandato de seis anos com 52% dos votos contra 43% de González Urrutia.

Horas após o primeiro boletim, tiveram início manifestações que deixaram pelo menos 11 civis mortos, de acordo com organizações de direitos humanos.

Maduro informou que há mais de 2.000 detidos, indicou que dois militares morreram e afirma que os protestos fazem parte de um plano para derrubá-lo.

O CNE não divulgou os detalhes do resultado da eleição de 28 de julho. Seu site está fora do ar desde então e alega que seu sistema foi alvo de um ataque hacker, algo que que especialistas descartam.

Machado e González afirmam ter provas da vitória da oposição, que publicou cópias de mais de 80% das atas de votação.

"Esta corrente fascista", insistiu Padrino, "continua tentando promover a tese de uma vitória eleitoral que tentaram construir com base em pesquisas falsas e uma campanha midiática".

Além das armas, os militares controlam empresas de mineração, petróleo e distribuição de alimentos, assim como as alfândegas e 12 dos 34 ministérios, incluindo pastas importantes como Petróleo, Energia, Defesa, Relações Interiores e Comércio.

A oposição e especialistas denunciam redes de corrupção que enriqueceram muitos oficiais.

"Querem nos intimidar"
Machado denunciou nesta terça-feira uma "campanha de terror" após as prisões em massa e a cruzada de Maduro contra redes sociais e plataformas de mensagens, as quais o mandatário vincula a um suposto "golpe de Estado ciberfascista".

"Querem nos intimidar para que não nos comuniquemos, porque isolados seríamos muito mais fracos e isso não vai acontecer", disse Machado, que anunciou na semana passada que passou à clandestinidade por temer pela própria vida.

"Não se deixem intimidar", pediu a líder opositora. "Isso é irreversível."

Maduro convocou seus apoiadores a boicotar o WhatsApp, alegando que militares, policiais e líderes comunitários que defendem sua controversa reeleição receberam "ameaças" por meio deste aplicativo.

O futuro da eleição repousa por ora na corte suprema, à qual Maduro pediu para "certificar" o resultado.

A Sala Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) convocou candidatos e representantes dos partidos para entregar documentos e "responder às perguntas" relacionadas ao caso. González Urrutia deve comparecer na quarta e Maduro na sexta-feira.

Acadêmicos e dirigentes políticos questionam a apresentação do caso ao TSJ, considerado pela oposição como um "apêndice" do chavismo.
Leia mais