Publicado 16/08/2024 11:50
Quando Nicolás Maduro foi proclamado vencedor das eleições, José Ochoa começou a preparar suas malas para ir da Colômbia aos Estados Unidos pela selva de Darién. Assim como outros migrantes, a esperança de voltar à Venezuela desapareceu após as eleições.
PublicidadeOchoa, de 38 anos, confiava na vitória da oposição no dia 28 de julho para voltar ao seu estado natal de Carabobo (centro-norte), quatro anos após deixar a Venezuela fugindo da crise econômica.
Mas em meio à denúncias de fraude, Maduro foi reeleito para um mandato até 2031.
No dia das eleições, Ochoa conta que ficou "muito chateado". "Não vou dizer que comecei a chorar, mas fiquei com muita raiva porque todos esperávamos que isso mudasse", confessou.
"Vou para os Estados Unidos (...) Não queria fazer isso, mas é uma decisão difícil", disse ele em Madrid, município próximo a Bogotá, onde morava sozinho em um quarto pequeno.
Dias após o pleito, já tinha vendido a cama e a bicicleta com que se deslocava para o trabalho em um campo de flores. Tinha preparado uma mochila com roupas para enfrentar a viagem de cerca de 15 dias.
A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, alertou sobre uma "onda" de migração sem precedentes se Maduro continuar na presidência.
Após a entrevista, a AFP perdeu contato com Ochoa.
Apesar da pressão de organizações multilaterais e de vários países para revelar as atas da votação, a autoridade eleitoral ainda não publicou os resultados, citando um suposto hackeamento do sistema de voto.
Uma vitória do adversário Edmundo González Urrutia teria motivado Ochoa a voltar para casa e se reunir com seu pai, após a morte da mãe e da irmã durante a sua ausência.
Agora ele enfrentará os perigos de cruzar o Darién, selva que divide a Colômbia do Panamá, onde atuam paramilitares e grupos criminosos.
Segundo a ONU, sete milhões de pessoas fugiram da Venezuela. Destes, três milhões chegaram à Colômbia, seu principal destino.
Incerteza e impotência
Para Ronal Rodríguez, do Observatório da Venezuela da Universidade de Rosário, "já estamos tendo" uma nova onda migratória que agravará a situação humanitária em Darién.
Para Ronal Rodríguez, do Observatório da Venezuela da Universidade de Rosário, "já estamos tendo" uma nova onda migratória que agravará a situação humanitária em Darién.
Em 2023, mais de meio milhão de migrantes cruzaram esta selva, segundo dados oficiais panamenhos, a maioria deles venezuelanos.
No Brasil, Yajaira Deyanira Resplandor se disse "triste, impotente pelo meu país, pelas pessoas que morreram e pelos que estão presos", relatou a mulher de 56 anos, que trabalha em uma fábrica têxtil no Rio de Janeiro.
Sete anos depois de chegar com as duas filhas, ela ainda não se adaptou à vida fora da Venezuela e deseja voltar, "desde que o presidente saia".
Segundo o presidente da ONG Venezuela Global, William Clavijo, que apoia a integração dos venezuelanos no Brasil, o resultado da eleição mergulhou os migrantes "em uma situação de grande tristeza".
"Cria-se uma incerteza sobre a possibilidade de retornar, de poder reencontrar o seu país, de voltar a ter uma vida estável, salários dignos", explicou.
Segundo dados oficiais até junho de 2024, quase 600 mil venezuelanos migraram para o Brasil desde 2017.
Enquanto os governos de México, Colômbia e Brasil tentam mediar a relação entre Maduro e a oposição para resolver a crise desencadeada após as eleições, os migrantes no sul do continente continuam aguardando.
"Estou aqui com o desejo de que tudo mude lá e eu volte logo. Assim que o governo Maduro cair, voltarei para ajudar na reconstrução" do país, disse Alba Olivero, de 70 anos, afirmando que quer "viver e morrer" na Venezuela.
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