Representantes da Associação de Televisões Educativas e Culturais Ibero-Americanas (ATEI) se reúnem no MéxicoPixabay
Publicado 16/08/2024 14:48
Compreender em vez de resistir é o lema que orienta as emissoras de televisão educativas da América Latina diante da inteligência artificial (IA), à qual se adaptam gradativamente entre o fascínio e a incerteza.

Reunidos no México, representantes da Associação de Televisões Educativas e Culturais Ibero-Americanas (ATEI), que reúne mais de 90 canais, universidades e instituições públicas e privadas, compartilharam projetos desenvolvidos com IA, como uma apresentadora virtual, e suas perspectivas em relação a esta tecnologia.

"Como toda novidade, gera resistência. Acredito que grande parte destas resistências é procedente da total falta de compreensão e uso correto", analisou o presidente da ATEI, Gabriel Torres, durante evento realizado no último fim de semana em Puerto Vallarta (estado de Jalisco, oeste).

Também responsável pelo sistema de rádio, televisão e cinema da Universidade de Guadalajara (UDG), Torres destaca que utilizam ativamente estas ferramentas há mais de um ano.

Uma de suas apostas mais ousadas foi a criação da C.L.A.R.A, sigla para "Condutora Lógica de Assistência e Resposta Automática", uma apresentadora virtual lançada em 2023 junto com uma guia para seu uso ético entre os mais de 330.000 alunos da UDG.

Torres destaca que C.L.A.R.A "não tirou trabalho de ninguém" e exigiu a incorporação de novos profissionais à sua equipe: um programador e um designer 3D.

"Usamos o 'machine learning' para ensiná-la a falar, a gesticular, para que pudesse falar o espanhol" pronunciado pelos habitantes de Jalisco, acrescenta, em referência ao estado onde está localizada a universidade.

Pessoas em primeiro lugar
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Para Carlos Eduardo Gutiérrez Medrano, chefe de cinematografia do sistema UDG, o impacto final da IA na mídia ainda é nebuloso, por isso os especialistas precisam estar "preparados". "O risco não está na tecnologia, mas no desconhecimento da mesma", acrescenta ele, que aprendeu ciência de dados e linguagens de programação para enriquecer seu ofício, e trabalhou na criação da C.L.A.R.A.

Os desafios e a atualização de conhecimentos exigidos pela IA também chegam às redações jornalísticas. Para Iván Porras, diretor da Quince UCR, emissora da Universidade da Costa Rica, os comunicadores são convocados a usar a IA para reforçar seu trabalho criativo, investigativo e jornalístico, uma forma de "humanização" da IA.

"O trabalho das pessoas vem antes das inteligências artificiais", ressalta ele, considerando prudente manter "distância" de algumas ferramentas enquanto não houver "diálogo fundamentado sobre o assunto". Sua opinião se refere em particular à IA generativa, que ameaça substituir vários profissionais da indústria.

No início do ano, pesquisadores do NewsGuard, um grupo americano que rastreia a desinformação, alertaram para três novos métodos "extremamente preocupantes" com os quais a IA pode amplificar a propagação de notícias falsas.

Uma destas ameaças são os novos programas que geram vídeo, áudio e imagens criados com IA (deep fakes), cuja utilização foi acelerada pelos conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia.

Soma-se a isso a proliferação de sites capazes de gerar desinformação com o mínimo de supervisão humana; além de "bots plagiadores" que recompactam artigos de fontes legítimas, mesclando-os até ficarem irreconhecíveis e serem publicados em tempo real.

"O perigoso é que há quem não reconheça entre o que é criado digitalmente e o que é feito por humanos", afirma Germán Ortegón, acadêmico da Universidade Javeriana, na Colômbia, e diretor da plataforma de notícias Directo Bogotá.

A diferença, destaca Ortegón, só pode ser feita por comunicadores com credibilidade que dão veracidade aos conteúdos, sem abrir mão do DNA do jornalismo. "Não vamos conseguir substituir a vida nas telas, temos que voltar às ruas e fazer o que sempre fazemos: reportar", completou.
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