Ucraniano ao lado de uma casa atingida em Myrnograd, na região de Donetsk, nesta quarta-feira (21)Genya SAVILOV / AFP
Publicado 21/08/2024 16:04
Civis ucranianos da região de Donetsk fugiram em massa nesta quarta-feira (21) do avanço das tropas da Rússia, que mantêm seu ímpeto no leste, apesar da ofensiva lançada pelas forças de Kiev em território russo.

O Exército de Putin tomou vários vilarejos nas últimas semanas e está atualmente a cerca de 10 km de Pokrovsk, uma cidade de aproximadamente 53.000 habitantes na qual as autoridades ucranianas ordenaram uma evacuação com urgência.

Repórteres da AFP encontraram Maksim, um minerador de 40 anos, que descreveu o ambiente "muito tenso" que reina em Pokrovsk. "Decidi ir embora porque a vida é mais importante", explicou. Anatoli, de 60 anos, relatou ter testemunhado dois ataques. "Que desperdício! Graças a Deus, todos estão vivos, mas a população se foi", acrescentou.

As autoridades regionais ordenaram na segunda-feira a "evacuação forçada" de famílias com crianças de Pokrovsk, situada em uma estrada que leva aos redutos estratégicos de Chasiv Yar e Kostiantinivka.

Kursk, Pokrovsk, Niu-York
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O Exército russo reivindicou nesta quarta-feira (21) a tomada de Zhelanne, a cerca de 20 km a leste de Pokrovsk. Na terça-feira, Moscou havia anunciado a captura do município de Niu-York, um importante núcleo logístico das tropas ucranianas, na aglomeração de Toretsk. No entanto, soldados da Ucrânia asseguraram que parte da cidade ainda estava sob controle das forças de Kiev.

A ofensiva ucraniana lançada em 6 de agosto na região russa de Kursk atrai a atenção internacional por levar os conflitos ao território do atacante, mas o epicentro dos combates continua sendo a bacia do Donbass, no leste industrial do país.

As forças da Ucrânia afirmaram na terça-feira (20) que controlavam 1.263 km² e 93 localidades na região de Kursk, um pouco mais do que no dia anterior. Sua maior captura reivindicada até o momento é da pequena cidade de Sudzha, que tinha 5.500 habitantes antes da incursão, a 8 km da fronteira.

O comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, Oleksander Sirski, indicou que suas tropas "avançaram de 28 a 35 km² em território russo". O país afirma que essa operação pretende criar uma "zona-tampão” para afastar as plataformas de bombardeio, obrigar Moscou a redistribuir forças de outros fronts e até mesmo usar essas regiões como moeda de troca em eventuais negociações de paz "justas".

A ofensiva ucraniana em Kursk, no entanto, não parece ter aliviado até o momento a pressão russa sobre Pokrovsk. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, afirmou que "a ofensiva ucraniana em Kursk é um duro golpe à narrativa do presidente Putin".

Defendeu também "levantar as restrições" ao uso do armamento ocidental enviado à Ucrânia, considerando que permitirá "fortalecer a autodefesa da Ucrânia acabando com o santuário da Rússia para os seus ataques".

Ataques mútuos de drones
Moscou sofreu durante a noite "uma das mais importantes" ofensivas de drones ucranianos desde o início do conflito, anunciou nesta quarta-feira (21) o prefeito da capital russa. Onze artefatos foram abatidos, precisou.

A cidade e sua região, a mais de 500 km da fronteira ucraniana, já haviam sido alvo de alguns ataques esporádicos de drones, sem sofrer danos significativos.

Do lado ucraniano, a força aérea indicou que destruiu 50 drones russos e um míssil durante a noite. O chefe da administração militar de Kiev, Sergei Popko, afirmou que 10 desses artefatos haviam sido interceptados quando "se dirigiam à capital ucraniana".

A agência de controle russo das telecomunicações, Roskomnadzor, informou nesta quarta sobre uma breve interrupção dos serviços de mensagens Telegram e Whatsapp na Rússia devido a um "ataque DoS" (negação de serviço), que consiste em colapsar um sistema informático sobrecarregando-o com solicitações.

Já o Parlamento ucraniano votou a favor da adesão do país ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com a esperança de punir a Rússia por supostos crimes de guerra cometidos em seu território.

O tema é muito delicado na Ucrânia, onde muitos temem que seus militares em guerra contra a Rússia também sejam denunciados ao TPI, que tem a missão de processar autores de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e agressão.
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