Foto da capital do país, Caracas, durante o apagãoReprodução/X
Publicado 30/08/2024 18:16
O serviço de energia em Caracas começou a ser normalizado nesta sexta-feira (30), após 12 horas de um apagão geral em toda a Venezuela que o governo atribuiu a uma "sabotagem" da oposição, em meio às suas denúncias de fraude eleitoral.

Não há um balanço oficial desde a manhã, mas jornalistas da AFP constataram uma recuperação intermitente do serviço em vários bairros de Caracas. Usuários nas redes sociais também informaram sobre uma certa normalização, que se estende a outros estados do país.

O apagão foi registrado às 4h40 locais (5h40 de Brasília) e afetou de maneira "total ou parcial" os 24 estados do país, onde as falhas elétricas são frequentes.

"O fascismo desesperado ataca o povo, mas juntos superaremos esta nova ofensiva", escreveu o presidente Nicolás Maduro em seu canal no Telegram, após classificar o apagão como um "ataque criminoso".

O presidente venezuelano não precisou onde o problema se originou ou a magnitude do dano.

'Acostumados'
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Os apagões são frequentes na Venezuela há uma década, especialmente no interior do país.

O governo sempre os atribui a tentativas de desestabilização da oposição, mas especialistas desconsideram esse argumento e os vinculam à falta de investimento, incompetência e corrupção.

O último balanço feito no meio da manhã pelo poderoso ministro do Interior, Diosdado Cabello, informou que a "rede estava começando a ser energizada". "É um processo que está ocorrendo pouco a pouco, mas é um processo com a segurança de que está sendo feito para não cometer erros", disse ao canal VTV.

"Estamos mentalmente acostumados a essas coisas", disse à AFP Leticia Quiroga, uma servidora pública de 30 anos, em Caracas.

"Pensei que era apenas mais um apagão dos que ocorrem aqui todos os dias", brincou Elena Jiménez, uma dona de casa de 66 anos em Maracaibo, capital do estado de Zulia, onde as quedas de energia são constantes.

Contexto eleitoral
O apagão ocorre um mês depois das eleições nas quais Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos, até 2031.

A oposição liderada por María Corina Machado afirma que Edmundo González Urrutia venceu as eleições e que tem provas para demonstrar, enquanto o chavismo enxerga a denúncia de fraude como um complô contra Maduro.

O governo, de fato, denunciou supostos planos para afetar o vulnerável sistema elétrico.

"Eles não conseguiram atingir seus objetivos como esperavam", continuou o ministro Cabello, "que o país estivesse incendiado um mês após as eleições".

A reeleição de Maduro não foi reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta mediar a crise política entre o governo e a oposição, insistiu nesta sexta-feira na publicação da apuração detalhada.

Convocação de candidato opositor
Edmundo González, de 75 anos, havia sido convocado para comparecer nesta sexta ao Ministério Público, que abriu uma investigação criminal contra ele.

Esta é a terceira convocação ignorada pelo opositor. A nova ausência de González, que está na clandestinidade, levaria, em tese, à expedição de um mandado de prisão.

Não está claro como ficou o procedimento em meio ao apagão nacional, embora o canal estatal VTV tenha relatado que o opositor não compareceu, mas sem fazer referência a um possível pedido de prisão.

A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas de votação e afirma que os arquivos comprovam a vitória de González.

Esta iniciativa é justamente o cerne da convocação: "Usurpação de funções" e "forjamento de documento público" do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não publicou o detalhamento da apuração mesa por mesa, como exige a lei.

Os crimes podem, teoricamente, levar à pena máxima de 30 anos de prisão.

Juristas classificam o procedimento como irregular enquanto a coalizão Plataforma Unitaria Democrática (PUD) denuncia uma "perseguição política".

Maduro pediu prisão para González e para Machado. Ele os responsabiliza também por atos de violência nos protestos pós-eleições que resultaram em 27 mortos — incluindo dois militares — quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo menores de idade.
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