Israel afirma ter matado três líderes do Hamas "diretamente envolvidos na execução da massacre de 7 de outubro"Bashar TALEB / AFP
Publicado 10/09/2024 17:02
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, certifica que pelo menos 19 pessoas morreram nesta terça-feira (10) durante um ataque israelense. O bombardeio aéreo foi contra uma área humanitária em Al Mawasi, designada como zona segura por Israel no início da guerra contra o Hamas há mais de 11 meses. O exército alegou  ter atacado um "centro de comando" do movimento islamista palestino.
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A agência de Defesa Civil do território da Palestina havia dado um primeiro balanço de 40 mortos. No entanto, o ministério da Saúde detalhou posteriormente que "dezenove mártires" haviam sido levados aos hospitais e "mais de 60 pessoas" haviam ficado feridas, "algumas em estado grave". 
A discrepância no número de mortos deve-se aos diferentes métodos de contagem, já que o ministério conta apenas os corpos levados para hospitais, enquanto a Defesa Civil inclui também os ainda não recuperados.
O exército israelense havia questionado o primeiro número de mortos. Ele afirmou matou líderes militares do Hamas, incluindo três que considera "diretamente envolvidos na execução da massacre de 7 de outubro".
A guerra entre Israel e Hamas começou nessa data, quando militantes islamistas mataram 1.205 pessoas no sul de Israel, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses. Também sequestraram 251 pessoas, das quais 103 continuam retidas em Gaza.
Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e lançou uma ofensiva que já deixou 41.020 mortos em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território. Antes do conflito, havia 2,4 milhões de habitantes. A ONU aponta que a maioria das vítimas são mulheres e crianças.
"Famílias inteiras desapareceram"
Mahmud Basal, o porta-voz da Defesa Civil, afirmou que as pessoas refugiadas em Al Mawasi não foram alertadas sobre o ataque noturno e que a falta de equipamento dificultou as operações de resgate.
"Famílias inteiras desapareceram sob a areia no massacre de Al Mawasi em Khan Yunis", lamentou, acrescentando que o bombardeio deixou "três crateras profundas" no campo.
"Disseram-nos para irmos a Al Mawasi, então (...) nos instalamos aqui. A área foi bombardeada sem aviso prévio", contou à AFPTV um palestino deslocado, que preferiu não revelar seu nome. "Só há tendas de campanha ao nosso redor, abrigos, não há nada aqui. Vimos os mísseis caindo sobre nós", disse.
O exército israelense indicou em um comunicado que suas forças aéreas "atacaram terroristas do Hamas que operavam um centro de comando e controle localizado dentro da zona humanitária de Khan Yunis". O Hamas, considerado um movimento "terrorista" pelos Estados Unidos, Israel e União Europeia, qualificou como "mentira descarada" a alegação de que seus combatentes estivessem presentes em Al Mawasi.

Israel tem acusado repetidamente o Hamas de usar civis como escudos humanos, mas o grupo islamista nega. O fato de o exército israelense ter designado Al Mawasi como zona humanitária não impediu que realizasse operações na área.

Em julho, Israel reivindicou ter matado o líder militar do Hamas, Mohamed Deif, em um bombardeio que, segundo as autoridades de Gaza, deixou mais de 90 mortos.
"Uma guerra de guerrilhas"
O ataque desta terça-feira foi amplamente condenado por várias nações e pelo coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland. Países como Reino Unido, Turquia, Egito e Arábia Saudita também expressaram sua condenação. 
Estados Unidos, Catar e Egito estão há meses mediando entre as partes para obter um acordo de trégua em Gaza e a troca de prisioneiros palestinos por reféns israelenses, mas o diálogo está estagnado. O Hamas exige a retirada completa das tropas israelenses de Gaza, mas Israel insiste em mantê-las em um corredor na fronteira entre esse território palestino e o Egito.

Para o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, uma trégua seria uma "oportunidade estratégica" que daria ao seu país a "chance de mudar a situação de segurança em todas as frentes".

O Hamas "já não existe como uma formação militar" e agora só realiza "uma guerra de guerrilhas" em Gaza, disse em uma entrevista divulgada nesta terça. O conflito também intensificou a violência na Cisjordânia ocupada, onde as forças israelenses lançaram uma operação em grande escala em 28 de agosto.

O exército israelense afirmou nesta terça que é "muito provável" que suas forças tenham matado "involuntariamente" uma ativista turco-americana durante um protesto na região na semana passada. A morte de Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos, "é injustificável", reagiu o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.
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