Publicado 10/09/2024 18:37
A controversa reforma do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que propõe a eleição popular de juízes e magistrados, começou, nesta terça-feira (10), sua tramitação final no Senado, em meio a protestos, tensões com os Estados Unidos e nervosismo econômico.
A sessão começou com uma dura troca de acusações dentro do partido de oposição PAN, pois um de seus senadores, Miguel Ángel Yunes, se ausentou por motivo de saúde e foi substituído por seu pai, alimentando suspeitas de que a situação de esquerda poderia, assim, obter o voto que lhe faltaria para aprovar a reforma constitucional.
"Traidor! Pouco homem!", gritaram da bancada do conservador PAN para Miguel Ángel Yunes pai, também político, que não antecipou seu voto, embora estivesse acompanhado de líderes governistas.
"Covarde e traidor é você!", retrucou Yunes, dirigindo-se ao presidente do PAN, Marko Cortés.
Espera-se que o projeto seja votado entre terça e quarta-feira.
Com bandeiras do México e cartazes, centenas de trabalhadores do Poder Judiciário em greve se concentraram nos arredores do prédio do Legislativo para repudiar a iniciativa, aprovada na semana passada pela maioria governista na Câmara dos Deputados, que se reuniu em um ginásio poliesportivo porque sua sede foi bloqueada.
López Obrador, que entregará o poder para sua partidária Claudia Sheinbaum no dia 1º de outubro, garante que a eleição de juízes e magistrados, inclusive os da Suprema Corte, é urgente porque o Judiciário está "podre de corrupção".
"O que mais preocupa quem é contra esta reforma é que vão perder seus privilégios porque o poder Judiciário está a serviço de potentados (...), da criminalidade do colarinho branco", afirmou, nesta terça, o presidente, que tem 70% de popularidade.
Na véspera do debate, a presidente do Supremo, Norma Piña, equiparou a alteração a uma tentativa de "demolir o poder Judiciário", o que foi rejeitado pelo presidente, que mantém um duro confronto com a máxima corte, após esta bloquear reformas-chave nos setores de energia e segurança.
Caso único no mundo
PublicidadeA sessão começou com uma dura troca de acusações dentro do partido de oposição PAN, pois um de seus senadores, Miguel Ángel Yunes, se ausentou por motivo de saúde e foi substituído por seu pai, alimentando suspeitas de que a situação de esquerda poderia, assim, obter o voto que lhe faltaria para aprovar a reforma constitucional.
"Traidor! Pouco homem!", gritaram da bancada do conservador PAN para Miguel Ángel Yunes pai, também político, que não antecipou seu voto, embora estivesse acompanhado de líderes governistas.
"Covarde e traidor é você!", retrucou Yunes, dirigindo-se ao presidente do PAN, Marko Cortés.
Espera-se que o projeto seja votado entre terça e quarta-feira.
Com bandeiras do México e cartazes, centenas de trabalhadores do Poder Judiciário em greve se concentraram nos arredores do prédio do Legislativo para repudiar a iniciativa, aprovada na semana passada pela maioria governista na Câmara dos Deputados, que se reuniu em um ginásio poliesportivo porque sua sede foi bloqueada.
López Obrador, que entregará o poder para sua partidária Claudia Sheinbaum no dia 1º de outubro, garante que a eleição de juízes e magistrados, inclusive os da Suprema Corte, é urgente porque o Judiciário está "podre de corrupção".
"O que mais preocupa quem é contra esta reforma é que vão perder seus privilégios porque o poder Judiciário está a serviço de potentados (...), da criminalidade do colarinho branco", afirmou, nesta terça, o presidente, que tem 70% de popularidade.
Na véspera do debate, a presidente do Supremo, Norma Piña, equiparou a alteração a uma tentativa de "demolir o poder Judiciário", o que foi rejeitado pelo presidente, que mantém um duro confronto com a máxima corte, após esta bloquear reformas-chave nos setores de energia e segurança.
Caso único no mundo
A oposição, os Estados Unidos, especialistas das Nações Unidas e organizações como a Human Rights Watch afirmam que o voto direto vai minar a independência judicial e deixar os juízes à mercê do tráfico de drogas.
A emenda colocaria o México "em uma posição única em termos do método de eleição de juízes", assinalou Margaret Satterthwaite, relatora da ONU sobre a independência de juízes e advogados.
O outro caso similar na América Latina é o da Bolívia, onde os magistrados de altos tribunais são eleitos pelo voto popular, enquanto os juízes comuns são designados por um conselho da magistratura.
Mas a independência dos magistrados eleitos foi posta em dúvida em meio à disputa entre o presidente boliviano, Luis Arce, e seu padrinho político, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019).
A tramitação da proposta no Senado mexicano é marcada pelo suspense, uma vez que faltaria ao partido no poder um único voto para completar os 86 (dois terços) necessários para aprovar as reformas constitucionais, embora o líder do Senado, Gerardo Fernández Noroña, afirme que 85 seriam suficientes.
Com um passado de deserções e escândalos, o partido opositor PRI anunciou que reunirá seus senadores em um hotel após denunciar ameaças do crime organizado.
"Ao cara que vota contra [o que foi acordado pela oposição, que] linchem o idiota", pediu a senadora conservadora do PAN, María de Jesús Díaz.
Os partidos da oposição, PAN, PRI e Movimento Cidadão disseram que votarão contra a iniciativa, ao mesmo tempo em que denunciam pressões de parte da situação.
"Lutaremos até o fim para evitar este atropelo", escreveu no X a senadora do Movimento Cidadão, Alejandra Barrales.
"Intervencionistas"
A emenda colocaria o México "em uma posição única em termos do método de eleição de juízes", assinalou Margaret Satterthwaite, relatora da ONU sobre a independência de juízes e advogados.
O outro caso similar na América Latina é o da Bolívia, onde os magistrados de altos tribunais são eleitos pelo voto popular, enquanto os juízes comuns são designados por um conselho da magistratura.
Mas a independência dos magistrados eleitos foi posta em dúvida em meio à disputa entre o presidente boliviano, Luis Arce, e seu padrinho político, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019).
A tramitação da proposta no Senado mexicano é marcada pelo suspense, uma vez que faltaria ao partido no poder um único voto para completar os 86 (dois terços) necessários para aprovar as reformas constitucionais, embora o líder do Senado, Gerardo Fernández Noroña, afirme que 85 seriam suficientes.
Com um passado de deserções e escândalos, o partido opositor PRI anunciou que reunirá seus senadores em um hotel após denunciar ameaças do crime organizado.
"Ao cara que vota contra [o que foi acordado pela oposição, que] linchem o idiota", pediu a senadora conservadora do PAN, María de Jesús Díaz.
Os partidos da oposição, PAN, PRI e Movimento Cidadão disseram que votarão contra a iniciativa, ao mesmo tempo em que denunciam pressões de parte da situação.
"Lutaremos até o fim para evitar este atropelo", escreveu no X a senadora do Movimento Cidadão, Alejandra Barrales.
"Intervencionistas"
Os Estados Unidos e o Canadá também alertam para os danos à democracia e ao acordo de livre comércio T-MEC em caso de litígios, em um momento em que o México se consolida como o principal parceiro comercial do seu vizinho do norte.
López Obrador, que rejeita estas críticas, as quais denomina como "intervencionistas", insiste em que o voto direto aproximará a justiça da população do país, que registra diariamente cerca de 80 homicídios e onde a impunidade ultrapassa os 90%, segundo ONGs.
A presidente da corte apresentou no domingo duas propostas de reforma elaboradas pelo poder Judiciário que preveem maior orçamento para os tribunais locais, assim como a formação e a certificação de promotorias e polícias de investigação.
Na semana passada, López Obrador instou a corte a não bloquear a reforma, depois que a ministra Piña resolveu consultar seus colegas sobre se esse tribunal é competente para frear a iniciativa, como pediram funcionários judiciais mediante um recurso legal.
Especialistas afirmam que as preocupações de investidores sobre a reforma contribuíram com uma queda na cotação do peso frente ao dólar, embora López Obrador o atribua a "fatores externos".
López Obrador, que rejeita estas críticas, as quais denomina como "intervencionistas", insiste em que o voto direto aproximará a justiça da população do país, que registra diariamente cerca de 80 homicídios e onde a impunidade ultrapassa os 90%, segundo ONGs.
A presidente da corte apresentou no domingo duas propostas de reforma elaboradas pelo poder Judiciário que preveem maior orçamento para os tribunais locais, assim como a formação e a certificação de promotorias e polícias de investigação.
Na semana passada, López Obrador instou a corte a não bloquear a reforma, depois que a ministra Piña resolveu consultar seus colegas sobre se esse tribunal é competente para frear a iniciativa, como pediram funcionários judiciais mediante um recurso legal.
Especialistas afirmam que as preocupações de investidores sobre a reforma contribuíram com uma queda na cotação do peso frente ao dólar, embora López Obrador o atribua a "fatores externos".
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.