Presidente dos EUA, Joe BidenAFP
Publicado 12/09/2024 17:16
O governo do presidente Joe Biden sancionou, nesta quinta-feira (12), 16 funcionários venezuelanos, mas optou por não endurecer as restrições ao setor petrolífero, a menos de dois meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

A indústria petrolífera da Venezuela está sob sanções desde 2019. Washington havia aliviado as medidas por seis meses, mas as reimpôs em abril, alegando que o presidente Nicolás Maduro não cumpriu suas promessas eleitorais. 
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Ainda assim, Washington concede licenças individuais para que várias petrolíferas operem na Venezuela, como a americana Chevron, a espanhola Repsol e a francesa Maurel & Prom.
A oposição afirma que Edmundo González Urrutia venceu amplamente as eleições, de acordo com as atas de votação em seu poder. Os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos insistem em pedir às autoridades venezuelanas que publiquem a apuração detalhada, algo que ainda não ocorreu.
Os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos exigem que as autoridades venezuelanas publiquem a apuração detalhada, o que ainda não ocorreu.

Apesar da pressão, Washington se limitou a impor sanções econômicas a 16 funcionários venezuelanos, incluindo a presidente da Suprema Corte e líderes de órgãos eleitorais, da Assembleia Nacional, militares e membros dos serviços de inteligência.
Motivo da Cautela

A ausência de novas sanções ao setor petrolífero levanta questões. "O governo é muito cauteloso ao lidar com as licenças, especialmente as da Chevron, mas também de duas petrolíferas europeias", explicou à AFP Francisco Monaldi, diretor do Programa Latino-Americano de Energia do Instituto Baker, na Universidade de Rice, no Texas.
Monaldi destacou que a restauração completa das sanções poderia impactar severamente a economia venezuelana, aumentando o fluxo migratório para os EUA, um tema explorado pelo ex-presidente e candidato republicano Donald Trump, que enfrentará a vice-presidente democrata Kamala Harris nas eleições de novembro.

Além disso, Washington considera que as sanções ao setor petrolífero não foram eficazes para levar o governo venezuelano a negociações, preferindo manter algum nível de diálogo. As licenças são vitais para Maduro, mas, mesmo sem elas, ele parece determinado a se manter no poder.

Outro fator em jogo é a possível ocupação do espaço deixado pela Chevron por empresas russas ou chinesas, em um país com as maiores reservas de petróleo do mundo.

Em paralelo, o presidente russo, Vladimir Putin, convidou Maduro para a cúpula dos BRICS, prevista para outubro na cidade russa de Kazan.
Interesses nacionais 
Um funcionário americano se esquivou de uma pergunta sobre por que não foram impostas restrições ao petróleo.

"Estamos acompanhando de perto os eventos políticos e econômicos na Venezuela e estamos comprometidos em calibrar nossa política de sanções de forma adequada, em resposta tanto aos fatos quanto aos interesses nacionais mais amplos dos Estados Unidos", respondeu em coletiva de imprensa virtual.

No Congresso, há pressões para que Joe Biden tome novas medidas.

O presidente da Comissão Judiciária do Senado americano, o democrata Dick Durbin, apresentou nesta semana um projeto de lei para acabar com a "fortaleza financeira de Maduro".

"O regime de Maduro atualmente utiliza os rendimentos petrolíferos que dependem da participação dos Estados Unidos para manter seu estado policial", afirma Durbin.

Monaldi duvida que a proposta tenha viabilidade e estima que será necessário esperar até depois das eleições para ver o que acontece.
Pode haver "uma nova política, especialmente se Trump ganhar". O republicano já impôs ao país caribenho uma série de sanções, incluindo o embargo ao petróleo e ao gás, como medida de pressão para tentar provocar a queda de Maduro.

A Venezuela viu sua produção cair de três milhões de barris por dia há mais de uma década para 400 mil em 2020, devido à corrupção, má gestão e sanções americanas. Atualmente, o país extrai cerca de 870 mil barris diários.

Este colapso provocou uma diversificação da economia, que depende menos do petróleo e mais de outras atividades, como as remessas.

Segundo um relatório da ONG Transparência Venezuela, "o contrabando de drogas, ouro, combustível e a corrupção em portos e aduanas aumentou nos últimos anos".
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