Arévalo pediu a eleição de profissionais comprometidos com a justiça para evitar a continuidade da corrupção no JudiciárioJOHAN ORDONEZ / AFP
Publicado 20/09/2024 20:28
O Congresso da Guatemala elegerá os novos magistrados da Suprema Corte a partir da próxima semana, em um processo crucial para a luta contra a corrupção neste país em que o poder Judiciário é "sequestrado pelas máfias", segundo o presidente Bernardo Arévalo.

Os alarmes foram disparados por denúncias de interferência do chamado "Pacto da Corrupção", a suposta rede de políticos, promotores, juízes e empresários poderosos que, das sombras, puxam as cordas do poder no país há anos.

Confira os cinco pontos-chave sobre o processo.
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Sistema "deteriorado"
Os novos 13 membros da Suprema Corte e mais de 300 juízes dos Tribunais de Apelação para o período 2024-2029 devem ser eleitos pelo Parlamento antes de 13 de outubro.

Nesta eleição, "a democracia está em jogo na Guatemala, porque está em jogo a independência judicial", afirma a advogada mexicana Ana Delgadillo, membro de um painel de especialistas internacionais que acompanham o processo.

O sistema Judiciário "se deteriorou a ponto de estar agora a serviço de políticos envolvidos em redes criminosas e de corrupção", disse à AFP a diretora da ONG ProJusticia, Carmen Aída Ibarra.

A Guatemala ocupa o 30º lugar no ranking de corrupção da ONG Transparência Internacional, entre 180 países.

Segundo Arévalo e diversas ONGs, a face mais visível do 'Pacto da Corrupção" é a procuradora-geral, Consuelo Porras, sancionada pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Desafio para Arévalo
A eleição ocorrerá em meio aos esforços da Promotoria em tirar Arévalo do poder. Várias ações de Porras contra o presidente social-democrata foram endossadas pela atual Suprema Corte.

O coordenador do coletivo Alianza por las Reformas, Juan Pablo Muñoz, destaca que o "Pacto de Corrupção" tenta "recuperar aquela fonte de riqueza, de vagas [empregos] fantasmas, de contratos anômalos".

"Para o governo seria um fator de estabilidade que houvesse na Corte Suprema de Justiça pessoas que não se prestem ao jogo golpista" de Consuelo Porras, afirma Ibarra.
Monitoramento internacional
A deterioração do Judiciário se agravou sob os governos de direita de Jimmy Morales (2016-2020) e Alejandro Giammattei (2020-2024), segundo Ibarra.

De acordo com os observadores, os "poderes de fato" lutarão para manter sua influência no poder.

"O que estamos vendo é uma luta entre esses poderes de fato. Eles perderam o Executivo, mas não querem perder o Judiciário", disse a ex-ministra das Relações Exteriores do Chile Antonia Urrejola, que também faz parte do painel de especialistas internacionais.

Em um relatório preliminar apresentado na semana passada, o painel expressou sua "preocupação" devido aos indícios de "negociações paralelas por parte de atores econômico-políticos corruptos" para favorecer aspirantes ligados a eles.

Onze ONGs internacionais que promovem a transparência pediram, nesta sexta-feira, a escolha de "pessoas éticas, capazes e independentes" nas cortes.
Candidatos questionados
Entre os aspirantes estão funcionários sancionados por "corrupção" por Washington e pela UE, como o promotor Rafael Curruchiche, que abriu processos contra Arévalo e os críticos de Giammattei.

Além disso, 12 dos 13 atuais juízes da Suprema Corte tentam a reeleição, os quais têm regularmente decidido a favor de Porras.

O marido da procuradora-geral, Gilberto Porras, também concorre aos Tribunais de Apelações.

"Parece inconcebível que existam candidatos que foram sancionados internacionalmente por suas ações antidemocráticas e corruptas e que concorrem a altos cargos", afirma Urrejola.

Ibarra considera que a intenção de Porras é "colonizar" o Judiciário para "consolidar" a perseguição aos seus inimigos e favorecer os "acusados de corrupção de governos anteriores".

Arévalo pediu que sejam eleitos profissionais comprometidos com a justiça para impedir que o poder judiciário continue capturado "por interesses corruptos".

"Surpreende que continuem no processo aspirantes com graves apontamentos de corrupção (...), assinalados internacionalmente por minar a democracia", acrescentaram as ONGs estrangeiras.
Eleição forjada
O Congresso, dominado pela oposição, deve escolher os novos juízes a partir de listas de candidatos preparadas por uma comissão de acadêmicos, juízes e advogados.

Cerca de 20 ativistas se manifestaram, nesta sexta-feira, na universidade onde a comissão se reúne para exigir a exclusão da lista de Curruchiche e outros aspirantes questionados.

A bancada do partido Semilla, de Arévalo, sofreu reveses no Congresso, mas nas últimas semanas conseguiu consenso com as forças da oposição sobre algumas questões, incluindo o orçamento.

A eleição anterior de magistrados foi bloqueada em 2019, depois de ter sido relatado que um influente operador político tinha manipulado as listas de candidatos elegíveis.

Por este motivo, a Suprema Corte funcionou durante quatro anos, até novembro de 2023, com magistrados com mandatos vencidos.
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