Hanadi, mãe de Wael Masha, mostra uma foto de seu filho, morto em um bombardeio israelense na CisjordâniaReprodução/Zain Jaafar/AFP
Publicado 25/09/2024 10:38 | Atualizado 25/09/2024 10:40
Recém-libertado de uma prisão israelense, Wael Masha comemorou apoiado nos ombros de seus amigos nas ruas do campo de refugiados palestinos de Balata, na Cisjordânia, antes de retornar à sua casa e beijar os pés de sua mãe.
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Menos de um anos depois, os mesmos amigos carregaram o corpo deste jovem de 18 anos pelas mesmas ruas, depois de ter sido morto em um bombardeio pelas forças israelenses, que o descreveram como um perigoso militante armado.
Masha é um dos pelo menos três palestinos da Cisjordânia que foram detidos ainda adolescentes, libertados em novembro durante uma breve trégua na guerra em Gaza e posteriormente assassinados em operações militares israelenses neste território ocupado.
Israel afirma que suas operações e bombardeios na Cisjordânia, ocupada desde 1967, refletem a magnitude da ameaça representada pelos combatentes palestinos.
Mas a família de Wael considera que Israel está alimentando o problema que diz combater, prendendo jovens e abusando deles na prisão, levando-os a buscar vingança.
O jovem, que tinha 17 anos quando foi detido, abraçou a jihad após sua libertação e sabia quais poderiam ser as consequências, segundo sua família.
Alguns cartazes em sua memória mostram Wael empunhando uma arma automática, imagem bem diferente da memória de sua mãe.
"Ele adorava estudar e consertar computadores e celulares", conta Hanadi Masha à AFP de sua casa no campo de refugiados de Balata, a leste de Nablus, rodeada de fotografias de seu filho sorridente.
"Depois de sair da prisão, ele ficou com rancor por tudo que viu lá dentro", diz.
As consequências da guerra em Gaza, iniciada há quase um ano, tiveram impacto na Cisjordânia. As autoridades estimam que pelo menos 680 palestinos foram mortos neste território pelas forças israelenses e pelos colonos desde o ataque do movimento islamista Hamas, em 7 de outubro, que desencadeou a guerra.
Palestinos carregam o corpo de Wael Masha nas ruas do campo de deslocados de Balata, na Cisjordânia  - Reprodução/Zain Jaafar/AFP
Palestinos carregam o corpo de Wael Masha nas ruas do campo de deslocados de Balata, na Cisjordânia Reprodução/Zain Jaafar/AFP
As autoridades de Israel estimam que pelo menos 24 israelenses, incluindo soldados, foram mortos em ataques palestinos na Cisjordânia no mesmo período.
Antes da guerra, os ataques israelenses contra palestinos na Cisjordânia já eram comuns, como o que terminou com a prisão de Wael em novembro de 2022.
Ele foi levado para a prisão de Megiddo, no norte do país, e as autoridades israelenses condenaram-no a dois anos e meio de prisão por acusações que nunca foram reveladas à sua família.
Sua libertação ocorreu durante uma trégua entre Israel e o Hamas no final de novembro de 2023, durante a qual 105 reféns capturados em 7 de outubro foram trocados por 240 palestinos detidos em Israel.
Ao ser libertado da prisão, Wael explicou que havia sofrido maus-tratos: foi forçado a beijar a bandeira israelense e queimado com pontas de cigarro.
Seu pai, Bilal Masha, diz que esta experiência foi um "grande choque" que "mudou completamente as coisas" para ele. "Meu filho entrou como um cachorro e saiu como um leão", afirmou.
Tariq Daoud, outro adolescente palestino detido com Wael e libertado durante a trégua de novembro, também sofreu maus-tratos na prisão de Megiddo, contou à AFP seu irmão Khaled, na casa da família em Qalqiliya, no norte da Cisjordânia.
Sua prisão "destruiu todas as suas ambições", incluindo a de se tornar engenheiro ou médico, diz seu irmão. Em vez disso, juntou-se ao braço armado do Hamas.
Khaled afirma que os abusos sofridos por Tariq, que tinha 16 anos quando foi preso, forçaram-no a fazer uma confissão falsa, e ele foi acusado de posse ilegal de armas e tentativa de fabricar explosivos.
O Exército israelense matou Tariq Daoud na mesma semana que Wael Masha, depois de abrir fogo contra um colono israelense em Azzun, a leste de Qalqiliya, segundo seu irmão e o Exército.
Em Balata, a mãe de Wael diz que honra a memória do filho contando sobre ele aos irmãos e irmãs. "Ele era um jovem no auge da vida", diz ela, afirmando que o tempo que passou atrás das grades "colocou na sua cabeça esta ideia de resistência" contra Israel.
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