Ofensiva israelense busca garantir o retorno dos habitantes do norte deslocados pelos confrontos com o HezbollahKawnat Haju/AFP
Publicado 25/09/2024 18:40
Israel anunciou, nesta quarta-feira (25), que estava se preparando para uma "possível" ofensiva terrestre no Líbano, após vários dias de bombardeios contra posições do movimento islamista Hezbollah, em uma escalada que pode levar a uma "guerra total" no Oriente Médio, conforme alertou o presidente americano, Joe Biden.

"É possível ouvir os aviões daqui; estamos atacando o dia todo. Tanto para preparar o terreno para uma possível entrada, quanto para continuar atacando o Hezbollah", declarou o chefe do Estado-maior israelense, tenente-general Herzi Halevi, diante de uma brigada de tanques, segundo um comunicado militar.

"A sua entrada (no Líbano) com força (...) mostrará [ao Hezbollah] o que é encontrar uma força de combate profissional", acrescentou.

O Exército israelense anunciou anteriormente a mobilização de duas brigadas de reserva e seu deslocamento para o norte do país, para "continuar a luta" contra o Hezbollah.

Biden considerou, pouco depois desses anúncios, que "uma guerra total é possível", embora também tenha assegurado, em declarações à rede ABC, que "ainda há a oportunidade de se chegar a um acordo que poderia ser uma mudança fundamental para toda a região".
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Por enquanto, Israel, que afirma que sua ofensiva busca garantir o retorno dos habitantes do norte deslocados pelos confrontos com o Hezbollah, bombardeou pelo terceiro dia consecutivo o sul e o leste do Líbano, dois redutos da formação xiita Hezbollah apoiada pelo Irã.

Pelo menos "51 pessoas morreram e 223 ficaram feridas em vários bombardeios", que também tiveram como alvo vilarejos situados fora dos redutos do movimento, informou o ministro da Saúde libanês, Firass Abiad.

Mais de 90.000 pessoas foram forçadas desde a segunda-feira a abandonar suas casas no Líbano devido aos ataques israelenses, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência da ONU.

O Exército israelense indicou que havia bombardeado "mais de 2.000" posições do Hezbollah neste intervalo, incluindo "várias centenas" nesta quarta-feira.

Na segunda-feira, os primeiros ataques maciços israelenses no Líbano mataram 558 pessoas e feriram mais de 1.800, segundo as autoridades libanesas, o número mais alto em um dia desde o fim da guerra civil no país (1975-1990).

Desde outubro, um total de 1.247 pessoas, a maioria civis, morreram no Líbano em confrontos entre o Hezbollah e Israel, segundo a mesma fonte.
Clima de terror
Nur Hamad, uma estudante de 22 anos de Baalbek, descreveu nesta quarta-feira o "clima de terror" desde que começaram os bombardeios nos arredores da cidade.

"Passamos quatro ou cinco dias sem dormir, sem saber se iríamos acordar pela manhã. As crianças têm medo, os adultos também", disse.

Em Maaysara, em uma região montanhosa a cerca de 30 quilômetros ao norte de Beirute, um fotógrafo da AFP viu uma casa quase completamente destruída, onde socorristas removiam os escombros. Os mortos "eram civis que haviam evacuado suas casas" no sul do Líbano, declarou Fátima, moradora do vilarejo.
Míssil e drones contra Israel 
Em Israel, as sirenes antiaéreas soaram ao amanhecer em Tel Aviv, 100 km ao sul da fronteira libanesa, quando o Hezbollah disparou um míssil terra-terra que foi interceptado, segundo o exército.

"É a primeira vez que um míssil do Hezbollah alcança a área de Tel Aviv", informaram os militares.

O movimento xiita libanês afirmou que o alvo do míssil Qader era a sede do Mossad, serviço de inteligência exterior israelense, cujos agentes são considerados "responsáveis pelo assassinato dos líderes" do Hezbollah "e pelas explosões de pagers e rádios comunicadores" que deixaram dezenas de mortos na semana passada.

Durante a noite, a organização pró-iraniana Resistência Islâmica no Iraque reivindicou um ataque com drones na cidade portuária de Eilat, no sul de Israel.

O Exército israelense disse ter interceptado um drone vindo do leste e que outro caiu perto de Eilat, enquanto equipes de resgate relataram duas pessoas levemente feridas pelo ataque.
A pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU fará uma reunião de emergência nesta quarta-feira em Nova York, onde a preocupação com a escalada entre o Exército israelense e o Hezbollah domina a Assembleia Geral.
Terrível escalada
O chefe da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, teme que o Líbano se torne uma nova Faixa de Gaza, palco desde 7 de outubro de 2023 de um conflito arrasador entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.

O papa Francisco também denunciou no Vaticano a "terrível escalada" no Líbano, qualificando-a de "inaceitável".

"Estamos desferindo golpes que o Hezbollah nunca imaginou. E o estamos fazendo com força e astúcia. Posso prometer uma coisa: não descansaremos até que [as pessoas deslocadas no norte] retornem às suas casas", afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
O Hezbollah, por sua vez, prometeu continuar atacando Israel "até o fim da agressão em Gaza". Desde então, os confrontos não cessaram.

Além da onda de explosões de dispositivos de transmissão do Hezbollah na semana passada, atribuídas a Israel, um ataque israelense em 20 de setembro nos subúrbios do sul de Beirute dizimou a unidade de elite do movimento.

O guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que os recentes assassinatos no Líbano de vários líderes do Hezbollah por Israel não conseguirão "pôr de joelhos" o movimento.

A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque letal do Hamas que deixou 1.205 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses, que incluem os reféns que morreram ou foram assassinados no cativeiro em Gaza.

Das 251 pessoas sequestradas, 97 ainda permanecem em Gaza, 33 das quais foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que até o momento deixou 41.495 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
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