Mísseis sendo interceptados por sistema de defesa em Tel Aviv, na noite de 1º de outubroReprodução/Jack Guez/AFP
Publicado 02/10/2024 08:13 | Atualizado 02/10/2024 08:19
O Irã disparou nesta terça-feira, 1º, cerca de 180 mísseis balísticos contra Israel, em uma perigosa escalada que ameaça levar os dois países a uma guerra direta. Sirenes de alerta soaram em várias regiões do país e moradores correram para abrigos.

Israel já estava em estado de alerta. Os sistemas de defesa antiaéreos foram acionados e interceptaram a maioria dos disparos - alguns caíram em áreas abertas no centro e no sul de Israel. Uma escola na cidade de Gedera foi destruída. Um palestino morreu em Jericó, vítima de estilhaços de foguete.
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Mísseis sendo interceptados com o skyline de Tel Aviv, em Israel   - Reprodução/Jack Guez/AFP
Mísseis sendo interceptados com o skyline de Tel Aviv, em Israel Reprodução/Jack Guez/AFP


No momento do ataque iraniano, dois palestinos realizaram um atentado em Tel-Aviv, matando 8 e ferindo 12 pessoas com tiros e facadas. Os dois foram identificados como Mehmed Rajab e Hasan Tamimi, de Hebron, na Cisjordânia. Eles começaram a chacina em uma estação do metrô, e seguiram matando quem passava pelo Boulevard Jerusalém, a principal avenida de Jaffa, no sul da cidade.

Um carregava um fuzil. O outro, uma faca. Eles foram abatidos por um guarda municipal e civis armados. O atentado não tem relação direta com os ataques iranianos de ontem, mas foi um dos mais letais em Israel nos últimos anos. O ministro das Finanças, o extremista Bezalel Smotrich, defendeu que as famílias dos dois terroristas fossem "exiladas em Gaza" e suas casas, destruídas.

Resposta

Enquanto a polícia de Tel-Aviv investigava o caso, os céus da cidade eram iluminados por explosões de mísseis sendo interceptados em voo. O governo iraniano afirmou que o ataque era uma resposta às mortes de líderes de Hezbollah, Hamas e de um comandante da Força Quds, todos em operações de Israel.

A ordem foi dada pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e os mísseis teriam sido disparados pela Guarda Revolucionária, força de elite do Irã. O presidente do país, Masoud Pezeshkian, teria sido informado no último instante. Após o ataque, Pezeshkian afirmou que ele representa apenas uma parte da capacidade ofensiva do país - e fez um aviso. "Não entrem em confronto com o Irã."

Em comunicado, a Guarda Revolucionária fez uma advertência para que Israel não responda à ação, caso contrário haverá "mais ataques esmagadores e destrutivos". O texto cita os assassinatos de Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas, morto em Teerã, em julho, Hasan Nasrallah, líder do Hezbollah, e de Abbas Nilforoushan, comandante da Força Quds, ambos em um bombardeio israelense em Beirute, na semana passada.

O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, afirmou que o ataque "terá consequências". "Agiremos na hora e no local que escolhermos", disse. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que os iranianos "cometeram um erro grave". "O regime do Irã não entende nossa determinação de nos defender e de retaliar nossos inimigos."

O ex-premiê Naftali Bennett, hoje na oposição, apontado como principal alternativa a Netanyahu em caso de um nova eleição, defendeu um ataque que destrua a capacidade nuclear do Irã. "Israel tem a maior oportunidade em 50 anos para mudar o Oriente Médio", disse. "Temos de destruir o programa nuclear do Irã."

As reações internacionais foram imediatas. O premiê britânico, Keir Starmer, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, condenaram o Irã. O presidente dos EUA, Joe Biden, reiterou seu apoio a Israel e disse que o ataque havia sido "frustrado e ineficaz".

Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, revelou que destróieres americanos ajudaram a abater os mísseis iranianos. Segundo ele, houve um "planejamento conjunto e meticuloso em antecipação ao ataque". O Pentágono havia soado o alarme durante o dia e coordenado a defesa de Israel.

Segundo militares americanos, o ataque de ontem teve "o dobro do alcance" do registrado em abril, quando os iranianos lançaram mais de 300 mísseis e drones contra Israel em uma noite de sábado. Os equipamentos disparados ontem, no entanto, eram mais poderosos, segundo o Pentágono.

A escalada de violência também ganhou a campanha eleitoral americana. Enquanto Kamala Harris, candidata democrata, apoiou Israel e chamou o Irã de "força desestabilizadora", o republicano Donald Trump criticou a Casa Branca. "O mundo está fora de controle. Temos um presidente omisso e uma vice ausente", disse. "Quando eu era presidente, o Irã estava completamente sob controle."

Líbano, Jordânia e Iraque fecharam ontem brevemente seus espaços aéreos em razão dos disparos de mísseis. O Irã suspendeu os voos no aeroporto de Teerã. Os preços do petróleo fecharam em alta. O tipo WTI, principal referência nos EUA, subiu 2,44%, fechando a US$ 69,83 o barril. O Brent aumentou 2,59%, fechando a US$ 73,56 o barril.

Líbano

Os disparos do Irã foram feitos menos de 24 horas depois de Israel ordenar uma invasão terrestre do Líbano para enfraquecer a estrutura militar do Hezbollah, milícia xiita libanesa apoiada pelo Irã. Desde os ataques do Hamas, em 7 de outubro, o grupo vem fustigando vilas e cidades do norte israelense com foguetes, provocando a fuga de milhares de moradores para o sul do país.

Os bombardeios israelenses continuaram ontem no sul do Líbano e em Beirute - 55 pessoas morreram. O Exército de Israel disse ter destruído 100 alvos do Hezbollah, a maioria locais de lançamento de foguetes e depósitos de armas. A ofensiva também prosseguiu em Gaza e na Cisjordânia. Autoridades palestinas registraram 21 mortos em ataques aéreos israelenses. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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