Publicado 02/10/2024 09:31 | Atualizado 02/10/2024 09:32
Claudia Sheinbaum, do partido esquerdista Morena, tomou posse nesta terça-feira (1º) no Congresso como a primeira mulher presidente do México, com a promessa de respeitar as liberdades e os investimentos privados.
PublicidadeO Congresso ressoou com gritos de "presidenta, presidenta!" no momento em que Sheinbaum, de 62 anos, prometeu respeitar a Constituição do México e "desempenhar leal e patrioticamente o cargo (...), sempre cuidando do bem e da prosperidade".
"Pela primeira vez, nós, mulheres, chegamos para conduzir os destinos da nossa bela nação", disse a ex-prefeita da Cidade do México (2018-2023), que assumiu o poder no país de língua espanhola mais populoso do mundo, na presença de diversas autoridades estrangeiras, como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden.
Chamou atenção a ausência do rei Felipe VI da Espanha, a quem Sheinbaum se recusou a convidar, acusando-o de se negar a reconhecer o dano causado aos povos originários pela colonização. Como forma de protesto, Madri se negou a enviar qualquer representação.
À tarde, após um almoço no Palácio Nacional com dirigentes convidados, a presidente saiu ao Zócalo, a praça central da capital, para saudar dezenas de milhares de apoiadores e participar de uma cerimônia pré-hispânica.
Ela recebeu uma "limpeza" de mulheres indígenas, que lhe entregaram o chamado "bastão de comando", símbolo do poder político e espiritual dos povos originários.
A presidente deu seu primeiro discurso público, no qual enumerou uma centena de compromissos que fez em sua campanha antes da vitória esmagadora nas eleições de 2 de junho. "Não vou falhar com vocês!", prometeu.
"É uma honra estar com Claudia hoje!", respondeu a multidão.
"No nosso governo, vamos garantir todas as liberdades (...) Quem quer que diga que haverá autoritarismo, estará mentindo", disse a presidente logo após sua posse.
O mandato único de seis anos de Sheinbaum, uma cientista de formação, começa sob a sombra de uma polêmica reforma do judiciário impulsionada por seu antecessor, López Obrador, para que juízes e magistrados sejam eleitos pelo voto popular, um modelo único no mundo.
Os Estados Unidos, principais parceiros do México, criticaram a reforma, dizendo que representa um "risco" e uma "ameaça" para a relação entre os dois países.
"Tenham certeza de que os investimentos de acionistas nacionais e estrangeiros estarão seguros no nosso país", acrescentou a presidente, buscando acalmar preocupações.
Ela disse que no âmbito do tratado de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá, o T-MEC, se buscará a realocação das empresas no México. "Não competimos, nos complementamos", ressaltou.
E assegurou que o Banco do México (central) manterá sua autonomia, que a política fiscal será responsável e que haverá uma proporção razoável entre dívida e produto interno bruto (PIB).
O presidente americano, Joe Biden, foi um dos primeiros a desejar a Sheinbaum um governo "de sucesso" e referendou o compromisso de Washington de "continuar trabalhando com o México para alcançar o futuro democrático, próspero e seguro" para os dois países.
Sobre a ampla e às vezes espinhosa relação bilateral com os Estados Unidos, especialistas confiam em que ela manterá boas relações com quem vencer as eleições presidenciais de novembro, especialmente se for a democrata Kamala Harris.
Outro grande desafio é a espiral de violência ligada ao narcotráfico, em meio à qual foram registrados mais de 450.000 homicídios no país desde o fim de 2006.
A presidente sentenciou que não voltará a "guerra" contra o narcotráfico, mas será mantida a estratégia de López Obrador de combater as causas mediante programas sociais para jovens a fim de evitar que sejam recrutados pela criminalidade.
Ela disse, no entanto, que serão reforçados os trabalhos de inteligência e investigação e que será fortalecida a Guarda Nacional, que passou ao controle do Exército em meio a críticas de opositores, defensores dos direitos humanos e até das Nações Unidas.
"Será uma versão modificada do 'abraços, não tiros' (de López Obrador), que dependerá mais da inteligência, estratégia que foi "muito bem sucedida" quando ela foi prefeita, avaliou a professora Pamela Starr, especialista em México da Universidade do Sul da Califórnia.
Sheinbaum, que prometeu aprofundar o projeto de AMLO, chega ao poder com uma aprovação superior a 70%, segundo um estudo da rede Milenio, alguns pontos acima de seu antecessor.
Nesta quarta-feira, ela terá sua primeira edição da coletiva de imprensa matinal conhecida como "mañanera", instaurada por López Obrador de segunda a sexta, e à tarde fará a primeira viagem de trabalho a Guerrero (sul), estado atingido pelo furacão John, onde deixou pelo menos 16 mortos e custosos danos materiais.
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