Secretário-geral da ONU, António GuterresAFP
Publicado 29/10/2024 15:00
O chefe da ONU, António Guterres, pediu nesta terça-feira (29) à humanidade que saia da "crise existencial" que a leva a destruir a natureza, enquanto os chefes de Estado e ministros do mundo se reúnem na cidade colombiana de Cali para desbloquear as negociações na COP16.

"A cada minuto, despejamos um caminhão de lixo com resíduos plásticos nos nossos oceanos, rios e lagos. Não se enganem. É assim que funciona uma crise existencial", disse Guterres a centenas de delegados da cúpula.

A COP16, maior reunião de cúpula das Nações Unidas sobre o tema, pretende estabelecer mecanismos para financiar e monitorar o cumprimento das 23 metas de conservação natural fixadas no Canadá há dois anos.

Sob o lema "Paz com a Natureza", os 196 países da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) ainda não alcançaram acordos sobre como financiar os objetivos, colocar 30% do planeta sob proteção mínima, reduzir pela metade os riscos dos pesticidas e a introdução de espécies invasoras e compartilhar os lucros das informações genéticas extraídas de plantas e animais - para uso medicinal, por exemplo - com as comunidades de onde procedem.

O tempo é curto. A reunião termina na sexta-feira, 1º de novembro, e faltam apenas cinco anos para alcançar as 23 metas estabelecidas na reunião anterior, incluindo declarar 30% dos mares, solos e massas de água doce como áreas protegidas até 2030.

"Nenhum país, rico ou pobre, está imune à devastação causada pela mudança climática, pela perda de biodiversidade, pela degradação dos solos e pela poluição", continuou Guterres.

A COP reúne chefes de Estado de Colômbia, Equador, Armênia, Guiné-Bissau, Haiti e Suriname, além de 115 ministros e 44 vice-ministros.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, deu as boas-vindas aos delegados na "capital mundial da biodiversidade" antes de um discurso de 45 minutos apresentando farpas anticapitalistas e contra os combustíveis fósseis.

"Pior que o apocalipse"
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No mundo, apenas 17,6% do território e 8,4% dos oceanos e costas estão protegidos, destacaram na segunda-feira várias organizações ambientais em um relatório com o título 'Protected Planet' (Planeta Protegido).

"Para atingir as metas, será necessário delimitar uma área terrestre quase do tamanho do Brasil e uma área marinha maior que o Oceano Índico até 2030", enfatizam os autores do documento.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) denunciou que mais de um terço das espécies de árvores estão sob risco de extinção no planeta, incluindo variedades cruciais para obtenção de lenha, combustíveis, alimentos e medicamentos.

Das 166.061 espécies de plantas e animais avaliadas pela organização, quase 46 mil estão em risco de extinção.

"O que estamos vivendo é pior que o apocalipse", alertou Petro em um discurso que recebeu aplausos de uma parte da sala.

A COP16 conta com a presença recorde de 23 mil delegados e 1.200 jornalistas, segundo os organizadores.

A "Zona Verde", um espaço no centro da terceira maior cidade da Colômbia com atividades culturais e exposições comerciais, virou ponto de encontro de milhares de moradores e ativistas. As negociações, no entanto, acontecem a portas fechadas na chamada "Zona Azul".

"A biodiversidade é uma aliada da humanidade. Devemos deixar de saqueá-la e passar a preservá-la", exclamou o chefe da ONU.

"Mais financiamento"
"Já alcançamos um primeiro objetivo, que era elevar o perfil político da COP da biodiversidade e colocá-la no mesmo nível das reuniões de cúpula sobre a crise climática", declarou a presidente do evento, Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente da Colômbia.

Ela alertou, no entanto, que o Fundo do Marco Global para a Biodiversidade (GBFF, na sigla em inglês), acordado na COP15, "precisa de mais financiamento".

Até o momento, os países se comprometeram a contribuir com quase 400 milhões de dólares (2,28 bilhões de reais) para o fundo destinado a implementar o acordo de Kunming-Montreal, que na COP15 estabeleceu um plano para interromper a destruição da natureza.

O dado inclui 163 milhões que Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido e a província canadense de Quebec se comprometeram a pagar na segunda-feira.

Mas o pacto estabelece que os países devem mobilizar pelo menos 200 bilhões de dólares (1,14 trilhão de reais) por ano para proteger a biodiversidade até 2030, incluindo 20 bilhões de dólares (114 bilhões de reais) anuais que os países ricos deveriam liberar a partir de 2025 para ajudar as outras nações.
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