Descoberta pode revolucionar a pesquisa biomédica, tornando o diagnóstico de câncer de pele mais precoceAFP PHOTO / RIKEN
Publicado 08/11/2024 21:21
No livro "O homem invisível", escrito por H.G. Wells em 1897, o protagonista cria um soro capaz de alterar os índices de refração da luz e, dessa forma, fazer com que todas as células de seu corpo fiquem transparentes. Mais de 100 anos depois, cientistas descobriram uma versão real da substância imaginada pelo escritor: trata-se de um corante amarelo comumente usado pela indústria de alimentos em salgadinhos e balas. Usando essa substância, eles conseguiram fazer com que a pele de um camundongo ficasse temporariamente transparente, permitindo ver os seus órgãos internos em funcionamento. O trabalho foi publicado na revista Science.
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A descoberta pode revolucionar a pesquisa biomédica, sobretudo se o efeito constatado nos camundongos for observado também em seres humanos. As aplicações na Medicina são inúmeras. Tornar o diagnóstico de câncer de pele mais precoce, facilitar a retirada de sangue para exames, e ajudar na administração de fluidos são algumas delas.
No trabalho, os cientistas conseguiram fazer com que a pele da cabeça e da barriga de camundongos vivos ficasse transparente aplicando uma mistura de água com o corante amarelo chamado tartrazina. O pelo dos camundongos foi retirado previamente. Depois de retirada a solução da pele dos animais, a transparência desaparecia.
"Para aqueles que entendem alguns princípios básicos da Física, faz todo o sentido; mas para quem não está familiarizado parece mesmo um truque de mágica", disse o principal autor do estudo, Zihao Ou, professor de física na Universidade do Texas em Dallas
Sem truque
Na verdade, não existe mágica alguma, apenas alguns princípios básicos da óptica, o ramo da Física que estuda a interação da luz com os objetos. As moléculas do corante absorvem mais luz fazendo com que ela passe através da pele, e suprimindo a capacidade natural do tecido de refletir a luz.
"Nós combinamos a tinta amarela, que absorve a maior parte da luz, especialmente azul e ultravioleta, com a pele, que é um meio refletor", explicou Ou. "Quando colocamos as duas coisas juntas, conseguimos a transparência na pele do camundongo."
Quando a tinta está totalmente espalhada na pele, ela se torna transparente. "Leva alguns minutos para a transparência aparecer", explicou o cientista. "Depende de quão rápido a pele absorve as moléculas da tinta."
Nos camundongos, os cientistas conseguiram observar os vasos sanguíneos do cérebro. Os órgãos internos também ficaram visíveis em seu abdômen, bem como as contrações musculares, e o caminho percorrido pelos alimentos no trato digestivo.
Os pesquisadores ainda não testaram a experiência em seres humanos, e não sabem qual seria a dosagem necessária de corante. A pele humana é cerca de dez vezes mais grossa do que a de um camundongo.
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