Publicado 16/11/2024 12:16 | Atualizado 16/11/2024 12:18
O presidente francês, Emmanuel Macron, se reunirá neste sábado (16), na Argentina, com o presidente ultraliberal Javier Milei, admirador de Donald Trump, com a esperança de conduzi-lo ao "consenso internacional", às vésperas da cúpula do G20 no Brasil.
PublicidadeMacron deve chegar no fim da tarde deste sábado a Buenos Aires, onde será recepcionado para um jantar privado por seu homólogo argentino, que o receberá novamente no domingo, antes de ambos partirem para participar da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, na segunda e terça-feira.
Tem sido um período agitado para Milei, que acabou de retornar da residência de Trump na Flórida, onde participou de um fórum conservador no qual propôs criar uma "aliança" com os Estados Unidos, Itália e Israel para proteger o "legado ocidental", que, segundo ele, está ameaçado pela "hegemonia cultural da esquerda".
Milei e Trump consideram a possibilidade de se afastar dos grandes acordos multilaterais sobre o clima.
Nesse contexto, Macron, que tem a posição oposta, espera "superar" as "diferenças", principalmente em questões ambientais, para "convencer a Argentina a se unir ao consenso internacional (...) e às prioridades do G20", segundo fontes do Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.
A Argentina retirou na quarta-feira sua delegação das negociações climáticas da COP29 no Azerbaijão, em uma decisão abrupta e inesperada, e especula-se sobre sua possível saída do Acordo de Paris sobre o clima.
Macron é um dos poucos líderes estrangeiros a visitar Buenos Aires desde a posse de Milei em dezembro.
"Se Macron não conseguir convencer Milei a permanecer no Acordo de Paris, ficará demonstrado que ele perdeu sua influência na região", afirma Oscar Soria, diretor da The Common Initiative, uma organização ambientalista com sede em Nova York.
Para Alejandro Frenkel, especialista em relações internacionais da Universidade Nacional de San Martín, Macron tem interesse em "se estabelecer como uma figura representativa" em questões ambientais e "marcar uma posição".
O líder francês já havia se oposto ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro em questões ambientais.
Embora as reformas de Milei para restaurar o equilíbrio fiscal da Argentina e tentar sair de uma crise econômica profunda sejam polêmicas a nível local, a França é mais otimista e considera que "estão na direção certa".
Paris também pretende aprofundar as relações econômicas, especialmente no setor de metais críticos, já que o grupo minerador Eramet acabou de inaugurar uma mina de lítio na Argentina.
Também se espera que Macron aproveite sua visita para impulsionar a possível venda de submarinos franceses Scorpène, embora a presidência francesa minimize o estado das negociações.
Para o mandatário francês, "a prioridade não está tanto nos temas políticos da agenda bilateral, que claramente não estão muito alinhados, mas em outras questões relacionadas à possibilidade de um acordo para a venda de material bélico", afirma Ariel González Levaggi, do Conselho Argentino para as Relações Internacionais (Cari).
"A Argentina atualmente não tem submarinos operacionais, e para a Marinha Argentina isso é uma prioridade", acrescentou.
No domingo, Macron também prestará homenagem aos quase 20 cidadãos franceses desaparecidos e assassinados durante a ditadura militar argentina (1976-1979), uma página sombria da história argentina sobre a qual Milei é frequentemente acusado de revisionismo por seus críticos.
Após a Argentina e o G20, Macron viajará para o Chile, onde fará, na quinta-feira, um discurso em Valparaíso sobre sua política em relação à América Latina.
Leia mais