O governo islamista afegão está tentando acabar com a circulação de toda literatura "não islâmica"Reprodução / Ahmad Sahel Arman / AFP
Publicado 21/11/2024 10:37 | Atualizado 21/11/2024 13:51
Em um armazém alfandegário no oeste do Afeganistão, um funcionário do Talibã folheia um livro em inglês enquanto outro, com uniforme camuflado, procura imagens de seres vivos em outra obra, proibidas de acordo com algumas interpretações da lei islâmica.
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O governo islamista afegão está tentando acabar com a circulação de toda literatura "não islâmica" e antigovernamental no país com inspeções, retirada de livros de bibliotecas e livrarias ou listas de títulos proibidos.
A campanha é liderada por uma comissão criada pelo Ministério da Informação e Cultura após o retorno do Talibã ao poder em 2021 e a implementação de sua interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica.
Em outubro, o ministério anunciou que a comissão havia identificado 400 livros "que entravam em conflito com os valores islâmicos e afegãos, a maioria deles encontrados em mercados".
O departamento responsável pela publicação distribuiu cópias do Alcorão e de outros textos islâmicos para substituir os livros apreendidos, informou em um comunicado.
"Há muita censura. É muito difícil trabalhar e o medo se espalhou por toda parte", disse à AFP um editor em Cabul.
O governo anterior, apoiado pelo Ocidente e deposto pelo Talibã, já restringia alguns textos. Mas "não havia medo, você podia dizer o que quisesse", acrescentou o editor.
Na última gestão talibã, entre 1996 e 2001, havia poucas editoras e livrarias em Cabul, considerando o impacto de décadas de guerra no país. Atualmente, milhares de livros são importados todas as semanas do vizinho Irã, com quem compartilham a língua persa.
"Não proibimos livros de um país ou pessoa específicos, mas examinamos os livros e bloqueamos aqueles que são contrários à religião, a sharia ou o governo, ou se tiverem fotos de seres vivos", diz Mohamad Sediq Khademi, funcionário do departamento de Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, na cidade de Herat.
"Qualquer livro contra a religião, a fé, o culto, a sharia, etc., não será permitido", insiste o funcionário de 38 anos à AFP.
Imagens de seres vivos são proibidas de acordo com uma recente lei "do vício e da virtude", que reflete as regras impostas pelo Talibã após seu retorno ao poder, embora nem todas sejam aplicadas igualmente.
Os importadores receberam avisos sobre quais livros devem ser evitados. Quando um título é considerado inadequado, eles têm a opção de devolvê-lo para obter um reembolso, afirma Khademi. "Mas se não puderem, não temos outra opção a não ser apreendê-los", diz ele.
As autoridades não vão de loja em loja em busca de exemplares proibidos, segundo um livreiro de Herat e um funcionário do departamento de informações da província, que pediu para não ser identificado. Mas alguns livros foram retirados das bibliotecas de Herat e das livrarias de Cabul, diz outro livreiro que também pediu anonimato.
Em Cabul ou Takhar (uma província do norte onde alguns livreiros receberam listas de 400 títulos vetados), ainda há livros proibidos nas prateleiras das lojas.
Muitas obras não afegãs estão proibidas, explica um livreiro. "Eles analisam o autor, o nome que consta na obra e a maioria delas é proibida" se o autor for estrangeiro.
 
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