Temperatura média superará 'em mais de 1,5°C o nível pré-industrial'Reprodução
Publicado 09/12/2024 07:41 | Atualizado 09/12/2024 07:42
O ano de 2024 será o mais quente já registrado e será o primeiro a superar o nível de aquecimento de 1,5°C em comparação com o período pré-industrial, limite estabelecido pelo Acordo de Paris, anunciou nesta segunda-feira (9) o observatório europeu Copernicus.

Depois de registrar o segundo novembro mais quente desde o início da compilação de dados, "há uma certeza de que 2024 será o ano mais quente nos registros" e a temperatura média superará "em mais de 1,5°C o nível pré-industrial", informou o Serviço de Mudança Climática (C3S) do Copernicus.

Novembro, caracterizado por uma sucessão de tufões devastadores na Ásia e a continuidade das secas históricas na África austral e na Amazônia, foi 1,62°C mais quente que um novembro normal na época em que a humanidade não utilizava petróleo, gás ou carvão em escalas industriais.

Novembro foi o 16º dos 17 últimos meses que registrou uma anomalia de 1,5°C na comparação com o período 1850-1900, segundo o banco de dados ERA5 do Copernicus.

A barreira simbólica corresponde ao limite mais ambicioso do Acordo de Paris de 2015, que busca conter o aquecimento abaixo dos 2°C e prosseguir com os esforços para limitá-lo a 1,5°C.

O acordo se refere a tendências a longo prazo: a média de aquecimento de 1,5°C deverá ser observada ao longo de pelo menos 20 anos para considerar o limite superado.

Levando em consideração este critério, o aquecimento atual está em 1,3°C. O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) considera que o limite de 1,5°C provavelmente será alcançado entre 2030 e 2035.

E seja qual for a evolução das emissões dos gases do efeito estufa da humanidade, estará próximo do limite, mas ainda sem registrar uma tendência de queda.

Cerca de 310 bilhões de dólares de danos 
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Segundo os cálculos mais recentes da ONU, o mundo não está no caminho adequado para reduzir a poluição de carbono e evitar um forte agravamento das secas, ondas de calor ou chuvas torrenciais já observadas, que causam muitas mortes e impactos econômicos.

As políticas atuais dos países levam o mundo na direção de um aquecimento "catastrófico" de 3,1°C durante o século, ou de 2,6°C caso as promessas anunciadas sejam cumpridas, segundo a ONU Meio Ambiente.

Os países têm até fevereiro para apresentar às Nações Unidas a revisão de seus objetivos climáticos até 2035, denominados "contribuições nacionalmente determinadas" (NDC).

Mas os acordos mínimos da COP29 do final de novembro podem ser mencionados para justificar ambições modestas.

Os países em desenvolvimento receberam a promessa de uma ajuda anual de 300 bilhões de dólares (1,8 trilhão de reais) dos países ricos até 2035, ou seja, menos da metade de sua demanda para financiar a transição energética e a adaptação aos danos climáticos.

A COP29 de Baku terminou sem o compromisso explícito para acelerar a "transição" rumo ao fim do uso das energias fósseis, aprovada na COP28 em Dubai.

Em 2024, as catástrofes naturais, alimentadas pelo aquecimento, provocaram perdas econômicas de 310 bilhões de dólares (1,9 trilhão de reais) no mundo, anunciou na semana passada a Swiss Re, empresa suíça que atua como seguradora das seguradoras.

'Redução das nuvens?'
Em 2023, o fenômeno natural El Niño se combinou com o aquecimento climático de origem humana para levar as temperaturas mundiais a um nível recorde. Como explicar o novo pico em 2024?

O ano seguinte ao El Niño "é frequentemente mais quente que o primeiro" e após um ponto máximo em dezembro-janeiro "o valor é distribuído ao longo do ano", disse à AFP o cientista Robert Vautard.

Mas, em 2024, "é verdade que o resfriamento é muito lento e as causas terão que ser analisadas", acrescenta.

"Por enquanto, permanecemos dentro das margens esperadas das projeções, mas se as temperaturas não baixarem com mais clareza em 2025, teremos que fazer perguntas", disse, antes de viajar para uma sessão de trabalho do IPCC em Kuala Lumpur.

Um estudo publicado na revista Science na quinta-feira aponta que em 2023 a Terra refletiu menos energia solar no espaço, devido à redução das nuvens de baixa altitude e, em menor medida, pela diminuição da camada de gelo.

Na Antártica, a camada de gelo permanece em níveis historicamente baixos desde 2023, destaca o Copernicus, com um novo recorde de derretimento observado em novembro.
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