
Publicado 24/03/2025 19:50
Em 24 de março de 1976, na Argentina, um golpe de Estado depôs o governo de María Estela Martínez de Perón, conhecida como Isabelita Perón, dando início a uma das ditaduras mais violentas da América Latina, que perduraria até 1983, resultando em perseguições, sequestros, torturas e assassinatos que vitimaram mais de 30 mil pessoas. Após a retomada da democracia, o Dia da Memória, Verdade e Justiça, lembrado nesta segunda-feira (24), passou a fazer parte do calendário nacional de mobilização da sociedade civil argentina, que se reúne em marchas pelo país afora.
PublicidadeO ato deste ano também marcou uma histórica unidade entre os principais movimentos sociais e de direitos humanos, o que não ocorria há pelo menos 19 anos. A marcha unificada reuniu milhares de pessoas na capital, Buenos Aires, bem como nas principais cidades do país, como Córdoba, Mendoza, Rosário e Santa Fé, em um contexto de oposição às políticas neoliberais e à visão do governo do atual presidente, Javier Milei, sobre a ditadura militar argentina. O mandatário de extrema-direita costuma se referir ao período ditatorial argentino como "uma guerra" em que "se cometeram excessos", mas não condena o desaparecimento, a tortura, o assassinato nem o sequestro de bebês dos opositores do regime.
A própria vice-presidente do país, Victoria Villarruel, é oriunda de família de militares e já defendeu a revisão da políticas de reparação e indenização às vítimas e parentes de mortos e desaparecidos políticos durante o regime.
Em Buenos Aires, a marcha saiu das proximidades da Avenida 9 de Julho em direção à Praça de Maio, onde fica a Casa Rosada, sede da Presidência da República. O ato foi organizado pelas entidades Mães e Avós da Praça de Maio, o agrupamento HIJOS (Filhos por Identidade e Justiça, na sigla em espanhol), movimentos de direitos humanos, sindicatos e partidos políticos, incluindo os peronistas.
"Lutamos por restituir a identidade das centenas de bebês roubados pela ditadura. A apropriação foi um desaparecimento forçado que continua se repetindo enquanto não se recupera a verdadeira identidade dessas pessoas", discursou a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, em um palco montado na própria praça histórica.
Uma das políticas sistemáticas da ditadura argentina foi justamente o sequestro e roubo de bebês de mães militantes políticas que estavam presas em centros clandestinos de tortura. Essas crianças eram então repassadas para adoção por outras famílias, muitas das quais ligada a militares. São provavelmente centenas de casos jamais elucidados, e os movimentos de mães e avós da Praça de Maio emergiram dessa busca por verdade e justiça, tornando-se referência na luta por direitos humanos no país.
Mais cedo, o governo Milei anunciou a desclassificação total de todas as informações da Secretaria de Inteligência do Estado (SIDE) sobre o período repressivo da segunda metade da década de 1970, e, ao mesmo tempo, reconheceu que um ataque do grupo armado ERP, de oposição ao regime militar, contra a família do capitão Humberto Viola trata-se de crime contra a humanidade.
"O governo do Presidente Milei tem um compromisso inabalável com os direitos humanos e contar a história completa é uma tarefa crucial neste caminho", afirmou o porta-voz da Presidência argentina, Manuel Adorni, segundo meios de comunicação locais.
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