Aula de musicalização com escaleta Divulgação / PMN
Publicado 16/10/2024 21:54 | Atualizado 17/10/2024 23:17
Nilópolis - A sala de aulas comum, com cadeiras, carteiras e um quadro negro, muda à medida que se entra no espaço. Um piano instalado do lado esquerdo do quadro, partituras e muitas cabeças brancas empenhadas em aprender a tocar uma canção na aula de musicalização para a terceira idade da professora Sônia Leal. Educadora com especialização em gerontologia pela UERJ, ela executava a música com delicadeza nas teclas brancas e pretas do piano.
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Seus alunos têm média de 60 anos ou mais e são divididos em três turmas: uma das 9h às 12h , outra das 14h às 17h e um grupo que se dedica à seresta na Escola Municipal de Música Weberty Bernardino Aniceto, no bairro Frigorífico, em Nilópolis.
A primeira turma é de musicalização com a escaleta, a outra aprofunda os conhecimentos musicais na escaleta e há o grupo da seresta - Divulgação / PMN
A primeira turma é de musicalização com a escaleta, a outra aprofunda os conhecimentos musicais na escaleta e há o grupo da serestaDivulgação / PMN
Os alunos estão aprendendo a teclar na escaleta - instrumento musical que une teclado e sopro. A primeira turma é de musicalização com a escaleta, a outra aprofunda os conhecimentos musicais na escaleta e há o grupo da seresta. Eles precisaram ficar quatro meses sem aulas, enquanto a Prefeitura de Nilópolis promovia uma reforma no andar do CIEP Professora Stela de Queiroz, onde funcionam as escolas de música e de dança. Nas salas da escola de música, os operários fizeram o rebaixamento de teto, pintura das salas e reforma dos banheiros.
"A musicalização é uma introdução teórica das noções principais de música e ela é feita através da escaleta, para que eles possam não ter somente a música de papel, no caderno, do exercício. O objetivo é que eles consigam identificar o que estão estudando através dos sons. Já no primeiro ano eles começam a tocar músicas simples e vão crescendo, tocando outros tipos de músicas a cada semestre. O curso é feito em dois anos e, depois desses período, podem reingressar na escola para estudar o curso geral, de 3 anos. E aí eles vão escolher se vão estudar canto, teclado, violino, violão", explicou Sônia Leal, professora de música concursada na Secretaria Municipal de Cultura.

Sônia Leal leciona há 22 anos na escola de música e explicou como surgiu o grupo de seresta. " Surgiu há 20a nos como uma forma de confraternização e também porque havia alunos que não queriam aprender música, e sim ter uma atividade social ligada à música. Então, essas pessoas vão para cantar e os alunos que estão aprendendo vão tocar. Antigamente, eles ingressavam no curso iniciante e já aprendiam os instrumentos, mas tinham muita dificuldade. Aos poucos, fomos formatando o curso e, após a musicalização com as ideias centrais e a escaleta, depois passam para o restante", contou a professora.
A professora de psicologia Ana Lúcia Carvalho em sala de aula com alunos no campus da UFF em Campos dos GoytacazesDivulgação / PMN


'Over the rainbow' ou, 'Além do Arco-Íris', como ficou conhecida em Português, era a balada que os aprendizes tocavam nas escaletas acompanhando Sônia Leal. Composta por Harold Arlen e Yip Hamburb, a bela canção escrita para o filme 'O Mágico de Oz' ganhadora do Oscar de 1939 e, até hoje, uma das mais famosas do cinema americano, conquistou a atenção dos alunos, que se esmeravam na execução da música.

Regina de Almeida, moradora do bairro Novo Horizonte, é uma das pessoas que frequentam as aulas de música há dez anos. " Eu tinha uma sonho desde adolescente de aprender a tocar violão, mas não tinha condições financeiras de pagar aulas particulares de música", recorda Regina, balconista aposentada que está com 73 anos. Ela elogiou a iniciativa de a Prefeitura oferecer aulas para a terceira idade. " Eu fico muito feliz em participar, achava que não iria conseguir aprender. Isso é algo muito bom para a minha autoestima e, quando consigo tocar uma música que eu já conheço, já ouvi no rádio, eu me sinto muito grata e feliz", comemorou.

Ela foi além: aprendeu a tocar flauta doce e flauta contralto. " Eu me sinto muito feliz cada vez que piso nesta escola. Estudo em casa, treino. Também faço pintura em tecido. Conheci aqui dando aulas de artesanato no projeto Escola Aberta, fiz amizade com senhoras que estudam música e me inscrevi", lembrou, feliz. Aposentado, mas do setor de telefonia, Osnir de Souza, 74 anos, define os dois anos que participa das aulas como uma terapia. " Estou muito feliz ali e parabenizo a Prefeitura por este projeto na Escola de Música. Todos são muito bacanas, professores e diretoria".
Os alunos estão aprendendo a teclar na escaleta - instrumento musical que une teclado e soproDivulgação / PMN


Também frequentadora da escola há 10 anos, a professora aposentada Edna Brandes da Silva, 79 anos, mora em Mesquita, e soube das aulas por uma amiga que estudava ali. " O amor, a música e a necessidade de exercitar meu cérebro são fundamentais para depois dos 60 anos e a aposentadoria. Treino em casa com frequência, e com o acompanhamento da professora que é notável. Eu tenho prazer em tocar e contribui também para a minha saúde mental. Eu me sinto muito feliz tocando", finalizou.

Professora do Departamento de Psicologia e colaboradora na Universidade para a Terceira Idade (UNITI) na UFF em Campos dos Goytacazes, Ana Lúcia Carvalho soube do trabalho realizado pela Escola de Música de Nilópolis e elogiou a iniciativa. " É muito importante esse tipo de trabalho voltado aos idosos. Somos seres em constante processo de desenvolvimento, caracterizado por mudanças físicas, afetivas e cognitivas. Há um declínio no adulto idoso das funções cognitivas, como a memória e a atenção, por exemplo", comparou.

Ele lembrou que o nosso cérebro se modifica de acordo com o tipo de relação que temos com o ambiente. "Assim, a aprendizagem de novas habilidades, como tocar um instrumento, e as próprias interações sociais promovidas neste ambiente são favoráveis para os processos cognitivos", explicou Ana Lúcia, doutora em Biociências Nucleares (área de interface entre a biologia e a psicologia) pela UERJ. "São inegáveis os benefícios desta aprendizagem para a manutenção da saúde e da qualidade de vida em indivíduos idosos", concluiu.
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