O Laboratório de Tecnologia de Produtos Naturais da Universidade Federal Fluminense (LTPN/UFF) desenvolveu novos biocidas ou inseticidas naturais.Divulgação site UFF
Publicado 25/01/2023 08:01
O Laboratório de Tecnologia de Produtos Naturais da Universidade Federal Fluminense (LTPN/UFF) desenvolveu um estudo biológico de algumas espécies vegetais encontradas no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, localizado no litoral norte do estado do Rio de Janeiro, ocupando áreas dos municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã para desenvolver novos biocidas ou inseticidas naturais que sejam eficazes e diminuam o impacto na natureza provocado produtos sintéticos.

O coordenador do projeto, professor Leandro Machado Rocha, da Faculdade de Farmácia da UFF, conta que o uso indiscriminado de inseticidas sintéticos vem causando um grande impacto no meio ambiente, na saúde dos agricultores que os aplicam e na população que consome esses produtos.
“Encontrar novos inseticidas naturais obtidos a partir das plantas passa a ser muito importante a partir do momento em que a sociedade anseia pelo consumo de produtos agrícolas mais seguros e saudáveis. Uma forma de obter isso é através do desenvolvimento de bioinseticidas ou biocidas mais seguros, que cooperem com a preservação do meio ambiente e do planeta”, explica Leandro.

Os biocidas sintéticos, também conhecidos como agrotóxicos ou pesticidas, são extremamente potentes, mas podem contribuir para a poluição de rios, deixar resíduos nos alimentos e ainda eliminar organismos que não são alvo, como as abelhas. Nesse contexto, a busca por biocidas naturais, que geram menos impacto ecológico, é importante para a utilização na produção de alimentos.

Segundo o professor, as plantas pesquisadas no Parque Nacional evoluíram com os insetos.
“Essas espécies ocupam uma área arenosa à beira do mar, pobre em nutrientes, com alta salinidade e temperaturas elevadas. Portanto, tiveram que desenvolver um processo metabólico que as permitissem se adaptar a um ambiente inóspito, quase inabitável para a maioria das outras plantas. Muitas das que sobreviveram foram exatamente as que conseguiram sintetizar sozinhas seus próprios inseticidas e são essas substâncias produzidas naturalmente pelas plantas que pretendemos encontrar ao realizar este projeto de pesquisa”, disse Rocha.

Leandro relata que a busca pelas substâncias inseticidas produzidas pelas espécies vegetais pesquisadas no laboratório e a produção de biocidas naturais se tornaram as principais frentes de trabalho do LPTN/UFF.
“A nanotecnologia associada a produtos naturais se mostra uma alternativa promissora para a obtenção de inseticidas mais seguros e sustentáveis. Após a extração desses biocidas naturais produzidos pelas plantas, os produtos são preparados em forma de nanoemulsões, a fim de serem mais facilmente utilizados na agricultura”, pontua o professor.

A produção agrícola é a primeira preocupação nas pesquisas de biocidas naturais, já que as pragas agrárias se mostram cada vez mais resistentes aos biocidas sintéticos, o que tem exigido sua utilização em doses crescentes.
“Outra preocupação do estudo é quanto à defesa das abelhas, importantes na produção de mel e própolis e vitais na polinização das plantas. É através da polinização que as plantas frutificam e geram alimentos. O uso de inseticidas sintéticos pode estar contribuindo para a destruição das abelhas. As pesquisas desenvolvidas no laboratório demonstram ser possível obter inseticidas que funcionem contra as pragas agrícolas e, simultaneamente, preservem as abelhas. Esse cenário é o melhor dos mundos para a proteção do planeta e a garantia de alimentos para a sociedade”, conclui Leandro.


A professora Sorele Fiaux enfatiza ainda a importância do controle de fungos e de outros microrganismos através do uso de fungicidas que não coloquem em risco a segurança ambiental e a saúde humana.
“Os agrotóxicos podem poluir o ar, o solo e as águas superficiais e subterrâneas, afetando, com isso, a fauna e a flora local. Em relação à saúde humana, podem ser afetados tanto os trabalhadores agrícolas e as populações do entorno das plantações quanto os consumidores finais dos alimentos", disse a professora.
Ela lembra ainda que o uso indiscriminado destes produtos pode trazer a resistência microbiana, o que leva à necessidade de produtos mais tóxicos, em muitos casos. "Infelizmente, ainda que saibam dos riscos, os agricultores acabam cedendo à aplicação de substâncias inapropriadas devido à falta de alternativas mais seguras e acessíveis economicamente. Nosso projeto indica como boa alternativa os biofungicidas desenvolvidos a partir da grande biodiversidade brasileira”, finaliza Fiaux.
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