A atriz Tati Villela é nascida e criada no morro do Cubango.Divulgação
Publicado 16/02/2023 09:46
A novela “Vai na Fé”, recém estreada, já bateu recorde de audiência, e tem niteroiense contribuindo e muito para esse sucesso. Talento consolidado no teatro e no cinema, a atriz nascida e criada no morro do Cubango,Tati Villela está em seu primeiro papel na TV, no elenco da novela das sete, da Rede Globo.
No folhetim, Tati dá vida a personagem Naira. Premiada como ‘Melhor Atriz’ no Festival do Rio, por sua atuação no filme “Mundo Novo”, de Álvaros Campos, a artista também é autora do livro “Pretamofose”, integra o “Confraria do Impossivel” empresa constituida por artistas negros, além de fazer parte da banda de Ritual-Performace e dramaturgia preta “Dembaia”.


Tati se une a um elenco de peso que conta com Sheron Menezes, Carolina Dieckmann e Jonathan Haagensen. Na trama, ela contracena com José Loreto, que interpreta o cantor Lui Lorenzo e Renata Sorrah, que interpreta a mãe dele, Wilma.


Empolgada com a personagem Tati conta que a vê como uma super heroína. “Naira está me trazendo muita felicidade pela oportunidade de mostrar o meu trabalho para milhões de pessoas. Acredito que a arte serve para acalentar, alegrar e também para politizar”, afirma a atriz, que foi além e complementa:
“Vivemos num momento onde não podemos mais engessar e cair nos velhos estereótipos de sempre, ainda mais eu sendo uma mulher preta, retinta e alta. Se deixarmos, continuaremos nos colocando no mesmo lugar. Portanto, eu estou tentando construir um personagem mais humanizado. A Naira tem cenas onde ela é a pessoa que resolve tudo, que liga, que abre, que acha. Eu a vejo como uma super-heroína, como muitas que vemos por aí: que pegam ônibus, trem lotado, vão pro trabalho servir a pessoas que muitas vezes até as tratam mal e passam sem ser percebidas”, frisa Tati.


Escrita por Rosane Svartman, autora de diversos sucessos na Globo, como as novelas “Totalmente Demais” e “Bom Sucesso”, “Vai na Fé” tem agradado o público. Dividindo cena com Renata Sorrah, Tati ressalta: “É interessante a construção que eu e Renata Sorrah estamos dando às nossas personagens. Elas apresentam intimidade, confiança e amizade. E não é aquele papo racista de falar que é da família. É um cuidado de alguém mais novo com alguém mais velho; que ama, que cuida, que respeita, que está atento, sobretudo por sermos duas mulheres.”


Para Tati, essa nova experiência, agora televisiva, tem sido muito gratificante e enriquecedora. “Tô muito feliz com meu trabalho e estou dando a sorte de estar numa novela com uma temática que chega até o povo, além de ter um grande número de atores pretos no elenco, o que me dá um acalento no coração de não estar sozinha”, pontua.


Villela iniciou sua caminhada na arte ainda pequena. Ao longo da vida, fez cursos de teatro e participou de diversos projetos culturais em busca de uma carreira artística. A arte, aliás, já estava no sangue da família, repleta de sambistas, compositores e escritores, mas nem todos puderam exercer plenamente os seus sonhos. “Tenho tias que cantavam lindamente, mas para conseguir se manter, precisaram buscar outros caminhos, e se tornaram empregadas domésticas e funcionárias públicas”, conta.
“Meus pais sempre trabalharam duro e nos falaram que o estudo era a solução. Lembro que eu não tive coragem de prestar vestibular para Artes Cênicas. Queria fazer algo que pudesse dar mais condições à minha família”, sendo assim ela decidiu fazer Química Industrial na UFRRJ, no entanto os caminhos da vida a fizeram voltar à arte, onde, definitivamente, é o seu lugar. Com orgulho, ela diz: “Atualmente, eu consigo viver como artista”, ressalta ela.


Tati acumula um vasto currículo no teatro e atualmente integra o time da Confraria do Impossível, um premiado grupo artístico negro que realiza intervenções culturais e políticas na cidade do Rio de Janeiro desde 2009. Além disso, atua como performer, compositora e dramaturga no Grupo Dembaia, um grupo formado por cinco mulheres pretas que desenvolvem um trabalho de sonoridades da África do Oeste e diáspora, como jazz, funk e blues. No cinema, já atuou em filmes, um deles, inclusive, chamado “Mundo Novo”, lhe rendeu o prêmio de ‘Melhor Atriz’ no Festival do Rio 2021.
Além deste, “De pai para filho”, que será lançado no ano que vem, o longa-metragem internacional “Mary”, do diretor português Pedro Varella, e a série “How to be a Carioca”, disponível na Star+. Também é dramaturga do espetáculo de grande sucesso chamado "Amor e outras revoluções", em que atua ao lado da namorada Mariana Nunes; nesta peça, o amor entre duas mulheres pretas ocupam o centro da cena.
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