Mario Sousa e a jornalista Gabriela Linhares, coordenadora do Projeto "Trocas em Cena".Divulgação
Publicado 10/05/2023 09:01 | Atualizado 10/05/2023 09:05
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O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPRJ), Mario Sousa, durante uma entrevista a jornalista Gabriela Linhares, coordenadora do Projeto  “Trocas em Cena”, deu uma verdadeira aula do que foi a ditadura militar. Ele que é jornalista, escritor e diretor de Teatro, emocionado, recordou dos velhos tempos e de quando o sistema era implacável contra os artistas e jornalistas.
O jornalista falou de sua trajetória, desde que chegou em Niterói há meio século vindo de Belém do Pará, como artista plástico e estudante de Teatro transferido da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará para o Conservatório de Teatro, hoje UniRio, no Rio.
Mário lembrou que participou de salões de arte e era muito censurado pelos seus trabalhos. Na sua primeira experiência de teatro em Belém foi destacado como revelação de cenógrafo. No Rio, foi implacavelmente perseguido pela ditadura quando dirigia a peça de Berthol Brecht, “Aquele que diz Sim, Aquele que diz Não”.
Convidado de Paschoal Carlos Magno Mario contou que trabalhou na Comissão do IV Centenário de Niterói e com um grupo de colegas do Conservatório criou a companhia ECT – Expansão Cultura e Teatro, que foi considerado o grupo oficial de Teatro do IV Centenário. "A Companhia se apresentou na Semana Santa, com uma peça religiosa, no Teatro Municipal", ressaltou o entrevistado. Ele disse que na ocasião foi o coordenador do curso de teatro, com todos professores do Conservatório. "Entre eles, Pernambuco de Oliveira, Orlando Macedo, Nelia Laport e Glorinha Bertemuller, que foi realizado no Sesc, com sucesso", afirmou o jornalista.

Mário lembrou que sua passagem para o Jornalismo começou com um convite da jornalista Lou Pacheco, colunista do LIG e assessora também da Comissão do IV Centenário, que o convidou para fazer uma coluna de Teatro. "Muito tempo depois fiz o Curso de Jornalismo na Faculdade Hélio Alonso", recordou o presidente.

Na entrevista Mário explicou sua vida no teatro e disse que nunca foi de uma linha reta de produções mas de ciclos de trabalhos. Para ele, uma das maiores experiências humanas que viveu no teatro foi o trabalho que desenvolveu para moradores de rua no Centro de Recuperação de Itaipu.
“Foram dias e dias de convivência com moradores de rua para que houvesse um diálogo e confiança. A cada passo descobria um ex-artista de circo, um músico, um poeta, um cantor de coral que pertencia a uma família conhecida na cidade. A maioria com dificuldades financeiras e alcoólatras. Após meses, começamos desenvolver técnicas de teatro e conseguimos produzir um espetáculo com que cada uma sabia fazer. O cantor do coral, quando falei que nós iríamos apresentar o trabalho no Teatro Leopoldo Fróes, pediu para não aparecer pois certamente, segundo ele, seria reconhecido por alguém da plateia e seria uma grande vergonha para ele", recordou Mario.
"No dia do espetáculo a TV Globo veio filmar e ele percebeu e me perguntou se podia mudar a cena e ele aparecer. Mas você não me pediu para não aparecer? Por favor, sempre foi meu sonho cantar e aparecer numa Televisão. Não vou ter nenhuma oportunidade na vida para isso. Eu quero realizar este sonho. E assim foi feito. Sua voz era tão expressiva que a reportagem começou e terminou com ele cantando a Ave Maria”, contou Mario.
Sobre a Companhia de Teatro ETC o jornalista lembrou de vários trabalhos apresentados em escolas e festivais e com a peça “Brincando de Brincar”: num festival nacional, em Arcozelo. "Pouco antes da apresentação Ana Caldeira, uma das atrizes, teve um torção no pé, mesmo assim, com muitas dores e descalça, se apresentou, dançou balé clássico, foi aplaudida e o espetáculo foi considerado o destaque do Festival", relembrou Sousa.

Em sua trajetória, Mário lembrou o curso que fez com Augusto Boal e depois, através de palestras, cursos, oficinas, em várias faculdades e colégios, desenvolveu o projeto Teatro sem Mistério, também desenvolvido com Simone Gomes, bailarina e professora de Expressão Corporal para professores da Rede municipal da cidade do Rio de Janeiro.

Com Simone Gomes, Mário contou que destacou também o trabalho desenvolvido com idoso, no Clube Ideal, chancelado pelo Ministério da Previdência, que resultou num espetáculo. Outro ciclo importante, segundo Mário Sousa, foi sua passagem como diretor e professor de Teatro na Faculdade Souza Marques, em Cascadura, na Zona Norte do Rio. “Uma experiência voltada para universitários de todas áreas, com produções de peças, apresentadas não só na faculdade mas nas comunidades, associações e festivais. “Foi uma experiência de muita reflexão pois em todas apresentações promovíamos debates com os estudantes e a plateia”.
Mario também lembrou de sua passagem como diretor da FAC, hoje Fundação de Artes de Niterói (FAN), relembrando dois projetos: O Sábado é dia de Criar, com transformação das escolas municipais em espaços culturais aos sábados, tendo como prioridade resgatar e mostrar as experiências artísticas da comunidade.
Outros trabalhos destacados por Mário foi sua participação como fundador da ATACEN- Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói e da criação do Fórum de Artes Cênicas de Niterói, com Elyzio Falcato, Antonio Carlos De Caz e Lucia Cerrone.
Ao fim, Mário relembrou da época que a censura era implacável. "Até nas peças infantis tinham que ser feito um ensaio exclusivo para os censores definirem o que podia ser apresentado e sempre censuravam textos", lamentou Mário Sousa.
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