Chris Fuscaldo: diretora da Niterói Livros explica a criação da FLINDivulgação/Ascom
Publicado 12/12/2023 08:46 | Atualizado 12/12/2023 11:38
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Niterói – A cidade de Niterói sempre teve grande potencial para o fomento da literatura. Centenas de autores estão espalhados por todos os bairros, diversas editoras vêm surgindo driblando um mercado pouco favorável, três academias de Letras são sediadas na cidade e a Prefeitura mantém há 30 anos um selo pioneiro em sua Fundação de Arte, o Niterói Livros. Projeto idealizado por Jorge Roberto Silveira junto ao Niterói Discos durante sua gestão e fundado em 1993 pelo então prefeito João Sampaio, o selo foi tombado pelo vereador Marcos Sabino em 5 de dezembro de 2022 como patrimônio cultural imaterial do município. No entanto, algumas feiras tentaram se estabelecer na cidade, mas nunca se pensou em uma festa que celebrasse a literatura e toda a classe de profissionais do livro. No aniversário de 30 anos da Niterói Livros, que coincidiu em novembro com o de 450 anos da cidade, finalmente uma iniciativa saiu vitoriosa: à frente da Niterói Livros desde janeiro de 2021, a diretora Chris Fuscaldo idealizou e emplacou a primeira FLIN (Festa Literária Internacional de Niterói).
Produzida pela equipe da Fundação de Arte de Niterói, a FLIN reuniu literatura, música, teatro e cinema, com foco na diversidade e acessibilidade, nos dias 1, 2 e 3 de dezembro, no Reserva Cultural, deixando uma marca surpreendente para uma primeira edição: mais de 4.000 pessoas passaram por lá, 18 editoras foram contempladas com estandes através de um edital, 2 revistas e 3 livrarias ocuparam outros espaços, 60 autores locais e nacionais participaram de debates e 65 lançaram livros. Além disso, foram distribuídos quase 400 livros de diversos títulos da Niterói Livros (“Campo de São Bento”, “A Vida Sportiva de Nictheroy”, “Cultura é Território” etc) para os visitantes e para os autores convidados.
“Devido a minha experiência no mercado literário nacional e internacional, eu sempre penso grande, tendo a consciência de que devemos começar pequeno, para evitar erros irreversíveis e aprender com a experiência. No entanto, o trabalho do time da Niterói Livros junto à equipe da FAN foi primoroso e alcançamos números surpreendentes. Vale ressaltar que o selo tem uma diretora, eu, e um estagiário, o Gabriel Barros. Mas pudemos contar com o auxílio luxuoso de uma consultora especialista em estruturar festas literárias, e o de três curadores que analisaram o mapeamento que abrimos para conhecer os autores de Niterói, montaram as sugestões de mesas de debate e fizeram contato com os convidados”, conta Chris Fuscaldo.
Biógrafa consagrada, a pesquisadora musical e jornalista com mestrado e doutorado em Letras Chris Fuscaldo tem experiência em eventos de literatura: como editora, participa da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), entre outros; como autora, já foi de Flipoços (Festival Literário Internacional de Poços de Caldas) ao LER (Festival do Leitor); como curadora, vem trabalhando no Filigram (Festival Internacional Literário de Gramado). Conhecida no meio e com livros lançados no Brasil e no exterior – é também imortal da Academia Niteroiense de Letras –, Fuscaldo não teve dúvida na hora de montar o time de curadores: Elisa Ventura convidou os autores de projeção nacional, Celso Possas Jr. se relacionou com os autores locais e Jef Rodriguez teve como foco a literatura periférica.
Para democratizar o acesso, um mapeamento foi aberto e mais de 200 autores se inscreveram – todos foram analisados por seu currículo e suas demandas e os selecionados receberam cachê por sua participação – e um edital publicado em diário oficial habilitou as editoras que ocuparam os estandes gratuitamente.
“Desde as primeiras conversas, bati na tecla dos cachês. Importantíssimo o poder público fomentar não só o evento como investir nos autores e nas editoras, permitindo a ocupação dos espaços sem custos, coisa rara em eventos de literatura. Outra lição que aprendi e repassei a todos os envolvidos é que festa é sinônimo de valorização. Para isso, sugerimos a todos os editores e lojistas não baixar os preços de seus produtos nem fazer promoções que precarizam a cadeia produtiva e desvalorizam os profissionais do livro, desde o autor até o próprio editor e vendedor”, explica Chris Fuscaldo.
Junto à equipe de produção da FAN, a Niterói Livros montou a agenda de shows, eventos infantis e peças de teatro. O cinema a céu aberto ficou a cargo do Pedro Gradella, coordenador do Centro de Artes UFF. A parceria da FAN com a Universidade Federal Fluminense permitiu ainda que alunos do curso de Produção Cultural pudessem realizar uma espécie de estágio, enriquecendo ainda mais o time que trabalhou durante os três dias de evento. Lucilia Machado foi convidada a montar uma mesa sobre acessibilidade e Jordão Pablo de Pão, servidor da FAN desde 2008 e autor da cidade, organizou a agenda de lançamentos e a curadoria do Encontro de Saraus
Autores como os músicos Martinho da Vila – o homenageado da primeira edição, por sugestão do time de curadores – e MC Marechal vieram para compartilhar sua contribuição artística em mesas que celebraram, respectivamente, os saberes ancestrais e os 50 anos do hip hop. Imortais da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin e Rosiska Darcy de Oliveira foram convidados a dialogar com presidentes das academias locais, Márcia Pessanha (Fluminense), Paulo Roberto Ceccheti (Niteroiense) e Matilde Slaibi Conti (Cenáculo Fluminense de História e Letras). Aproveitando a parceria da FAN com a “cidade irmã” Nazaré, vieram representar a literatura portuguesa Afonso Cruz e Joana Bertholo. Chris Fuscaldo mediou uma mesa sobre biografias na qual estavam biógrafos de Araribóia (Rafael Freitas), Pelé (Asgélica Basthi), Roberto Carlos (Paulo César de Araujo) e Paulo Leminski (Toninho Vaz).
“O time que a Niterói Livros montou foi importantíssimo para o sucesso da FLIN. Elisa e Celso foram autores de outros projetos na cidade: ela, de um que não vingou por causa da pandemia; e ele, da Flinit (Feira Literária de Niterói), evento com outro formato que foi sucesso em 2018 e 2019, mas que ele preferiu não dar continuidade para poder fazer algo maior junto à Niterói Livros e à FAN. A FLIN, inclusive, nasceu em um café em que Celso me pediu para não deixar o sonho morrer. Daquele dia até conseguir o aval do presidente da FAN, Fernando Brandão, eu não sosseguei. Tenho um caminho já percorrido fora de Niterói, mas preferi não me acomodar e trazer essa experiência e insistência para a minha cidade. Quando eu sair da Niterói Livros – cargos públicos de confiança são temporários – eu vou deixar esse legado para quem vier depois”, afirma.
Além da FLIN, a Niterói Livros da Chris Fuscaldo entregou também o Aplicativo Niterói Livros, com todo o acervo do selo digitalizado e transformado em eBook, o acervo do selo reunido e organizado (hoje, guardado na Biblioteca Parque de Niterói) e um catálogo com os lançamentos de 1993 a 2020, impresso em 2021, antes do lançamento dos únicos livros editados em sua gestão, o físico “Campo de São Bento – Trajetórias e Memórias do Parque Prefeito Ferraz” e o eBook “I Antologia Niterói Hoje”. Por esses e outros feitos realizados pela sua cidade, o vereador Marcos Sabino vai entregar à “ilustríssima escritora” a medalha José Cândido de Carvalho.
Chris Fuscaldo afirma que o legado maior de sua gestão será, depois da reorganização do selo, manter a FLIN no calendário da cidade para que, um dia, ela possa ser tão grande quanto outras festas do país.
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