José Geraldo Demézio e a turma da OST: inclusão, desenvolvimento e profissionalização de novos atores, de todas as idadesDivulgação/OST
Publicado 13/05/2024 07:32
Niterói – Craque da dramaturgia em Niterói, o ator, diretor e professor José Geraldo Demézio tem visto sua companhia e escola de teatro – a Oficina Social de Teatro (OST) – conquistar mais espaço e alçar novos voos na cidade onde a escola nasceu e foi criada. José Geraldo tem larga experiência no meio e talento de sobra para conduzir o acolhimento e a profissionalização de aspirantes a atores, de todas as idades.

Sua trajetória solitária – não é de família de artistas – começou quando resolveu fazer nos anos 90 o Curso Básico de Formação de Atores, que acontecia no Teatro da UFF, em Icaraí, e era ministrado com método próprio da saudosa professora e diretora Alice Carvalho. Lá ele estudou, fez amigos, leituras dramatizadas, ensaios e projetos, assimilando e reprocessando tudo que aprendeu, aliado às características, evoluções e tecnologias da modernidade, sem perder o viés educativo e clássico da arte dramatúrgica. Um desafio e tanto.

O ator, diretor e professor Renato Moraes acompanha José Geraldo desde o começo. “Reencontrei o José Geraldo no curso da Alice, e de lá para cá, caminhamos juntos. Ele já era meu amigo de infância. Cheguei a ser professor da OST e, hoje em dia, estou lá como ator – e temos as microcompanhias, interpretando textos com eixos diferenciados – e nossa trajetória foi alimentada pelo sonho de ser ator. Fiz cursos com diversos atores, incluindo a Cristina Pereira, na Casa da Gávea, além de cursos na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras). Hoje utilizo tudo que aprendi na OST", diz ele.

Tudo começou quando José Geraldo se percebeu artista, ainda criança. "Sempre fui convocado pelo ambiente da arte. Não havia registro semelhante na minha família, foi um desejo muito pessoal e que necessitou um esforço de minha parte. Fui por mim mesmo em busca, sendo presenteado por referencias que me estimularam e fortaleceram, com foi a Alice Carvalho, nos anos 90. Foram 14 ou 15 anos caminhando com ela, tendo que sobreviver também, mas fui encorajado a seguir sozinho esse primeiro passo. Fui atrás de uma formação mais plena, após fazer muito o trabalho por amor e desejo. Queria ensinar o que aprendi. Eu comecei dando aulas em academias e no São Dom Dom, na Cantareira, onde fui muito acolhido", explicou José Geraldo. "Fazia teatro ali na rua, na praça, foi uma extensão do que já se fazia no teatro mesmo. Assim começou a OST”, completou ele.

Renato explica que, hoje, existem novos eixos na companhia. "Criamos três microcompanhias, e os alunos recém-formados trabalham com atores convidados e fazem parte de uma montagem, o que viabiliza o ator para o mercado de trabalho”, explica o ator e parceiro da escola.

José Geraldo Demézio explica que, para além da arte dramática, o aluno aprende sobre a vida. “Como o teatro pode ajudar a formar socialmente a pessoa? Onde começa o meu direito e acaba o do outro? Estes são desafios atuais, para nós professores, quando se fala pedagogicamente. A juventude está muito mais ciente do seu protagonismo e, por outro lado, essa consciência vem carregada com um peso da individualidade e do mundo digital. Totalmente diferente do que quando começamos, mais românticos. Hoje em dia vemos pessoas com um misto de coragem e violência, adolescentes que ainda estão encontrando este caminho no meio. Uma sociedade liquida que hoje dá atenção a um assunto, que amanhã já não importa mais. Mas que precisa fixar seu aprendizado”.

Para o diretor e criador da escola, nem tudo foram flores nestes 24 anos de Oficina Social de Teatro.¨Tive um momento em que pensei que a filosofia da arte dramática estava se extinguindo, e vi que tínhamos que nos comprometer com uma pauta de renovação. Precisei estudar economia criativa, gestão de negócios, tudo para atualizar nosso desenvolvimento. Estamos destacando fatores que são importantes para a sociedade através do nosso trabalho, buscando inovar e dando espaço à criação. Hoje já temos mais políticas públicas para o setor do que no passado. A OST já foi numa casa em Icaraí, a aceitação da sociedade foi ótima. Hoje está instalada na Rua Saldanha Marinho, no Centro de Niterói”, comenta Demézio. “Criei meus métodos a partir da experiência pessoal -- e hoje vejo, com felicidade, ex-professores e atores ocupando espaços na CAL, na Martins Pena, com papeis na Globo, como aconteceu com o Amaury Lorenzo”, diz ele.

INCLUSÃO E DESENVOLVIMENTO PESSOAL

José Geraldo explica a diferença, em mais de duas décadas de formação de atores, dos tempos remotos para os dias de hoje. “Atualmente temos alunos autistas, trans e de todos os gêneros na escola. Nossas pautas são inclusivas e combatem todo tipo de exclusão. Então precisamos saber colaborar e dialogar com eles. Diante das controvérsias que aparecem no dia a dia através dos alunos, vemos que alguns não tem a presença da família, ou que tiveram o ego mimado demais por ela, e acham que sua palavra é a decisão final. E não é, é preciso saber conviver. Por isso temos que ter paciência e sensibilidade para entender que, às vezes, uma palavra mal colocada, é fruto desse atravessamento familiar ou social que o aluno esteja passando. Quando é assim, vamos aos poucos clarificando e fazendo planejamentos que os atendam ainda mais, como foi a caso da montagem de Cabaré que fizemos e que trazia cenas de ballroom”, explica o diretor.
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“Quero agradecer à Julia Pacheco, secretária das culturas de Niterói, e ao vereador Leonardo Giordano, pelo olhar dedicado à nossa OST. Nos reeducamos para a realidade das políticas públicas da cidade e nos ajustamos. Na pandemia fomos aprovados em dois editais, que ajudaram muito. E agora, pela Lei Paulo Gustavo, temos o Bolsa Oportunidade – que oferece algumas bolsas de estudo gratuitas para alunos que não possuem condições financeiras. Gostaria muito de seguir em frente com essa ideia. Assim, seguimos colocando muita gente no mercado. A OST tem de fato uma importância para a cidade e o setor”, finaliza José Geraldo.
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