Igor Sudano e Nicole Blass: ativistas LGBTQIAPN+ que resistem em NiteróiDivulgação
Publicado 26/08/2024 18:45 | Atualizado 27/08/2024 20:25
Niterói - A cidade de Niterói tem tradição e pioneirismo em inclusão da sociedade LGBTQIAPN+ em festas e eventos da noite. No final dos anos 80 viu nascer, no Cubango, o 'Bar da Déa ', dedicado às lésbicas e, eventualmente, com frequência gay masculina. Já nos anos 90 foi a cidade que recebeu público deste segmento em empreendimentos como a boate He Man, na Praça do Rink; e a famosa Vollupya, no Gragoatá. Anos depois surgiu o Bar Taska do Renato, depois renomeado de Tribus, na Cantareira.

Também fizeram parte da extinta 'noite gay' de Niterói as festas Lá Colocacion, e outras, geralmente promovidas por Nicole Blass ou Vlad Fernandes.

O público LGBTQIAPN+ (antigo público GLS, primeira sigla para denominar esse segmento da sociedade) hoje sente a carência de eventos e espaços dedicados a eles. Exceto quando a cidade apresenta monólogos teatrais de artistas provenientes justamente destas noites – como Suzy Brasil, por exemplo – só resta a este público a Parada Gay anual, na Praia de Icaraí.

Apesar disso, a cidade possui duas ONGs para defender e divulgar este segmento de pessoas. O GDN (Grupo Diversidade Niterói) foi fundado em 24/01/2004, é a ONG realizadora da Parada do Orgulho LGBT de Niterói, além de ser Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. Já o Grupo 7 Cores também colabora com a produção da Parada e diz ser uma organização civil, de âmbito nacional, sem fins lucrativos, apartidária e laica.

Além de ser a cidade da saudosa e inesquecível transformista, atriz e celebridade Rogéria, Niterói ficou conhecida em sua história recente através de um também saudoso homem gay que mudou a história do cinema no Brasil: Paulo Gustavo. E quem sempre representou muito bem esse assunto na cidade é a madrinha da parada gay, a transformista Fabiana Brazil.

O cantor, compositor, bodypiercer e criador de conteúdo digital Igor Sudano é não-binário e sente muita falta de opções na noite de Niterói. “Na cena LGBTQIAPN+, que em Niterói sempre foi referência, nos dias de hoje só se encontra um bar que se diz declaradamente gay, o Armazém 7. De resto, precisamos buscar lugares no Rio para nos sentirmos acolhidos”, explica.

De fato, Sudano tem razão. Lá os proprietários preferem contratar pessoas gays, para atender o público formado majoritariamente por universitários, que frequentam assiduamente o local, seus shows de drag, apresentações de DJs e karaokês.
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A Praça da Cantareira e o bar São Dom Dom são naturalmente amigáveis a esse público. Heterossexuais, bissexuais, drags, transformistas, agêneros e até pessoas não resolvidas sexualmente, de todas as idades, frequentam estes ambientes por absoluta falta de casas noturnas específicas. Outro lugar que se convencionou como 'point' da juventude gay da cidade foi o extinto Barkana, hoje Villa Barkana, que se transformou em um beco com karaokê e três bares, uma minipista de dança e a promessa de encontrar pessoas do seu segmento. Apesar da predominância de jovens, os 40+ também frequentam o local.

BARES E ESPAÇOS TRADICIONAIS

Quem busca um espaço diferente dos barzinhos com samba, DJ's, voz e violão ou a TV passando jogos de futebol, tem poucas opções. Bairros como Icaraí, Centro, Região Oceânica e Zona Norte não possuem referência de bar LGBTQIAPN+.

Existem espaços que, em uma pesquisa na internet, são fáceis de achar. Mas são locais de qualidade duvidosa, e a reportagem optou por não divulgar, já que não podem ser considerados como uma opção agradável para este público – cada vez mais empoderado e consumidor. São espaços frequentados por pessoas que não assumem oficialmente a sua sexualidade e, por isso, aceitam sair com outras pessoas casadas, que estão na cidade de passagem ou mesmo profissionais do sexo. Estes lugares estão espalhados no Centro.

REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA
Niterói, apesar de tanta vocação mal explorada para a cultura, o entretenimento e o turismo gay, possui um Guia de Diversidade LGBTQIAP+ no Setor Público – que busca oferecer aos servidores da Prefeitura Municipal de Niterói recomendações de práticas de gestão que fortaleçam a diversidade na administração pública. A cidade também possui o Conselho dos Direitos da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Município de Niterói (COMLGBTQIAP+) – órgão permanente, de caráter deliberativo, colegiado, de composição paritária, consultivo, propositivo e fiscalizador, cujo objetivo é elaborar, acompanhar, monitorar, fiscalizar e avaliar a execução de políticas públicas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais destinadas a assegurar a essa população o pleno exercício de sua cidadania. Ainda há o Coletivo LGBTQI+ UFF Niterói – um coletivo de alunos da Universidade Federal Fluminense com objetivo de acolher outros alunos LGBT e pensar soluções de enfrentamento aos desafios dos alunos.
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