Publicado 22/03/2023 19:29
Em meio ao cimento, tijolos, areia e demais materiais de construção presentes nas obras da Estação de Tratamento de Água Novo Guandu, em Nova Iguaçu, outro tipo de material vem sendo bastante usado também: o escolar. A Cedae vem realizando o projeto ‘Educação no Canteiro’, que já conta com 50 alunos em uma turma de ensino livre e alfabetização.
Arlindo Lopes dos Santos, de 64 anos, é um deles. Todo dia acorda cedo, toma um café, ganha um beijo da esposa, pega suas ferramentas e segue para o canteiro de obras. A rotina do pedreiro é a mesma há muito tempo, mas agora ganhou o adicional de separar cuidadosamente na maleta um espacinho para lápis, caderno e toda a sua vontade de aprender.
Já perdi muita coisa por falta de estudo e, tudo o que sei, vem da prática. Me formei em pedreiro praticando dentro da obra, e a educação que tenho, trago de casa. Para mim, é um grande orgulho participar dessa turma – conta Arlindo, visivelmente emocionado, e mostrando todo orgulhoso o papel em que conseguiu, finalmente, assinar seu nome”, disse.
Desenvolvido pela equipe de Trabalho Social da Cedae, o projeto fomenta a cidadania e incentiva o aprendizado dos funcionários, oferecendo aulas semanais, realizadas toda quinta-feira, das 18h às 21h, no refeitório do canteiro de obras. A grade do curso, que terá duração inicial de seis meses, oferece língua portuguesa, matemática, ciências naturais e humanas, além de temas relacionados às atividades profissionais, como cálculos e métricas.
O ensino, no entanto, é personalizado de acordo com o perfil de cada estudante, levando em consideração o grau de escolaridade. Os alunos que não concluíram o Ensino Fundamental e/ou Médio estão sendo preparados para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), em 2023.
Outro aluno, Genaíno Lucas bate no peito, aponta para o céu e agradece a Deus pela oportunidade que caiu em suas mãos calejadas de tanto serviço pesado. Com décadas de profissão, se tornou especialista em preparar as armações das estruturas de concreto dos canteiros de obras em que trabalhou. Mas só está concretizando o sonho de aprender a ler e escrever agora, aos 55 anos, dentro da sala de aula do Novo Guandu.
“Eu já sou alguém, mas eu quero ser alguém que sabe ler. Eu quero ler! Abandonei os estudos antes de concluir o Ensino Fundamental. Meu sonho é não depender de mais ninguém para fazer as coisas para mim. Por todos os empregos que passei, precisava que outros colegas preenchessem minhas fichas. A leitura vai me trazer alegria e independência. Quero poder mexer no meu celular sozinho, preencher meus documentos... É só o que me falta na vida, a outra metade eu já sei”, afirmou.
Responsável por devolver esse brilho a cada aluno, a professora e pedagoga Ilma Taranto é mais uma emocionada na sala de aula. Com vasta experiência na educação e na formação de pessoas, ela conta que esta é uma das funções mais gratificantes que já exerceu:
“Ensinar para aprender. É com esse lema de Paulo Freire que encaro a jornada na obra. Os trabalhadores daqui nos trazem aprendizados diários como seres humanos dispostos a aprender e abertos a expor suas fragilidades. É um imenso prazer fazer parte desta iniciativa brilhante, tenho uma satisfação enorme em compartilhar conhecimento com pessoas que querem expandir seus horizontes”, contou.
Novo Guandu
Para garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a Cedae iniciou a construção de uma nova Estação de Tratamento de Água (ETA): o Novo Guandu. Localizada em Nova Iguaçu, a ETA vai produzir mais 12 mil litros por segundo (l/s) de água, reforçando o abastecimento para mais de 3 milhões de pessoas.
O sistema contará com o maior reservatório da Cedae: o Novo Marapicu, capaz de armazenar 53 milhões de litros de água para atender Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita, Nilópolis, São João de Meriti, Queimados e Rio de Janeiro.
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