Rio - O sol escaldante não é suficiente para secar a lama deixada pelas chuvas torrenciais, tudo está molhado, mas falta água potável. Nas vilas sem pavimento, destruídas pelo conflito armado, as casas são habitadas por sombras e lembranças do que já foram. Por questões de segurança cerca de 10 mil pessoas concentram-se em uma área equivalente a seis campos de futebol, menos de 15m² para cada pessoa.
Neste espaço as pessoas vão comer, reorganizar os objetos resgatados, educar os filhos, restabelecer laços, fazer sua higiene pessoal, buscar emprego e formas de renda. Por um período indefinido, pessoas vão viver em densidades que chegam a 60 habitantes por km². Em contextos insalubres, inadequados para a habitação humana, sem rotas e acessos eficientes e longe de fontes de água, enfermidades como a cólera e outras doenças diarreicas se espalham como o fogo em um rastilho de pólvora.
O cenário descrito acima é típico da atuação de Médicos Sem Fronteiras (MSF), que trabalha nas situações mais adversas que se pode imaginar: catástrofes, epidemias, conflitos armados, desastres naturais e outras formas de restrição ao acesso a cuidados fundamentais de saúde. Atuar nestas situações exige assertividade, flexibilidade e resolutividade, pois não há tempo para tentar. Tudo precisa dar certo, cada erro pode significar mais mortes. E é por isso que MSF é, na atualidade, uma das maiores produtoras de tecnologias e métodos de trabalho revolucionários para situações de extrema vulnerabilidade. Um exemplo real é o enfrentamento da cólera, doença infecciosa que afeta mais de 4 milhões de pessoas por ano e que mata quase 150 mil pessoas todos os anos.
Os Centros de Tratamento de Cólera de MSF são hospitais de campanha com funcionamento ordenado e fluido. A organização vai da montagem ao uso eficiente do espaço, com leitos para internação, áreas de hidratação, zonas de desinfecção, tratamento de água e farmácia. MSF atende pessoas com cólera há mais de 30 anos, e um dos episódios mais recentes em que foi necessário aplicar esta experiência ocorreu durante os surtos da doença que se seguiram à passagem do ciclone Idai por Moçambique.
Já existe um enorme volume de informação acumulada e publicada sobre a cólera. Porém, esta doença, prevenível e tratável, já não devia concentrar tanto nossa atenção. O problema é que ela afeta apenas pessoas pobres e em situação de extrema vulnerabilidade. Sendo assim, não é interessante para a indústria farmacêutica e nem preocupa governantes de países economicamente desenvolvidos. A cólera mata, mas apenas pessoas muito pobres.
Já existe até uma vacina aprovada e em uso. Sua eficiência vem sendo comprovada desde 2005 em projetos de MSF e vários estudos já foram publicados. Os exemplos são impactantes: em abril de 2016 MSF vacinou 426.000 pessoas na Zâmbia, conseguindo conter uma epidemia que teria proporções catastróficas se não fosse abordada de forma precoce e preventiva.
O principal objetivo de Médicos Sem Fronteiras é levar assistência e cuidados de saúde a pessoas em grave risco e em clara situação de vulnerabilidade. Produzir conhecimento científico e acadêmico sobre isto é um motivo de orgulho e demonstra compromisso com àqueles que assistimos, mas também um importante lembrete de que, muitas vezes, a indústria farmacêutica e os grandes organismos de pesquisa só estão preocupados com o que pode reverter lucro financeiro.
Neste espaço as pessoas vão comer, reorganizar os objetos resgatados, educar os filhos, restabelecer laços, fazer sua higiene pessoal, buscar emprego e formas de renda. Por um período indefinido, pessoas vão viver em densidades que chegam a 60 habitantes por km². Em contextos insalubres, inadequados para a habitação humana, sem rotas e acessos eficientes e longe de fontes de água, enfermidades como a cólera e outras doenças diarreicas se espalham como o fogo em um rastilho de pólvora.
O cenário descrito acima é típico da atuação de Médicos Sem Fronteiras (MSF), que trabalha nas situações mais adversas que se pode imaginar: catástrofes, epidemias, conflitos armados, desastres naturais e outras formas de restrição ao acesso a cuidados fundamentais de saúde. Atuar nestas situações exige assertividade, flexibilidade e resolutividade, pois não há tempo para tentar. Tudo precisa dar certo, cada erro pode significar mais mortes. E é por isso que MSF é, na atualidade, uma das maiores produtoras de tecnologias e métodos de trabalho revolucionários para situações de extrema vulnerabilidade. Um exemplo real é o enfrentamento da cólera, doença infecciosa que afeta mais de 4 milhões de pessoas por ano e que mata quase 150 mil pessoas todos os anos.
Os Centros de Tratamento de Cólera de MSF são hospitais de campanha com funcionamento ordenado e fluido. A organização vai da montagem ao uso eficiente do espaço, com leitos para internação, áreas de hidratação, zonas de desinfecção, tratamento de água e farmácia. MSF atende pessoas com cólera há mais de 30 anos, e um dos episódios mais recentes em que foi necessário aplicar esta experiência ocorreu durante os surtos da doença que se seguiram à passagem do ciclone Idai por Moçambique.
Já existe um enorme volume de informação acumulada e publicada sobre a cólera. Porém, esta doença, prevenível e tratável, já não devia concentrar tanto nossa atenção. O problema é que ela afeta apenas pessoas pobres e em situação de extrema vulnerabilidade. Sendo assim, não é interessante para a indústria farmacêutica e nem preocupa governantes de países economicamente desenvolvidos. A cólera mata, mas apenas pessoas muito pobres.
Já existe até uma vacina aprovada e em uso. Sua eficiência vem sendo comprovada desde 2005 em projetos de MSF e vários estudos já foram publicados. Os exemplos são impactantes: em abril de 2016 MSF vacinou 426.000 pessoas na Zâmbia, conseguindo conter uma epidemia que teria proporções catastróficas se não fosse abordada de forma precoce e preventiva.
O principal objetivo de Médicos Sem Fronteiras é levar assistência e cuidados de saúde a pessoas em grave risco e em clara situação de vulnerabilidade. Produzir conhecimento científico e acadêmico sobre isto é um motivo de orgulho e demonstra compromisso com àqueles que assistimos, mas também um importante lembrete de que, muitas vezes, a indústria farmacêutica e os grandes organismos de pesquisa só estão preocupados com o que pode reverter lucro financeiro.
Rafael Sacramento infectologista de Médicos Sem Fronteiras
Comentários