Publicado 19/08/2019 03:00 | Atualizado 19/08/2019 14:29
Rio - "Não, não!" disse a Rainha. "Sentença, primeiro... veredito, depois."
"Ideia sem lógica!" disse Alice em voz alta. "A ideia de ter uma sentença primeiro!"
No célebre julgamento de Alice (no país sem tantas maravilhas assim), o comportamento de quem julga se aproxima, e muito, dos atuais julgamentos cibernéticos.
E o efeito disso está no atual cenário vivenciado por todos nós: nada é capaz de identificar o antídoto para o ódio. Não é à toa que doenças neurológicas, como a depressão, o transtorno de personalidade ou a própria síndrome de burnout, determinam o novo compasso doentio.
Por exemplo, a tentativa de se criminalizar uma festa de aniversário imputando aos seus responsáveis prática de crime racial, pelo simples fato de haver baianas, é o retrato disto. Hoje, julga-se sem saber o contexto, fala-se do que não se sabe e escreve-se sem entender a razão.
Há 50 anos, Nelson Rodrigues dizia que: “os idiotas perderam a modéstia”.
Nesses últimos tempos, em nome da sociedade civil “de bem”, da moral e dos bons costumes, buscou uma solução instantânea para as problemáticas sociais e para o mal já definido. E qual foi o seu remédio?
Um conhecido remédio, capaz de rotular e carimbar aquele que se pretende atingir: o crime, um antídoto não tão contemporâneo assim.
O Estado de Vigilância, sem a análise sincera da perspectiva denunciada por Pascal - de que os homens são atraídos a crer, não pelas provas, mas sim pelo atrativo - demonstra um campo fértil de pulverização do ódio.
Em épocas de superabundância, onde todos possuem opiniões para tudo, valeria maldizer as redes sociais, a super informação e a comunicação generalizada. Mas, não. Contra o inimigo virtual, só há um único caminho, pois, como um rato, ele atua nos subterrâneos, que se combate apenas com a higienização do conhecimento, da literatura e do convite ao debate prático. Afinal, “vulgar é o ler, raro é refletir”, ensinaria Ruy Barbosa.
A sociedade disciplinar de Foucault - feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas - não é mais a sociedade de hoje. Em seu lugar, há uma sociedade de academias fitness do não saber, materializado pelos pequenos acusadores por de trás dos teclados e pela predominância do culto aos personagens que predominam o discurso do não-ter-o-direito.
Equívocos não podem acontecer?
"Cortem a cabeça!" gritou a Rainha com toda a sua voz. Ninguém se moveu.
"Ideia sem lógica!" disse Alice em voz alta. "A ideia de ter uma sentença primeiro!"
No célebre julgamento de Alice (no país sem tantas maravilhas assim), o comportamento de quem julga se aproxima, e muito, dos atuais julgamentos cibernéticos.
E o efeito disso está no atual cenário vivenciado por todos nós: nada é capaz de identificar o antídoto para o ódio. Não é à toa que doenças neurológicas, como a depressão, o transtorno de personalidade ou a própria síndrome de burnout, determinam o novo compasso doentio.
Por exemplo, a tentativa de se criminalizar uma festa de aniversário imputando aos seus responsáveis prática de crime racial, pelo simples fato de haver baianas, é o retrato disto. Hoje, julga-se sem saber o contexto, fala-se do que não se sabe e escreve-se sem entender a razão.
Há 50 anos, Nelson Rodrigues dizia que: “os idiotas perderam a modéstia”.
Nesses últimos tempos, em nome da sociedade civil “de bem”, da moral e dos bons costumes, buscou uma solução instantânea para as problemáticas sociais e para o mal já definido. E qual foi o seu remédio?
Um conhecido remédio, capaz de rotular e carimbar aquele que se pretende atingir: o crime, um antídoto não tão contemporâneo assim.
O Estado de Vigilância, sem a análise sincera da perspectiva denunciada por Pascal - de que os homens são atraídos a crer, não pelas provas, mas sim pelo atrativo - demonstra um campo fértil de pulverização do ódio.
Em épocas de superabundância, onde todos possuem opiniões para tudo, valeria maldizer as redes sociais, a super informação e a comunicação generalizada. Mas, não. Contra o inimigo virtual, só há um único caminho, pois, como um rato, ele atua nos subterrâneos, que se combate apenas com a higienização do conhecimento, da literatura e do convite ao debate prático. Afinal, “vulgar é o ler, raro é refletir”, ensinaria Ruy Barbosa.
A sociedade disciplinar de Foucault - feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas - não é mais a sociedade de hoje. Em seu lugar, há uma sociedade de academias fitness do não saber, materializado pelos pequenos acusadores por de trás dos teclados e pela predominância do culto aos personagens que predominam o discurso do não-ter-o-direito.
Equívocos não podem acontecer?
"Cortem a cabeça!" gritou a Rainha com toda a sua voz. Ninguém se moveu.
Rafael Faria é advogado criminalista
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