Publicado 28/02/2022 17:33
Um dos aspectos curiosos da situação delicada que o Brasil vive é que, às vezes, o país parece virar as costas para investidores que poderiam ajudá-lo a sair da crise — e, com frequência, age como se desprezassem o dinheiro que eles podem injetar em negócios por aqui. O país precisa com urgência estimular a geração de empregos e aumentar a arrecadação de impostos com dinheiro novo — e não com o aumento da carga fiscal sobre os atuais contribuintes.
Num cenário como esse, a simples capacidade de investimento de algumas corporações globais já seria motivo suficiente para que elas recebessem do governo e dos legisladores brasileiros um tratamento mais atencioso. Um tratamento que, sem oferecer vantagens fiscais descabidas, criasse para elas um ambiente de negócios mais amigável.
Pelo mundo inteiro, existem grandes empresários, empresas e fundos com alta capacidade de investimentos que ainda não operam no Brasil e que podem ajudar — e muito — a dinamizar o mercado nacional. Mas que, pelo menos até aqui, têm se mantido a uma distância prudente do mercado local. São nomes ainda pouco conhecidos entre nós, mas que, analisadas suas trajetórias, podem significar um estímulo ao mercado brasileiro. Um desses empresários é Patrick Drahi — controlador da Altice, uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo.
Drahi tem 58 anos e, em 2019, despertou a curiosidade do mundo dos negócios ao adquirir por US$ 2,6 bilhões o controle da mais conhecida e bem reputada casa de leilões do mundo, a Sotherby’s, uma empresa de 275 anos de existência. Trata-se de um cidadão do mundo. Nascido na cidade de Casablanca tem, além do passaporte marroquino, nacionalidade israelense, francesa e portuguesa.
MÍDIA E TELECOMUNICAÇÕES
Com uma fortuna pessoal de US$ 6,8 bilhões de dólares, de acordo com a revista Forbes, Drahi é dono de uma constelação de empresas. A mais visível delas é a operadora de telecomunicações Altice, avaliada em US$ 7,3 bilhões. A companhia, que está entre as 20 maiores operadoras de telecomunicações do mundo — num ranking que inclui as gigantescas companhias americanas e chinesas — é resultado da aquisição e fusão de 20 operadoras de telecomunicações espalhadas por diversos países, sobretudo da Europa.
Todas essas empresas, no momento da aquisição, tinham em comum o fato de estarem atravessando momentos de dificuldades causados pela defasagem tecnológica e pelas dificuldades financeiras. Depois de passarem para suas mãos, elas recuperaram o vigor e voltaram a crescer. Um desses negócios envolveu o Brasil, mas não significou o desembarque de Drahi no país.
A Altice adquiriu em 2015 as ações que a brasileira Oi possuía da Portugal Telecom e, a partir daí, passou a investir ainda mais pesado no país europeu. Hoje, a companhia, que atua nas áreas de telecomunicações e de mídia, deixou os problemas para trás e voltou a crescer.
Essa é, por sinal, umas características de Drahi. Ao contrário de outros investidores, que adquirem empresas em dificuldades e, depois de recuperá-las, as vendem pela primeira oferta, ele as incorpora a seu império e lhes dá fôlego para voltar a crescer. Isso acontece na Europa e também nos Estados Unidos onde a Cablevision, uma empresa de TV a cabo que opera nas imediações de Nova York, depois de adquirida pela Altice, se firmou entre as 10 maiores operadoras de TV dos Estados Unidos.
É de empresas com esse perfil — ou seja, dispostas a fincar raízes nos lugares em que se instalam — que o Brasil necessita para superar suas dificuldades. Atrai-las e dar a elas boas condições de funcionamento (que, naturalmente, devem ser estendidas às organizações que já se encontram entre nós) é, mais do que a opção pelo caminho do crescimento. É, além disso, uma grande oportunidade.
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