Publicado 03/03/2022 06:00
Os dois maiores países da Europa estão em guerra e embora o confronto entre Rússia e Ucrânia possa parecer muito distante para nós no Brasil, afetará nosso cotidiano de muitos modos negativos, sobretudo pelo impacto na Economia, que já enfrenta momento ruim por causa da pandemia.
A Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo, gás natural e de produtos derivados deles, como fertilizantes. Os Estados Unidos e a União Europeia reagiram à invasão russa da Ucrânia aumentando as sanções econômicas contra o governo de Vladimir Putin, tornando mais difícil que a Rússia exporte suas mercadorias. Em consequência, houve aumento no preço do petróleo, que pela 1ª vez em quase dez anos ultrapassou US$100 por barril. O custo dos fertilizantes também deve subir.
O resultado é que veremos o impacto da guerra nas prateleiras dos supermercados e nos postos de gasolina brasileiros, com elevação dos preços dos alimentos e dos combustíveis – dois itens que já pesam muito no bolso da população e que estão no coração do crescimento da inflação desde o início da pandemia. São desdobramentos que agravarão os problemas nacionais em 2022, um ano marcado pelas expectativas de baixo crescimento econômico, aumento dos juros e dificuldades para conter a elevação dos preços.
As consequências para a Economia global podem ser muito piores dependendo das decisões diplomáticas dos próximos dias, sobretudo com a decisão dos Estados Unidos e da União Europeia de terem excluído a Rússia do sistema bancário internacional SWIFT, o que impedirá empresas e pessoas russas de realizar operações financeiras com outros países. Estimativas iniciais apontam que isso levaria a uma queda de 5% na Economia da Rússia, que já sofre os efeitos adversos das sanções e da pandemia.
O próprio cenário de incerteza com relação à guerra agrava a instabilidade dos mercados globais, com oscilações nas bolsas de valores e na cotação do dólar, à medida que os investidores procuram se adaptar às condições em transformação. Já houve cancelamentos expressivos de contratos internacionais de compra e venda de alimentos como trigo, em função das novas conjunturas.
A situação na Ucrânia é particularmente preocupante. A Economia do país passou por três recessões profundas desde a independência em 1991 e a renda nacional hoje é menor do que há 30 anos, e irá cair mais com a destruição da infraestrutura nos combates. É um contraste marcante com nações vizinhas, como a Polônia, cuja Economia triplicou no mesmo período. A combinação de guerra e pobreza levará a uma crise de refugiados, que a ONU avalia que pode chegar a cinco milhões, em uma população total de cerca 45 milhões. A catástrofe humanitária afetará toda a Europa.
São tempos duros. Enfrentamos a primeira pandemia em cem anos, e a primeira grande guerra na Europa em 30 anos, com tragédias que por vezes lembram os conflitos mundiais do século XX. Precisamos nos preparar para um ano difícil.
Maurício Santoro é doutor em Ciência Política pelo Iuperj, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)
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