Publicado 14/03/2022 06:00
Os tradicionais Cruzeiro Esporte Clube e Botafogo Futebol e Regatas venderam seus departamentos de futebol graças à nova lei das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF). O modelo de SAF escolhido pelos dois clubes (existem vários previstos na lei) foi o da venda de 90% das ações para um particular.
A partir da constituição da SAF, Cruzeiro EC e Botafogo FR ficam proibidos de montar equipes de futebol profissionais e surgem o Cruzeiro SA (ou Cruzeiro SAF) e o Botafogo SA (ou Botafogo SAF). Portanto, em termos de futebol, Cruzeiro Esporte Clube e Botafogo Futebol e Regatas deixam de existir, embora as novas empresas possam continuar usando nome, cores e símbolos dos antigos clubes, até que, por algum motivo, os donos resolvam os modificar ou a SAF deixe de existir.
A partir da constituição da SAF, Cruzeiro EC e Botafogo FR ficam proibidos de montar equipes de futebol profissionais e surgem o Cruzeiro SA (ou Cruzeiro SAF) e o Botafogo SA (ou Botafogo SAF). Portanto, em termos de futebol, Cruzeiro Esporte Clube e Botafogo Futebol e Regatas deixam de existir, embora as novas empresas possam continuar usando nome, cores e símbolos dos antigos clubes, até que, por algum motivo, os donos resolvam os modificar ou a SAF deixe de existir.
É de fato um alto preço a se pagar sem garantia de que isso redundará em sucesso para o time de futebol. O livro “O Mito do Clube Empresa”, do advogado Luciano Motta, que fez um detalhado estudo das experiências de Clube Empresa na Europa, revela que boa parte dos clubes que se transforma em empresas retorna, por diversos motivos, ao formato de clube.
O caso da Espanha é exemplar. A maioria dos times espanhóis é de empresários. Agora, adivinhem os dois que não são? Justamente Barcelona e Real Madrid, que juntos ganharam 16 dos últimos 20 títulos nacionais e são propriedades dos sócios, restando aos clubes-empresas o papel de coadjuvantes.
Outro aspecto é que onde existe a figura do “dono” acaba a democracia e impera uma monarquia absolutista e hereditária, como prova a declaração de Kim Lim, filha de Peter Lim, proprietário do espanhol Valencia (comprou 70% do clube). Em 2020, Kim Lim declarou, em meio à cobrança dos valencianos sobre o pífio desempenho do time: “O clube é nosso e podemos fazer o que quisermos e ninguém pode dizer nada", escreveu a herdeira nas redes sociais.
Aliás, uma das cenas mais constrangedoras do esporte nos últimos tempos foi assistir, em janeiro deste ano, uma torcida organizada do Cruzeiro, a mesma que exigiu a venda do futebol do clube ao Ronaldo Fenômeno, revoltada, exigindo explicação sobre a saída do goleiro Fábio: “Ronaldo, gordão, vem dar satisfação!”, gritavam. Estão gritando, e esperando satisfação, até agora.
Como prova o caso do meu Vasco e sua atual gestão, muitos clubes associativos enfrentam, de fato, problemas que são oriundos de graves erros e vícios de gestão, como corrupção, incompetência, golpes institucionais, etc., mas vender o time é uma falsa solução para estes problemas verdadeiros e atende a diversos interesses, nenhum deles os do torcedor, que com o modelo da SAF só vai poder, como as torcidas do Cruzeiro e do Valencia, ficar pateticamente cobrando “do gordão” ou da filha do dono uma satisfação que nunca virá.
Roberto Monteiro é advogado, ex-vereador da cidade do Rio de Janeiro, Benemérito do Club de Regatas Vasco da Gama.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.