Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação
Publicado 10/05/2022 05:00
Mais um ataque em escola nos deixou perplexos na semana passada. Um adolescente esfaqueou três colegas em um colégio municipal na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Graças à ação de um professor, que conseguiu intervir com uma cadeira e imobilizar o rapaz, o caso não terminou em tragédia. O agressor, de 14 anos, atacou duas colegas de classe pelas costas e um outro aluno da mesma turma que tentou defender uma delas. O jovem também acabou se ferindo. Todos foram hospitalizados, mas logo receberam alta.

O agressor foi levado para uma unidade psiquiátrica por apresentar um quadro de surto psicótico e deverá responder por fato análogo ao crime de tentativa de homicídio. A mãe do garoto informou na delegacia que o filho apresentava comportamento agressivo nos últimos tempos, sendo acompanhado por psicólogo e psiquiatra.

Mais uma vez nos vemos diante de um ataque que pode ter sido motivado por bullying, que são manifestações de violência física ou psicológica contra crianças e adolescentes.
Há uma ano, um rapaz matou a facadas três crianças e dois adultos em uma escola de Saudades, Santa Catarina. Em 2019, dois jovens mataram oito pessoas a tiros em escola de Suzano, próximo a São Paulo. Em 2011, um ataque bárbaro em Realengo, Rio de Janeiro, deixou 12 mortos. O assassino era um ex-aluno que teria sofrido bullying uma década antes.
Um estudo nos EUA, divulgado à época do Massacre de Realengo, revelou que o bullying motivou 87% de 66 ataques em escolas no mundo, entre 1955 e 2011. Notem que o tempo passa e o problema permanece atual.

Por que crianças e jovens cometem bullying? Existem falhas e omissões que levam a esse tipo de comportamento? As perguntas são muitas e é preciso enfrentar o debate, mesmo que se toque em feridas que não queremos mexer.

Os alvos preferidos são alunos que fazem parte de minorias. A discriminação, em geral, acontece em decorrência de orientação sexual, crença religiosa ou alguma característica física ou comportamental, como o excesso de timidez.

É preciso estar atento para perceber o bullying na escola porque muitas vezes o agressor age quando não tem ninguém por perto e a vítima pode se isolar. É possível identificá-lo observando alguns sinais e mudanças no comportamento do aluno, como tristeza e irritabilidade; medo de ir à escola; isolamento; perda de apetite e insônia.

Quando o problema é identificado, família e escola têm de atuar em conjunto para dar suporte emocional à vítima. É importante também conversar com o agressor, que pode estar agindo de maneira violenta para sinalizar algum problema pessoal que esteja vivendo, às vezes até de violência familiar.

O bullying não pode ser considerado algo sem relevância. Todo caso deve ser levado a sério porque traz inúmeras consequências negativas para a vítima e também para o agressor. Por fim, defendo que seja feito um trabalho preventivo com palestras e debates para conscientizar toda comunidade escolar.
Isa Colli é escritora e jornalista
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