Publicado 07/06/2022 06:00
Os resultados do relatório anual do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, iniciativa liderada pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1989, apontam que 21,6 mil hectares de florestas naturais foram desmatados no bioma em 2021. Foi um aumento estrondoso, com dados que voltam a ser muito preocupantes: são os mais altos desde 2015, 66% superiores aos de 2020 e 90% maiores do que os mais baixos da série histórica, alcançados em 2018.
As florestas perdidas lançaram 10,3 milhões de toneladas de CO² equivalente na atmosfera, o que acentua o aquecimento global e aumenta o risco de eventos climáticos extremos e desastres naturais que ameaçam a vida e a Economia. As tragédias de Petrópolis, Angra dos Reis e Paraty são testemunhas desta dura realidade.
O Rio de Janeiro chegou a ter somente 18hectares de desmatamento em 2018, o menor valor observado na série histórica do Atlas da Mata Atlântica. O estado estava se aproximando do fim absoluto do desmatamento, em uma rara situação no Brasil, mas os resultados dos últimos anos revertem uma trajetória conquistada a duras penas.
No Rio de Janeiro, também é muito crítica a pressão da expansão urbana por pequenos desmatamentos, o chamado “efeito formiga”. É importante lembrar que as cidades têm crescido com ocupações em regiões de alto risco de desastres, como morros, beiras de rios e no litoral. As mudanças climáticas resultarão em eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. Para o estado, isto significa tempestades e ressacas do mar cada vez mais fortes, com maiores riscos para as pessoas, destruição de moradias e prejuízos.
O controle do desmatamento e a restauração das florestas são medidas necessárias, além disso, também está provado que áreas verdes nas cidades melhoram a qualidade de vida da população, como é o caso da Floresta da Tijuca, na capital.
O fim imediato do desmatamento e a restauração da Mata Atlântica estão ao nosso alcance e são fundamentais para garantirmos serviços ecossistêmicos essenciais, como a provisão de água, alimentos e a regulação do clima. O respeito à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os primeiros passos, que podem ser turbinados pelo mercado de carbono.
Processos de licenciamento ambiental rigorosos também são fundamentais para garantir que novas obras e empreendimentos tenham seus riscos evitados e os seus impactos sociais e ambientais mitigados e compensados. A conservação das florestas é uma vocação e uma oportunidade para o Rio de Janeiro, estado que tem todo o seu território no bioma da Mata Atlântica.
A recuperação da Floresta da Tijuca no Império se tornou uma referência mundial e agora vivemos a Década da Restauração de Ecossistemas declarada pela ONU. Um estado que tem o privilégio de abrigar um dos litorais mais lindos do planeta, mangues, restingas, lagoas, florestas na costa e na serra só tem a ganhar com o fim do desmatamento e a recuperação da sua vegetação nativa.
Marcia Hirota é diretora-Executiva da Fundação SOS Mata Atlântica
Luís Fernando Guedes Pinto é diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica
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