Luiz Alberto Silva é diretor estadual de Articulação Política do Raízes (em construção) do Rio de Janeirodivulgação
Publicado 25/06/2022 06:00
O Brasil tem uma contradição fundamental em sua estrutura social: a presença de negros nas esferas de decisão. A população brasileira é formada por 56% de negros e negras. Porém, esse percentual não tem correspondência na formação da estrutura de poder. Exemplo disso é a configuração dos Congresso Nacional e do governo federal: a percentagem de negros e negras é irrisória.

Sou negro, ainda jovem, o trabalho me levou para diversos estados, conhecendo quase todo o Brasil. Não tenho pretensão de fazer uma redação técnica e detalhada sobre o que descobri através de minhas observações sobre tudo o que vi neste nesse país. Mas minhas experiências trazem resultados de constatações visuais e auditivas. Testemunhei em todas as regiões o racismo estrutural é como uma ferida não cicatrizada.

É uma "abolição inacabada"! Nas periferias e cidades metropolitanas constata-se que os negros e pardos são maioria em quase a totalidade das regiões e dos estados. Por outro lado, as imponentes empresas de grandes corporações, instituições de poder tanto no Legislativo quanto no Executivo e no Judiciário só vemos a supremacia branca. São raros os negros que ascendem a esses lugares. A sociedade brasileira foi estruturada por brancos europeus, portanto não é de se estranhar essa formação.

Os negros brasileiros quase que 90% vivem em condições de pobreza com pouco acesso aos bens de consumo, Educação e bases prioritárias. Em sua maioria dividem a menor parte da riqueza gerada pelo trabalhador. Também pudera, o Brasil foi o último país a libertar os negros escravizados. Os negros que vivem aqui em sua maioria descendem diretamente dos africanos escravizados.

Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, essa situação se explicita em todos os cantos do estado. As favelas e Região Metropolitana concentram esse perfil da população negra e marginalizada. Como reagir a isso? Não basta resistência, isso já fazemos desde que fomos sequestrados da África. O número de pessoas negras mortas por ações bélicas do estado é assustador. A polícia brasileira é a que mais mata, e também, a que mais morre.

Não basta viver das migalhas que o estado nos dá. Somos a maioria, mas não temos representação. Qual é o caminho ou caminhos a seguir? O número de negros que rompem os obstáculos que lhe são impostos é insignificante.

Temos pela frente uma importantíssima eleição. Uma eleição que tem como conjuntura política e característica principal um grande plebiscito: a escolha entre a democracia e o namoro com o nazi-fascismo. Como podemos modificar esta condição humilhante desumana que nós, o povo negro estamos vivendo com essa abolição inacabada? Na minha opinião existem várias ações a serem tomadas. Mas a estratégia inicial seria o aumento substancial de nossas representações.

Como isso pode se tornar realidade? Em primeiro lugar devemos fazer valer nossas vontades através de nossas representações tanto no Legislativo quanto no Executivo. Nas próximas eleições devemos iniciar essa revolução. Todo povo negro deve refletir: o que é urgente em 2022? Votar em candidatos e candidatas negras em todas as instâncias.

Ouviremos: Voto não tem cor! Isso é racismo reverso! Vocês estão de mimimi! Enfim…tudo aquilo que já ouvimos desde sempre. Não dá mais para viver de uma espera de reparação. Com esse poder formado por maioria branca, o máximo que conseguiremos conquistar é uma referência em algum discurso de branco.

O Brasil nunca será uma nação livre, se não conquistar a liberdade de seu povo que é, povo esse que é majoritariamente formada por pretos e pretas. Responderemos nas urnas! Negros e negras, brancos e brancas antirracistas votam em negros e negras!
Luiz Alberto Silva é diretor estadual de Articulação Política do Raízes (em construção) do Rio de Janeiro.
 
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