Publicado 14/07/2022 00:00
Foi Chico Buarque quem disse: “Elizeth é a nossa cantora mais amada. Voz de mãe, mãe de todas as cantoras do Brasil”. O que o Chico fala ou escreve não se discute, e quem já ouviu a Divina, uma vez que seja na vida, sabe exatamente o que o poeta quis dizer. A mãe de todas as cantoras do Brasil cantou para nós por mais de 50 anos. Dos primeiros acordes na Rádio Guanabara, em 1936 (descoberta por Jacob do Bandolim), aos últimos acordes de seu coração, em 1990.
Nascida em 1920 (dia 16 de julho), no Rio de Janeiro, este mês ela faria 102 anos. A menina de infância pobre e adolescência humilde, trabalhou como pedicure, cabeleleira, telefonista e vendedora de cigarros. Mais tarde, depois de um casamento equivocado e um filho para criar, foi táxi-girl de casa noturna (o Dancing Avenida). Tudo isto, antes do transcendental encontro com Jacob e dos desdobramentos felizes que o destino lhe trouxe: conhecer o poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho, que a dirigiu em
shows, a ajudou a escolher repertório, cuidou de sua carreira e de seu coração.
shows, a ajudou a escolher repertório, cuidou de sua carreira e de seu coração.
Tudo isto e muito mais encontra-se , com direito à voz, aos suspiros e depoimentos da cantora, na última homenagem que o mercado fonográfico lhe prestou: a caixa de CDs “Faxineira das Canções” (nome de uma linda música de Joyce, gravada por Elizeth no disco “Luz e Esplendor”, de 1989), que a gravadora Biscoito Fino lançou há quase 20 anos. Traz quatro álbuns fundamentais dessa que é uma das maiores cantoras
brasileiras de todos os tempos: além de Luz e Esplendor, tem Todo o Sentimento (de 1990), Ary Amoroso (1990) e Elizeth/Jacob do Bandolim/Zimbo Trio/Época de Ouro (1969).
brasileiras de todos os tempos: além de Luz e Esplendor, tem Todo o Sentimento (de 1990), Ary Amoroso (1990) e Elizeth/Jacob do Bandolim/Zimbo Trio/Época de Ouro (1969).
Tá tudo lá. Corram atrás, pois com sorte talvez ainda se encontre. Até o dia 7 de maio de 1990, quando o coração inquieto da doce cigarra parou de bater, Elizeth Cardoso cantou, encantou, despertou emoções e paixões. A mais insistente teria sido o poeta Vinicius de Moraes. Conta Hermínio, em texto de apresentação da obra, que “Elizeth andava perdendo a paciência com o assédio (por parte de Vinicius) e apelou para seu amigo Antônio Maria. O poeta cismara de dormir com ela. As cantadas se sucediam, e ela firme nas negativas. O bom Maria deu a dica para a amiga: “Quando ele der de novo em cima de você, diga assim, na lata: então tem que ser agora”! Dito e feito. Vinicius amarelou, pediu um uisquinho, mudou o rumo da
conversa – e a amizade nunca acabou sob os lençóis”.
conversa – e a amizade nunca acabou sob os lençóis”.
Nas quatro preciosas coletâneas reunidas em “Faxineira das canções”, temos Elizeth Cardoso cantando os melhores momentos da música brasileira, sem qualquer exagero. Não recebeu o título informal de “divina” (honraria concedida também a Cartola, o Divino) à toa: ela interpretou divinamente momentos fundamentais do nosso cancioneiro e contribuiu para o reconhecimento internacional da música brasileira.
Elizeth é a MPB em estado puro. Viva ela, no ano dos seus 102 anos e para sempre.
Elizeth é a MPB em estado puro. Viva ela, no ano dos seus 102 anos e para sempre.
*Luís Pimentel é jornalista e escritor
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