Publicado 14/07/2022 00:00
Depois de décadas voltamos a figurar no mapa da fome da Organização das Nações Unidas. Segundo o relatório da entidade, mais de 60 milhões de brasileiros estão na situação de insegurança alimentar, dependendo de doações e na miséria. Paralelamente a isso, o próprio levantamento aponta aumento de mais de 20% dos crimes famélicos, ou seja, pessoas cometendo delitos para comer. É a fome levando o indivíduo ao extremo, pois sem o básico o cidadão fica vulnerável, perde sua dignidade e muitas vezes o censo de razoabilidade.
São inúmeros os fatores que levaram o país de volta a essa condição, dentre elas o efeito pandemia que impactou o mundo todo e aqui no Brasil quase dobrou o número de brasileiros sem ter o que comer. No entanto, como há décadas patinamos quanto ao desenvolvimento e crescimento, aparentemente, nos acostumamos a ser o país do futuro, um futuro que nunca chega. Na verdade, até chega, mas trazendo as mesmas notícias. Como cantou Cazuza: “...eu vejo o futuro repetir o passado...”.
Houve também um aumento de moradores de rua, com famílias completas que, sem renda, não tiveram outra opção a não ser ir para a rua. Situação crítica que precisa ser vista e revista pelos mandatários das três esferas de governo. Em verdade, estamos empobrecendo e as perspectivas não são as melhores, pois, segundo especialistas, o impacto somente desses dois últimos anos de pandemia ainda será sentido nos próximos três ou quatro anos.
O cenário hoje é de muita gente em busca de alimento para os filhos, brigando por ossos e retalhos de gordura de carne doados em açougues e mercados. Nos centros de distribuição e feiras livres não são poucas as famílias disputando os restos de verduras, legumes e frutas.
E com toda essa desigualdade social se agrava o quadro de violência. O maior número de homicídios se concentra em bairros pobres, atingindo em maior proporção esse grupo social. A situação é ainda mais preocupante quando associamos a desigualdade e o racismo. A possibilidade de um jovem negro morrer vítima de homicídio é 23,5% maior que a de um jovem branco. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, cerca de 70 são negras.
Segundo estatísticas, a violência no Brasil é um problema estrutural de nossa sociedade e gera medo na população. A fome fomenta a indignação e o desespero. Tudo isso somado à falência e corrupção das instituições públicas, principalmente nas áreas da educação, saúde e segurança, se torna um cenário propício para uma tragédia anunciada.
*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
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