Publicado 04/08/2022 00:00
A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla acontece de 21 a 28 de agosto. Acredito ser um bom momento para esta reflexão que farei. Perguntaram-me certa vez se a sociedade brasileira ainda invisibiliza as pessoas com deficiência em geral e por que isso acontece. Acredito que a culpa seja de nós mesmos. Inspirados no movimento americano, aqui no Brasil tivemos um grande momento nos anos 70 e 80. Houve uma unificação de todas as representações das mais variadas deficiências. Nessa união, eles realizaram congressos nacionais, ganharam atenção e destaques na mídia. Conquistaram legislações específicas no âmbito municipal, estadual e federal e artigos na Constituição de 1988.
Dentro desse movimento começou a ter muitas discussões, algumas representações achando que tinha mais direitos e prioridades do que as outras. Com isso, foi tudo rachando, cada representação seguindo caminhos e pautas de reinvindicações diferentes.
Pulando para hoje, todos esses movimentos de inclusão são fundamentais e válidos, mas sobrevivem em pequenas bolhas. Não temos mais uma forte representação nacional para marcar presença e ser visíveis na sociedade e nos meios de comunicação.
A maioria das questões que envolvem essas pessoas têm origens culturais, vistas ao longo dos séculos como maldição ou como coitadinhos e incapazes, eternos dependentes de ajudas. Em meu segundo doutorado analisei as PcDs desde o início da Bíblia. interessante notar que no Velho Testamento éramos associados à maldição e castigos divinos. No Novo Testamento, com
a vinda de Jesus, parece que a gente ganhou alma, mas passamos a ser fortemente associados
a caridade, a piedade, ao assistencialismo. Essa imagem começou a mudar justamente com os
movimentos que citei acima, o novo conceito de Inclusão nos anos 1990 e da Educação Inclusiva.
a vinda de Jesus, parece que a gente ganhou alma, mas passamos a ser fortemente associados
a caridade, a piedade, ao assistencialismo. Essa imagem começou a mudar justamente com os
movimentos que citei acima, o novo conceito de Inclusão nos anos 1990 e da Educação Inclusiva.
Continuo dizendo que são bolhas. Precisamos de uma união nacional fortalecida para ganharmos mais representatividade social. Por exemplo, hoje os meios de comunicação citam minorias, falam das pessoas homoafetivas, movimentos antirracistas, violência e direitos das mulheres, dentre outras pautas que acho fundamentais para a atualidade. Mas, fora em matérias realmente específicas, as pessoas com deficiência, principalmente as intelectuais ou múltiplas, raramente são citadas justamente por não termos mais uma representatividade e uma voz nacional.
*Emílio Figueira é psicólogo e psicanalista
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