Júlio Furtado é professor e escritorDivulgação
Publicado 15/08/2022 06:00
Há tempos ouvimos que o papel do professor não é ensinar, mas facilitar a aprendizagem. Essa tarefa depende, essencialmente, da capacidade de ver o mundo através dos olhos de nossos alunos. Facilitar a aprendizagem é uma atitude que depende da compreensão sobre como o outro funciona, como ele percebe, elabora e representa o mundo.
É necessário que nós, professores, “vistamos” a realidade dos nossos alunos. Essa habilidade é fundamental para que possamos realizar a mediação didática que significa “traduzir” o conteúdo para que o aluno possa aprendê-lo.
Esse movimento de “conhecer” o mundo do aluno precisa ser feito sem que abandonemos o nosso mundo, sob pena de perdermos nosso referencial didático. A isso chamamos empatia, a habilidade de ver com os olhos do outro, sem perder os referenciais do nosso olhar. Empatia é a capacidade de percebermos o mundo o mais próximo possível da maneira como os outros percebem.
Paulo Freire afirma que o professor precisa “pegar os olhos do aluno emprestados” para que ele possa perceber de fato com que realidade ele está interagindo. Na medida em que “pegamos os olhos do outro emprestados”, compreendemos melhor suas opiniões e avaliamos melhor a pessoa, a coisa, o fato ou a relação presentes no assunto que está sendo ensinado.
É dessa forma que ampliamos o sentido que damos à realidade e é essa a essência do crescimento humano: ampliar e aprofundar, cada vez mais, o sentido que temos do mundo. Quanto mais incluímos novos significados a nossa forma de ver o mundo, mais “inclusiva” se torna a nossa percepção e mais empáticos nos tornamos.
A aprendizagem depende diretamente desse processo de “inclusão perceptiva” e o papel do professor é facilitar esse processo. Enxergamos a realidade de formas diferentes por causa do nosso “filtro perceptual”. Ele é composto de nossos valores e nossas crenças, adquiridos através de nossas experiências, que são fruto da forma através da qual interagimos com pessoas, coisas, fatos e relações ao longo da nossa vida. O filtro perceptual é a nossa digital, é a nossa forma individual de ver a realidade, que revela os nossos paradigmas.
Ser empático é atitude essencial para que possamos proporcionar uma reconstrução coletiva do conhecimento e minimizar os ruídos que possam ocorrer na relação professor-aluno-conhecimento.
Júlio Furtado é professor e escritor
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