Publicado 29/08/2022 06:00
Os avanços para o tratamento de tumores de mama foram o destaque na 58ª edição da ASCO, maior evento da oncologia mundial promovido pela American Society of Clinical Oncology que aconteceu Estados Unidos. No Brasil, surgem 66 mil novos casos por ano e quase 18 mil mulheres morrem vítimas da doença.
Os cânceres de mama podem ser divididos em três grandes grupos. O primeiro, com cerca de 70% dos casos, apresenta receptores de hormônio feminino em sua superfície, que estimulam o crescimento tumoral.
O segundo grupo, formado por cerca de 15% das pacientes, abarca um tipo de tumor conhecido com HER2-positivo, uma proteína que quando superexposta é a principal via de proliferação tumoral.
O último grupo, que afeta cerca de 15% das pacientes, não expressa receptores de hormônios feminino nem da proteína HER2, e são conhecidos como tumores triplo negativos.
O último grupo, que afeta cerca de 15% das pacientes, não expressa receptores de hormônios feminino nem da proteína HER2, e são conhecidos como tumores triplo negativos.
Estes três grupos de tumores são tratados inicialmente com bloqueio hormonal, bloqueio anti-HER2 e quimioterapia, respectivamente. No entanto, a ASCO 22 veio para chacoalhar este entendimento clássico.
A grande revolução veio com o Trastuzumabe-Deruxtecan, medicamento produzido para tratar pacientes com a doença HER2 positivo. Ao ser infundida, a droga é internalizada pela célula tumoral e libera a quimioterapia extremamente potente, que mata instantaneamente a célula alvo e as células tumorais vizinhas, como um verdadeiro Cavalo de Tróia. O Trastuzumabe-Deruxtecan já está disponível no Brasil e é utilizado como tratamento padrão em tumores com carga alta de receptores HER2+.
Agora, essa droga poderá ser usada também em pacientes HER2 negativo, ampliando seu poder de alcance de 15% para 60% de todas as pacientes com tumores de mama.
Outro caminho promissor apresentado foi a pesquisa que abordou a utilização de uma “biópsia líquida” que, graças aos avanços tecnológicos laboratoriais, detecta o DNA da célula tumoral com uma simples amostra sanguínea da paciente. Quando chegar à prática clínica diária nos consultórios, a técnica promoverá a personalização do tratamento do câncer de mama.
O estudo coreano ASTTRA, por exemplo, propõe a combinação entre medicação para “adormecer” os ovários por dois anos, associado a uma medicação oral para bloqueio hormonal periférico por cinco anos. Conclusão: resultados excelentes com taxas de cura acima de 90%.
Para os casos metastáticos da doença, o destaque foi para o Capivasertibe, medicamento que, associado ao tratamento hormonal padrão, atua nas vias de resistência da célula tumoral, agindo contra o tratamento anti-hormônio padrão, com ganho de sobrevida de cerca de 40% das pacientes. Esta droga ainda não está disponível no Brasil, mas acreditamos que chegue em breve.
A comunidade médica, a sociedade e as autoridades precisam unir esforços para que os resultados cheguem aos consultórios médicos e possam beneficiar o maior número de mulheres no Brasil e no mundo.
Pedro Exman é médico oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
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