Publicado 30/08/2022 06:00
O garimpo ilegal no Brasil acontece principalmente na área da Floresta Amazônica e nos estados da Amazônia Legal, que extrapola a Região Norte e incorpora a Região Centro-Oeste. Recentemente, a invasão a céu aberto se intensificou nos Rios Madeira, Tapajós e nas praias de Alter do Chão no estado do Pará. É uma invasão "quase oficial", para que as atividades de garimpo facilitem o desmatamento e as queimadas da floresta.
Com o garimpo ilegal, essas terras são ocupadas por migrantes da miséria e/ou viram pastagens de gado bovino e outras ocupações populacionais transgressoras. É uma nova corrida em direção a Amazônia, como nos anos 1970 do século 20.
Em relação a esse novo ciclo de garimpo ilegal, faço um alerta, pensando em Dom Phillips e Bruno Pereira, assassinados na região. Com muita dor, faço nesse artigo uma homenagem a Dom Phillips, meu amigo por muitos anos.
Há uma conexão do garimpo ilegal que acontece nos estados da Região Norte e na área da Amazônia Legal em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás a atividades criminosas do chamado crime organizado, das facções criminosas que têm seu epicentro nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de uma poderosa "facção regional", a "Família do Norte".
A facção de São Paulo é o PCC, Primeiro Comando da Capital, as facções do Rio de Janeiro são o comando vermelho/CV e o TCP - Terceiro Comando Puro. Existe uma disputa pelo controle dos garimpos ilegais entre o CV, o PCC paulista e a "Família do Norte", organização criminosa regional aliada ao TCP.
Essa conexão é pouco falada nos muitos artigos e mídias quando se fala do garimpo ilegal na Amazônia como uma ação de desmatamento, poluição e contaminação dos rios. Mas existe algo a mais, que é a conexão dos grupos de garimpeiros com o comércio de cocaína, maconha, drogas sintéticas, armas, com a lavagem de dinheiro e todos os outros tipos de atividades ilícitas como prostituição e tráfico de seres humanos. Essas atividades ilícitas estão sob o comando do CV, do PCC, da Família Norte.
Faço esse alerta pois essa era uma das linhas de investigação do jornalista inglês/carioca/baiano Dom Phillips. Essa perspectiva é pouco mencionada quando se fala no garimpo ilegal na Região Amazônica, na Região da Amazônia Legal.
Também andei trocando ideias com o professor da COPPE/UFRJ Sidney Lianza e lendo e ouvindo com atenção a professora Ivana Bentes, pró-reitora de extensão da UFRJ, nascida no Acre, sobre o movimento FOSPA, de estratégias e metodologias panamazônicas, e como a panamazônia é um engajamento internacional, um vetor jornalístico, ético, político, científico para a justiça social e ambiental da Região Norte e da Amazônia Legal, que detecta as aderências entre garimpo ilegal na região norte e na Amazônia Legal com as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e suas "máfias/facções/milícias".
O garimpo ilegal não é só uma questão ambiental, ecológica, é principalmente uma questão vinculada à segurança pública, à criminalidade com comando nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Paulo Baía é sociólogo, cientista político, técnico em estatística e professor da UFRJ.
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