Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação
Publicado 05/09/2022 05:00
Foi-se o tempo em que o Brasil, e certamente outros países de cultura ocidental, tinha uma seleção de homens que exerciam a política com habilidade, sensibilidade e espírito público. Entre os quais, militares consagrados nas urnas. No caso do Rio de Janeiro, nos anos 1950, no antigo Distrito Federal, foram
eleitos senadores os generais Napoleão de Alencastro Guimarães, Gilberto Marinho e Caiado de Castro.
Gilberto teve dois mandatos e presidiu o Senado e Caiado foi chefe da Casa Militar de Vargas e homem de tal dimensão ética que apoiou, em 1955, a candidatura de Adhemar de Barros a presidente da República por saber que existia este compromisso e a intenção por parte do presidente. Aliás, outro homem ligado a Vargas, deputado pelo Rio, Danton Coelho, pelo mesmo motivo, foi vice na chapa do político paulista.
Minas Gerais ficou marcada pela escola da habilidade, elegância e correção na articulação política. Desde o mais notável de todos, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, a Francisco Negrão de Lima, o articulador do Estado Novo junto aos governadores, além da escola pessedista de José Maria Alkmin, Tancredo Neves, Pio Canedo, Benedito Valadares, e da militância da UDN de José Aparecido de Oliveira, Oscar Dias Correia, Magalhães Pinto, Hélio Garcia e Aureliano Chaves, entre outros.
Os políticos eram adversários e não inimigos, havia respeito, como na amizade que ligava Pedro Aleixo, udenista de referência, aos pessedistas JK e Negrão de Lima. Nosso Congresso sempre contou com ilustres intelectuais, alguns até membros da Academia Brasileira de Letras (ABL), como Menotti Del Picchia, Plínio Salgado, Marco Maciel, José Sarney, Roberto Campos, Assis Chateaubriand e Luís Viana Filho, Carlos
Lacerda, Jorge Amado entre outros.
Hoje o panorama é muito pobre. Não se faz política com os mesmos padrões de comportamento e os militantes das diferentes correntes partidárias ou ideológicas estão distantes do respeito e do diálogo que uma saudável democracia pede. E mais, a presença inusitada do Judiciário na política e na agressão ao mais
legítimo direito do cidadão, que é ter opinião e respeito à privacidade de suas conversas pessoais.
Vivemos um momento preocupante, em que é perigoso comentar fatos que pertencem à história recente, de mais de meio século. O direito de opinar fica restrito ao pensamento de alguns magistrados, que julgam fatos e opiniões que podem ser elogiados ou não. No regime militar nunca ocorreu violência e invasão de privacidade como está ignominiosa prisão de empresários. E, é bom lembrar, quem cala consente.
Princípios de respeito, isenção nas avaliações e análises nas diferentes mídias são coisas do passado, assim como inviolabilidade de correspondência, inclusive telefones. A intolerância campeia, sendo lamentável nos segmentos da população e condenável nas instituições que deveriam preservar valores democráticos, em que o direito de opinar é o primeiro requisito.
Falta classe, respeito à democracia, cordialidade e compostura. É um poder moderador mais participativo. Talvez por isso tudo cresce em todo país, e entre jovens, os movimentos monárquicos.
Aristóteles Drummond é jornalista
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