Publicado 01/09/2022 06:00
As propostas de estabelecimento das datas nacionais comemorativas para além de ter uma ação de avivamento social também têm como função proporcionar reflexões sobre os processos históricos, até o momento em que a data passa a ser o marco no calendário nacional. Assim, cá do meu canto, enquanto professor e também sacerdote das religiões de matrizes africanas e do culto de ifá, recebo e vejo o estabelecimento do Dia do Zé Pelintra, aprovada pela Câmara Municipal do Rio e a ser comemorado anualmente no dia 7 de julho, como um dos marcos das nossas resistências cotidianas contra a intolerância religiosa no Brasil e o principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
Uma resistência e também um contraponto às outras datas de festividades religiosas que já foram incorporadas nos calendários nacional, estadual e municipal. Seu Zé, como é conhecido pelos adeptos das religiões de matrizes africanas, é uma entidade que rememora a boemia carioca em seu estilo e gingado. Mesmo tendo uma ligação com as devoções umbandistas, a figura de Zé Pelintra está presente nas culturas popular social brasileira e permeia os imaginários religiosos, não religiosos e culturais.
Ora, não podemos nos esquecer da presença e a representação da entidade no samba, no Carnaval e principalmente nas letras dos sambas enredo que, no ano de 2022, levaram para a avenida as entidades e os encantados das religiões de matrizes africanas, e questionaram às autoridades públicas sobre a falta de promoção da liberdade religiosa e a necessidade de valorizar as culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas. Em si, reflexões pontuais sobre os marginalizados sociais, o preconceito, a importância das religiões de matrizes africanas como veículo de construção das nossas identidades nacionais. Temas que vem cada vez mais fortalecendo as nossas resistências cotidianas e alimentando as nossas lutas coletivas.
Entretanto, precisamos pontuar que muito embora a popularização da figura do Zé Pelintra esteja associada e, de uma certa forma, incorporada à cultura carioca, a entidade religiosa tem como origem a Região Nordeste do nosso país ligada ao 'Catimbó', ou Jurema de Terreiro. E é ‘nos’ e ‘dos’ encontros e reorganizações dos sistemas religiosos brasileiros que a figura do Seu Zé surgiu na Região Sudeste do brasileiro entrelaçados às culturas populares, às tradições e vivências periféricas que reconfiguram o cenário social nacional e regional.
Mas não podemos nos esquecer que ainda atravessamos um momento extremamente difícil com o grande crescimento dos casos de intolerância religiosa no Brasil, principalmente contra os adeptos das religiões de matrizes africanas. Segundo os dados estatísticos do Instituto de Segurança Pública (ISP), no ano de 2021 o Estado do Rio registrou aumento de 11,7% em relação aos casos gerais de intolerância religiosa no ano de 2020. Pelos dados, foram 1.564 ocorrências, contra 1.400 nos 12 meses anteriores.
Esses números revelam não só o crescimento das violências, intolerância religiosa, como também nos deixam pistas para os descasos das autoridades públicas e a insuficiência de políticas que possam, de uma certa forma, promover a tolerância o respeito e a equidade religiosa, por isso é de suma importância enfatizarmos que o Estado é laico. Assim, a data de Zé Pelintra para além de ser um dos marcos das nossas resistências também é o nosso processo de reescrever as nossas histórias. Salve Zé Pelintra!
Uma resistência e também um contraponto às outras datas de festividades religiosas que já foram incorporadas nos calendários nacional, estadual e municipal. Seu Zé, como é conhecido pelos adeptos das religiões de matrizes africanas, é uma entidade que rememora a boemia carioca em seu estilo e gingado. Mesmo tendo uma ligação com as devoções umbandistas, a figura de Zé Pelintra está presente nas culturas popular social brasileira e permeia os imaginários religiosos, não religiosos e culturais.
Ora, não podemos nos esquecer da presença e a representação da entidade no samba, no Carnaval e principalmente nas letras dos sambas enredo que, no ano de 2022, levaram para a avenida as entidades e os encantados das religiões de matrizes africanas, e questionaram às autoridades públicas sobre a falta de promoção da liberdade religiosa e a necessidade de valorizar as culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas. Em si, reflexões pontuais sobre os marginalizados sociais, o preconceito, a importância das religiões de matrizes africanas como veículo de construção das nossas identidades nacionais. Temas que vem cada vez mais fortalecendo as nossas resistências cotidianas e alimentando as nossas lutas coletivas.
Entretanto, precisamos pontuar que muito embora a popularização da figura do Zé Pelintra esteja associada e, de uma certa forma, incorporada à cultura carioca, a entidade religiosa tem como origem a Região Nordeste do nosso país ligada ao 'Catimbó', ou Jurema de Terreiro. E é ‘nos’ e ‘dos’ encontros e reorganizações dos sistemas religiosos brasileiros que a figura do Seu Zé surgiu na Região Sudeste do brasileiro entrelaçados às culturas populares, às tradições e vivências periféricas que reconfiguram o cenário social nacional e regional.
Mas não podemos nos esquecer que ainda atravessamos um momento extremamente difícil com o grande crescimento dos casos de intolerância religiosa no Brasil, principalmente contra os adeptos das religiões de matrizes africanas. Segundo os dados estatísticos do Instituto de Segurança Pública (ISP), no ano de 2021 o Estado do Rio registrou aumento de 11,7% em relação aos casos gerais de intolerância religiosa no ano de 2020. Pelos dados, foram 1.564 ocorrências, contra 1.400 nos 12 meses anteriores.
Esses números revelam não só o crescimento das violências, intolerância religiosa, como também nos deixam pistas para os descasos das autoridades públicas e a insuficiência de políticas que possam, de uma certa forma, promover a tolerância o respeito e a equidade religiosa, por isso é de suma importância enfatizarmos que o Estado é laico. Assim, a data de Zé Pelintra para além de ser um dos marcos das nossas resistências também é o nosso processo de reescrever as nossas histórias. Salve Zé Pelintra!
Ivanir dos Santos - Babalawô Ivanir dos Santos é professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela UFRJ (PPGHC/UFRJ)
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